Cultura
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Por — Rio de Janeiro

Modelo, empresária e ativista pelo direitos das mulheres, Luiza Brunet tem acompanhado de perto o machismo sofrido pela filha, Yasmin, no Big Brother Brasil 24. Ela entende que os episódios vistos por todo o país são reveladores da violência machista sofrida por milhões de brasileiras.

O corpo de Yasmin foi alvo de comentários em uma roda de conversa entre os "brothers" puxada pelo agora ex-BBB Nizam: "O que vocês acham da Yasmin de corpo?", perguntou ele para em seguida opinar: "Tem um rosto bonito, mas um corpo estranho".

A modelo e empresária também tem sido alvo da vigilância constante do cantor Rodriguinho, que comenta a todo momento sua alimentação. "A gente come por necessidade, aqui a gente tá comendo por compulsão." Yasmin Brunet negou, e Rodriguinho seguiu: "Você principalmente. Eu não. O alimento é pra manter a gente pé."

"Foi doloroso como mãe perceber como essa violência, com ataques constantes disfarçados de amizade, anulou a reação de Yasmin", diz Luiza.

Yasmin e Luiza Brunet — Foto: Reprodução
Yasmin e Luiza Brunet — Foto: Reprodução

Em entrevista ao GLOBO, Luiza Brunet analisa a violência sofrida pela filha, lembra os assédios que sofreu no mundo da moda, afirma que ainda há muita misoginia a ser derrotada no Brasil e deixa um pedido para as mulheres: 'Elas precisam reconhecer o valor que têm, sua importância na sociedade. Essa liberdade será a nossa grande conquista."

Como você analisa as falas dos homens sobre o corpo da Yasmin no BBB 24?

São extremamente machistas, misóginas e gordofóbicas. O programa escancarou a realidade de mulheres e meninas no Brasil e no mundo. Yasmin foi julgada por sua beleza, por ser mulher e pelo seu corpo. Somos constantemente julgadas, avaliadas como se fôssemos um produto com embalagens e rótulos com prazo de validade. A violência psicológica e moral à qual ela foi exposta é o comportamento naturalizado nas rodinhas de conversas entre homens, independente da situação econômica deles.

Foi doloroso para você, uma ativista dos direitos das mulheres, assistir a isso?

Mais doloroso como mãe foi perceber como essa violência, com ataques constantes disfarçados de amizade, anulou a reação de Yasmin. Infelizmente acontece o mesmo com quase 100% das mulheres. É uma violência sutil, com palavras ditas em meio a risadas e piadinhas que as mulheres naturalizam. A violência fácil de reconhecer é a física, que deixa marcas visíveis. Onde há corpos também há mães e filhos órfãos. Quanto vale a vida da mulher?

No decorrer da sua carreira, você viveu esse tipo de controle sobre a sua aparência? Como reagiu na época?

Comecei minha carreira aos 17 anos, em 1979. Havia violência doméstica, violências diversas e feminicídio, mas nada disso era reconhecido como crime. Eu sempre fui assediada sexualmente pelos homens donos dos negócios de moda. Tive experiências traumáticas no decorrer da minha carreira, mas sempre me posicionava. Jamais cedia ou deixava que esse tipo de assediador chegasse a me ferir. Havia a cultura do símbolo sexual e eu era uma dessas mulheres. Sempre me senti livre e segura, mas eu sabia exatamente onde e quando havia violência ou abusos. Abandonei por várias vezes o estúdio de fotografia ou parei de trabalhar com alguns empresários mais eloquentes justamente por esse motivo. O assédio está em todos os lugares, mas não em todos os homens. Há muitos profissionais respeitosos.

Você vai mesmo processar o Rodriguinho por violência psicológica?

Estamos analisando as medidas judiciais. A violência psicológica é também um crime, e está na Lei Maria da Penha. Muitos advogados se prontificaram a entrar com um eventual processo, caso esta seja a nossa decisão. Existe lei no nosso país, e as mulheres têm que ser protegidas.

O que nos falta fazer como sociedade para que mulheres não passem por episódios como o vivido por Yasmin e até outros tipos de violência ainda mais graves?

Entendo que precisamos de campanhas educativas, de palestras em escolas e do envolvimento da sociedade, além de punições mais severas para os agressores. Precisamos de políticas públicas direcionadas a educação e cultura. As mulheres precisam de informações para ficar mais seguras, como uma plataforma com fotografia ou dados dos agressores, para ver seus antecedentes criminais na esfera da violência de gênero. Muito se fala sobre violência doméstica e violação, mas estamos enxugando gelo.

Por quê?

No meu caso, por exemplo, eu tive quatro costelas fraturadas, socos, chutes, violações diversas. Meu agressor foi punido, mas se não houver um feminicídio, o agressor não fica preso. O crime que cometeu contra mim foi considerado leve, mas para a vítima nunca é leve; as as marcas ficam para sempre. Infelizmente, isso passa um recado aos agressores de que eles podem humilhar e agredir porque nada vai acontecer com eles. Se a punição fosse prisão ou multa reparatória de alto valor, a coisa mudaria de figura.

Yasmin foi criticada por homens. Qual o papel deles na luta por justiça de gênero?

É fundamental. Hoje, temos vários homens que já entenderam a responsabilidade deles na pauta, afinal o crime pode acontecer dentro da casa deles. Seu filho pode ser o responsável por tirar a vida de uma mulher, ou a sua filha pode ser essa mulher. Enquanto não mudar a cultura naturalizada da violência, devemos ficar atentas. Os homens têm um papel fundamental para mudar o machismo estrutural. Estudos mostram que um dos principais fatores de mudança de comportamentos machistas foi a conversa com outro homem. Alem disso, há a educação pelo bom exemplo dentro de casa. Da mesma forma que a maioria dos agressores cresceu em lares violentos, muitos homens respeitam mulheres porque aprenderam isso dentro de casa.

Acredita que avançamos no combate ao machismo e à misoginia?

Estamos no processo. Não gosto da fala "lugar de mulher é onde ela quiser" porque ainda não é assim. Que mãe fica tranquila se sua filha pegar um táxi ou Uber e sair de casa para ir a um restaurante ou balada sozinha? Isso é só um exemplo. O que aconteceu com Yasmin confirma, e 100 milhões de pessoas assistiram a uma violência psicológica ao vivo. Quantas mulheres passam por isso, sendo agredidas psicologicamente, fisicamente e até sexualmente?

Ainda há outra violência extrema, que é a moral e sexual que se dá no trabalho. Quantas mulheres acabam se submetendo a esse tipo de assédio para não perder o emprego, porque são provedoras ou mães solo? Algumas empresas assinaram o compromisso de promover um ambiente saudável para mulheres no trabalho assim como uma ouvidoria, mas este movimento deveria ser unificado e obrigatório. Não cabe mais a falta de envolvimento da sociedade e dos poderes Legislativo, Executivo e Judiciário.

Além de denunciar, o que mais as mulheres podem fazer?

Mulheres devem reconhecer o valor que têm, sua importância na sociedade. Só assim estaremos livres da cobrança sobre nossos corpos, preservados e respeitados e sem as cobranças que fazemos a nós mesmas. Essa liberdade será a nossa grande conquista.

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