Susana Vieira lança biografia sem medo de ser esquecida: 'Não se esqueça de que sou uma diva'

Os capítulos também envolvem a vida pessoal. O livro começa com o impacto sentido pela artista ao descobrir o diagnóstico de leucemia, em 2017. Nas páginas, fala-se em depressão. Nesta entrevista, ela prefere atualizar o termo para a expressão “estado de choque”. Há também trechos em que repassa relacionamentos. Nos amores, o fim do casamento com o primeiro marido “marca uma decepção”, ela conta. O julgamento que sofreu ao namorar o ex-policial Marcelo Silva, em 2008, assim como o rebuliço da cobertura da separação, também têm destaque. Este é o único trecho da biografia em que, embora dê alguns detalhes, Susana prefere preservar na intimidade.

Na entrevista a seguir, a paulistana reflete sobre a família e diz por que gostaria de ter sido uma “avó de verdade” para os netos. Sem abrir mão do humor, repassa outros pontos de sua vida e de sua obra.

Você diz que a leucemia e depois a pandemia te deixaram deprimida. O que faz para superar?

Talvez eu tenha usado o termo incorreto. Não fiquei fechada em um quarto, triste, pensando na morte da bezerra. Fiquei em estado de choque. Fiquei andando pela casa. Foi bom. Passei a ter orgulho das minhas coisas. Comecei a olhar para o jardim. Eu construí cada detalhe dessa casa em que vivo há 15 anos, mas nunca tinha olhado com esse olhar de cuidadora. Vi que precisava não só trabalhar, mas dar mais tempo para mim, para viajar, sair à noite... O susto foi no comecinho, depois pedi logo para o Miguel Falabella me escrever uma peça para eu surgir maravilhosa.

No livro, você cita várias vezes o medo da morte. O que especificamente teme tanto?

Tenho medo da morte porque adoro a vida. É um clássico. A idade te traz uma sensação de que está mais perto do fim. Temo não conseguir fazer tudo que quero fazer ainda. Tenho medo de deixar coisas inacabadas. Medo de não conhecer todo mundo que queria, de não visitar países que gostaria. Quero rir muito ainda, fazer uma peça de Shakespeare. Sempre odiei a ideia de morrer. Qualquer coisa que me impacta, logo digo: “Meu Deus, é muito cedo.” E continuo com 81 anos achando que é muito cedo.

O que foi mais difícil relembrar?

Meu primeiro casamento (com o diretor Régis Cardoso, morto em 2005) e a separação do meu filho. Não foi difícil de falar, mas de lembrar. Eu acho que tinha me esquecido de como foi frustrante. Eu sofri, fui desprezada como mulher. Era uma garota, tinha 19 anos, fui mãe aos 20. Me deixou decepções. Mas eu as transformei. Não fiquei com antipatia de homem.

Há citações a julgamentos sofridos. O que te incomoda hoje?

Já fui julgada de tudo o que poderia. Cheguei no topo e estou com saúde para continuar. Não tenho mais medo. Agora, dizem no meu Instagram: “Essa velha ainda está viva?” O etarismo no Brasil é absurdo. Essas pessoas devem achar que têm 30 anos para sempre e morrerão assim. Esta velha aqui tem histórias maravilhosas para contar e um nome para ficar.

O que significa ser “avó de verdade”, como diz que gostaria de ter sido?

Falo dessa avó de filmes, sentada na cadeira de balanço fazendo crochê, a quem o neto pede um bolo, e que está sempre por perto tomando conta das crianças quando os pais não podem. Eu não fui essa nem mesmo na TV e queria ter tido a experiência. Mas aí eu seria outra pessoa. O que pude oferecer como avó foi colaborar na educação, ajudei a pagar as melhores faculdades de Miami, e dando os valores morais, que também dei ao meu filho. Ficamos juntos nas férias deles, ou nas minhas, proporciono viagens boas, dou alegrias. Mas não participei do dia a dia do crescimento deles. Fui feliz do jeito que fui e foi a vida que coube a nós. Rafa, o neto mais velho, me liga todo dia. O Bruno, o menor, me chama de Susie. É a relação que temos. Íntima no coração e pensamento, mas sem muitas palavras.

Você já temeu ser esquecida pelo público?

Nunca pensei. Não se esqueça de que sou uma diva, me acho o máximo, meus cabelos custam R$ 8 mil, tenho meus cinco cachorros que me amam, 130 milhões de brasileiros que me adoram, você acha que eu vou achar que meu povo vai me esquecer? (risos) Eu fiz por merecer, meu amor. Eu dou tchau desde que saio da cama até a hora que eu vou dormir.