A aproximação de um ser com a estampa de uma tigresa pode significar, a depender do caso, duas coisas: o perigo à espreita ou o maximalismo do animal print das roupas femininas das décadas de 1980 e 1990. No caso das mob wives, as duas opções são extremamente possíveis. Afinal, são as esposas de mafiosos, personagens conhecida a partir de séries como “Família Soprano”, da HBO, que celebra atualmente o aniversário de 25 anos desta ficção.
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O mob wife é um estilo muito peculiar: além da estampas de animais, é caracterizada pelo uso de itens como brincos e colares dourados, geralmente com alguma referência à fé católica, peças de couro e outras com pelagem felpuda (fakes, é claro), unhas com francesinhas enormes, óculos de sol enormes, entre outros traços.
Esse pacote estético, apesar de parecer datado nas décadas finais do século passado, vem ressurgindo em vídeos de montagem de looks no TikTok e Instagram, com mais de 200 milhões de visualizações nestas plataformas. Há quem diga, inclusive, que este seria o fim do da imagem da clean girl, caracterizada pelo uso de coreis pasteurizadas e pelo minimalismo.
Em “Família Soprano”, por exemplo, quem estava à frente desse estilo era Carmela Soprano (Edie Falco) e Adriana La Cerva (Drea de Matteo). No filme “Scarface”, Elvira Hancock (Michelle Pfeiffer). Já em “Os bons companheiros”, Karen Hill (Lorraine Bracco) é quem era representante da estética da máfia.
Apesar de ser uma tendência nas mídias sociais inspirada no visual dos mafiosos, lógico, essa moda não é uma apologia ao crime organizado. Quer dizer apenas uma revisita aos itens exuberantes das personagens italianas que ficaram famosas em séries sobre esse meio.
“A moda reúne elementos simbólicos que tem na faculdade humana para criar um motor que nos ajuda a nos expressar, a lidar com a nossa imagem. O estilo vilã é uma escolha tanto quando a ideia romântica e cor-de rosa da Barbie. A moda como fonte criativa de expressão opera também como teatralidade”, diz por escrito Solange Riva Mezabarba, pesquisadora de moda e consumo e professora da Faculdade de Design de Moda do Senai CETIQT.
E não é apenas em tendências de plataformas de vídeos que o estilo tem aparecido. No último desfile de primavera/verão, a Dolce & Gabbana, por exemplo, já prenunciava um atencioso olhar a itens do mob wife.
De acordo com a grife italiana, Domenico Dolce e Stefano Gabbana tiveram como inspirações para esta coleção a “confiança, independência e sensualidade” da socialite Kim Kardashian. A apresentação em questão foi criada a partir de shows de 1989 e da década de 1990 e mostrava peças com franjas de pele sintética, roupas inteiras em estampa de felinos e o uso exacerbado de preto, com toques de sensualidade.
De acordo com Mezabarba, também doutora em antropologia pela UFF (Universidade Federal Fluminense), as inovações não significam sempre algo inédito. “O retorno ao passado pode ser uma fonte de inspiração ou um retorno a um estilo que ficou para trás e pode se tornar uma forma de romper com uma forma de vestir que se torna excessivamente disseminada”, afirma ela.