Cultura
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Por O Globo — Rio de Janeiro

Morreu nesta quinta-feira (25) o crítico de cinema Ely Azeredo, aos 94 anos. A causa da morte ainda não foi informada, mas ele enfrentava complicações pulmonares. Ely foi o crítico que por mais tempo deu voz ao famoso "bonequinho", do GLOBO. O velório será neste sábado (27), no cemitério São João Batista, em Botafogo, Zona Sul do Rio.

Nascido em Macaé (RJ), em 1930, Ely Azeredo publicou seu primeiro texto em 1949, na coluna do crítico Oswaldo de Oliveira, no jornal "A Noite". Em 1953, estreou a Tribuna da Imprensa fazendo a cobertura da I Retrospectiva do Cinema Brasileiro, realizada em São Paulo. Foi na publicação que, na primeira metade dos anos 1960, ele viu o nascimento de um estilo cinematográfico no Brasil, inspirado no neorrealismo italiano. Tratou de batizá-lo em sua coluna: Cinema Novo. Era o movimento encabeçado por nomes como Glauber Rocha, Nelson Pereira dos Santos, Joaquim Pedro de Andrade, Leon Hirszman, Ruy Guerra, dentre outros.

Teve artigos publicados na Gazeta de Notícias, no Correio da Manhã e no jornal O Fluminense. O crítico Moniz Vianna, do Correio da Manhã, era uma de suas referências. Ely também escreveu no Jornal do Brasil, onde entrou em 1965. No mesmo ano, se tornou o primeiro crítico brasileiro a participar de um júri em festival internacional ao participar do Festival de Berlim como jurado. Acabou desenvolvendo uma relação com o evento e no ano seguinte colaborou com o diretor Alfred Bauer para uma retrospectiva do Cinema Novo na mostra alemã.

Em sua coluna no GLOBO, o cineasta Cacá Diegues já destacou a importância do crítico e de suas "provocações construtivas".

“Ely foi o mais moço de uma geração de críticos, fundamental para a formação de uma cultura cinematográfica no Brasil. Embora, nem sempre concordasse com nossas ideais e filmes, ele foi muito importante na formação de aspectos do pensamento do Cinema Novo, com provocações construtivas. Foi um dos críticos brasileiros que melhor definiram a Nouvelle Vague francesa", escreveu Diegues.

Ely começou a carreira no final dos anos 1940 — Foto: Monica Imbuzeiro / Agência O Globo
Ely começou a carreira no final dos anos 1940 — Foto: Monica Imbuzeiro / Agência O Globo

— Ely pertenceu a uma geração de ouro da crítica de cinema no Brasil. A percepção aguçada, o rigor de análise, a defesa do cinema como arte maior, faziam dele um crítico de destaque junto aos colegas. O amor por luminares do cinema moderno como Bergman e Antonioni diz bem de seu olhar afinado as novidades de seu tempo — lembra Hernani Heffner, gerente da Cinemateca do Museu de Arte Moderna do Rio (MAM).

Azeredo participou ativamente das movimentações para a criação do Instituto Nacional de Cinema, no qual comandou em duas ocasiões o setor de publicações da entidade. Com Flávio Tambellini, criou em 1966 a revista Filme Cultura, editada pelo INC e na qual atuou como coordenador, editor e colaborador.

"Crítico de linhagem clássica, Ely se distinguiu pelo rigor lógico com que examinava um filme, num trabalho parecido ao de um anatomista. Manteve uma postura crítica em face do Cinema Novo e de alternativas estéticas como o Cinema Marginal e a pornochanchada", destaca o livro Enciclopédia do Cinema Brasileiro, organizado por Fernão Ramos e Luiz Felipe Miranda.

Foi autor dos livros "Infinito cinema" (Unilivros, 1989) e "Olhar crítico — 50 anos de cinema brasileiro" (IMS, 2010), coletâneas de ensaios e críticas escritas para diversas publicações.

— Os leitores conheceram o rigor crítico com que ele avaliava os filmes. Mas havia uma característica do Ely que transparecia para os colegas que conviveram com ele: foi sua gentileza. Ele era muito atencioso com todos. Quando eu era um jovem crítico, o Ely às vezes ligava ou escrevia para comentar textos e filmes, sempre querendo dialogar de forma afetuosa — conta André Miranda, editor executivo e crítico do GLOBO.

Já a crítica Susana Schild se recorda de um colega mais retraído, que se encontrava confortável de fato em seu habitat natural: o cinema.

— Trabalhei muitos anos com Ely no Jornal do Brasil. Discreto, retraído, ele parecia só se soltar quando escrevia. Gentil, mas austero. Era totalmente apaixonado por cinema, venerava os clássicos e tinha um excelente texto. Estudioso, sério, talvez só liberasse o seu verdadeiro "eu" na sala escura, diante da tela. Personagem de cinema — destaca a jornalista.

Mais do que um crítico, Azeredo também foi um promotor do cinema. Em 1959, ao lado de Alberto Shatovsky e Osvaldo Leite Rocha, fundou a Temporada Cinema de Arte Mesbla, no Passeio, considerada a primeira sala brasileira voltada para o cinema de arte.

— Uns cinco meses depois do cinema na Mesbla, no Passeio, Ely, Osvaldo e eu criamos o Alvorada, no Posto 6. Abrimos com "Um homem tem três metros de altura", com John Cassavetes e Sidney Poitier. Durante muito tempo, íamos regularmente à antiga garagem da Viação Cometa, na Tijuca, resgatar latas de filmes japoneses que chegavam de ônibus de São Paulo, porque só passavam nas salas do bairro da Liberdade, para a colônia nipônica — lembrou Shatovsky, em entrevista ao GLOBO em 2012.

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