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O ano de 2024 marca o 150º aniversário do nascimento do mestre uruguaio Joaquín Torres García (1874-1949). A temporada de homenagens começou com a abertura da exposição “El descubrimiento de sí mismo” (“A descoberta de si mesmo”), dedicada ao artista criador do Universalismo Construtivo, no Museo de Arte Contemporáneo Atchugarry (MACA), em Punta del Este. As celebrações continuarão durante todo o ano em ambas as margens do Rio da Prata.

“ Torres García é provavelmente um dos artistas mais célebres da arte moderna latino-americana, participando na primeira abstração de vanguarda na Europa e propondo o universalismo construtivo como um movimento artístico original na sua famosa afirmação de que ‘o nosso Norte é o Sul’”, afirmam as curadoras Aimé Iglesias Lukin e Cecilia Rabossi em um texto no catálogo da mostra.

— Além do seu trabalho no domínio da pintura e das artes plásticas, ele sempre refletiu e escreveu. Desde muito cedo, se interessou também pela pedagogia, pelo ensino e pela ligação com os outros, mostrando a sua inclinação para agregar pessoas ao longo da sua vida — comenta Rabossi.

Obra "New York Street", de Joaquin Torres Garcia (1874-1949) — Foto: Reprodução
Obra "New York Street", de Joaquin Torres Garcia (1874-1949) — Foto: Reprodução

Esta exposição em Punta del Este é o pontapé inicial de um ano que promete importantes homenagens no Uruguai, com exposições no Museo Torres García, no Museo Nacional de Artes Visuales, no Museo Juan José Blanes e no Museo Fígari, todos em Montevidéu. A Argentina se juntará às celebrações com uma exposição no Museu Nacional de Belas Artes, em Buenos Aires.

Viagens formadoras

De pai catalão e mãe uruguaia, Joaquín Torres García nasceu em 28 de julho de 1874 em Montevidéu e morreu a 8 de agosto de 1949 na mesma cidade, com 75 anos. Cresceu nos arredores de Montevidéu, onde viveu até 1891, ano em que emigrou com a família para Barcelona. Esta primeira viagem foi o início de muitas outras que se seguiram durante mais de metade da sua vida, antes de regressar à sua terra natal, onde selaria o legado visual e intelectual que o faria transcender como personalidade de grande relevância para a História da arte mundial.

A “descoberta de si” no título da exposição faz alusão ao livro homônimo de Torres García publicado em 1917, referência a essas viagens que o forjaram.

— Trabalhamos com esses itinerários que ele fez ao longo da sua vida. Com as suas deslocações por estas grandes cidades, foi construindo a sua linguagem —acrescenta Rabossi. — Há uma descoberta nestas viagens. Junto com os diferentes grupos com os quais ele interagiu, houve uma busca que se materializou no movimento que ele fundou mais tarde.

É interessante contextualizar o momento da sua chegada a Barcelona. No fim do século XIX, a arte moderna já pulsava nas artes plásticas europeias, antecipando a efervescência que a cena experimentaria com o surgimento dos primeiros movimentos de vanguarda no início do século XX.

"La América invertida", de 1943 — Foto: Reprodução
"La América invertida", de 1943 — Foto: Reprodução

Entre 1906 e 1915, Torres García desenvolveu em solo catalão o que chamou de seu “período de Arte Mediterrânica”, apelando a uma certa estética da antiguidade clássica, mas com uma simplicidade que não pretende exibir a perícia do desenho acadêmico nem o embelezamento idealizado dos corpos, e com uma cor mitigada que o distancia da tradição pictórica dominante desde o Renascimento.

A partir de 1916, a sua obra volta-se para a representação da cidade moderna. Paisagens de Paris, Bruxelas, Barcelona e Nova York foram representadas nas suas obras. E também fragmentos dessas cidades, com seus personagens, símbolos e ritmos, como carros, edifícios e parques.

Em 1917, publica o livro “El descubrimiento de sí mismo”. Com uma curiosidade.

— Na ilustração de capa, ele usa linhas para estruturar os elementos que compõem a obra. Pode-se dizer que este é o germe do que ele desenvolveria mais tarde — diz Rabossi, referindo-se ao Universalismo Construtivo.

No mesmo ano, foi acrescentada uma peça fundamental ao quebra-cabeças deste retrato, quando Torres García começou a fazer brinquedos educativos em madeira pintada. Fazia animais, figuras humanas, carros, locomotivas. Em 1920, o artista decidiu se estabelecer na Big Apple, onde, entre outras coisas, produziu estes brinquedos em massa e criou uma empresa, embora sem sucesso.

A metrópole alimentou a sua estética e até inspirou seu guarda-roupa. Há uma fotografia sua de 1921, num baile da Sociedade dos Artistas Independentes de Nova York, em que aparece vestindo um macacão com desenhos das principais artérias e edifícios da cidade.

Em meados da década de 1920, Torres García regressou à Europa. Fixou-se em Paris e integrou grupos de vanguarda, associando-se a referências como Mondrian, Van Doesburg e Jacques Lipchitz, com as quais formou o grupo Cercle et Carré (Círculo e Quadrado), regido pela ideia de construção.

— O movimento surgiu um pouco em resposta ao surrealismo que predominava nessa década. Procuravam recuperar a abstração face ao surrealismo. Mas ele começou a questionar o purismo do movimento, porque queria incorporar símbolos e outros elementos — diz Rabossi.

Regresso e consagração

Em 1934, após mais de 40 anos viajando pelo mundo, o uruguaio voltou definitivamente a Montevidéu. Foi nessa altura que fundou o seu movimento Universalismo Construtivo, definindo a sua própria forma de entender a arte e a vida.

“Nesta nova proposta artística, os seus símbolos distribuem-se numa estrutura regida pela proporção áurea”, explicam os curadores no catálogo.

— Trata-se de uma linguagem baseada na geometria, ligada a um determinado simbolismo, como o relógio ou o peixe — acrescenta Rabossi. — O cenário em Montevidéu era mais acadêmico. Ele vem com algo que rompe com o cânone estabelecido, com aquela pintura figurativa,onde se ensinava a pintura naturalista.

Leonardo Noguez, diretor artístico do MACA, acrescenta que a volta de Torres Garcia foi “totalmente revolucionária”.

—A faceta de artista se misturava com a de divulgador. Era uma espécie de influencer — afirma Noguez. — Ele era uma pessoa que dava centenas e centenas e centenas de palestras, formava grupos, insistia em transmitir uma concepção ética e filosófica da arte.

Naquele mesmo ano de 1934, Torres escreveu a palestra “A Escola do Sul — Um curso para a formação da consciência artística”, um olhar sobre uma arte puramente latino-americana, na qual ele inclui seu famoso desenho do mapa invertido da América do Sul, relacionado ao seu postulado de “Nosso Norte é o Sul”. Com esta ação, explicam as curadoras, ele critica a hegemonia cultural da Europa e propõe outras leituras do universal a partir do local — uma nova concepção da arte.

— Creio que Joaquín Torres García marcou um antes e um depois na história da arte latino-americana, e de alguma forma também global. É um dos artistas mais importantes do modernismo. Seu pensamento sobre a abstração e sua síntese construtiva de símbolos universais é muito singular e original — diz a curadora Aimé Iglesias Lukin, lembrando que Torres García compilou 150 conferências que proferiu no livro “Universalismo Construtivo”, de 1944. — Além de ressignificar os sistemas de arte ou de representação, típicos das vanguardas, ele foi além: levantou a possibilidade de repensar a cultura a partir de um ponto de vista específico, o Sul.

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