Cultura
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Por O GLOBO — Rio de Janeiro

Foi uma relação marcada por altos e baixos, amor e ódio. Quem conviveu com Paulo César Pereio — ator que morreu, aos 83 anos, no último domingo (12) — conta que o artista não era uma pessoa nada fácil. Ele mesmo reconhecia a personalidade complicada sob a pele. "Eu não sou mal-educado, eu sou escroto mesmo", disse, em depoimento ao documentário "Peréio, eu te odeio" (2013). A atriz e apresentadora Cissa Guimarães, que foi casada com ele entre 1975 e 1990, reconheceu, em diversas ocasiões, os lados contraditórios da figura de presença forte e dedicada aos excessos.

O fim do relacionamento dos dois foi marcado por uma polêmica familiar que ganhou as manchetes à época. Depois de não pagar a pensão alimentícia dos filhos — Thomaz Velho, de 46 anos, e João Velho, de 40, ambos frutos do casamento com Cissa —, o ator foi preso, em 1994. Ao GLOBO, Pereio ressaltou, naquele período, que a ex-mulher, então repórter e locutora do programa "Vídeo show", da TV Globo, estava em melhores condições financeiras do que ele e podia sustentar os dois filhos.

O valor total da dívida alcançava algo em torno de R$ 40 mil. "Ela pode segurar essa encrenca. A quantidade é alta, mas mesmo que o valor seja esse, não tenho como levantar esse dinheiro", justificou o artista, em 1994. Após uma semana de negociações, ele deixou a cela que ocupou por seis dias na 19ªDP (Tijuca), no Rio de Janeiro, tendo que pagar 10% do valor da pensão atrasada — ou seja, R$ 4 mil — em quatro parcelas.

"Não quero que ela (Cissa) fique como vilã dessa história", disse Pereio, na época. "Eu é que não me defendi quando devia. Não paguei porque não tinha dinheiro. Sofri um acidente e não podia trabalhar", acrescentou, referindo-se à batida de carro que o deixou com fraturas na costela e no côndilo mandibular, responsável pela articulação da mandíbula.

Paulo César Pereio e Cissa Guimarães, em 2004 — Foto: Marcos Ramos/Agência O Globo
Paulo César Pereio e Cissa Guimarães, em 2004 — Foto: Marcos Ramos/Agência O Globo

Na gravação do documentário "Peréio, eu te odeio", a atriz Cissa Guimarães, disse que Paulo César Pereio nunca foi um bom pai para os filhos que eles têm juntos. Mesmo reconhecendo que ele era uma "pessoa difícil", a atriz frisa que nutre muito carinho pelo ex-marido. "Peréio, grande amor da minha vida, te sinto e te tenho nos nossos 'sucedâneos', Thomaz e João, q você pediu tanto para mim! Te agradeço, meu amor, por tanto aprendizado e amor. Eu era uma menina e você me mostrou o mundo e o amor pelo nosso ofício", homenageou ela, em publicação no Instagram, no último domingo.

Rebeldia incorrigível

Conhecido por seu comportamento imprevisível e sua rebeldia incorrigível, o ator Paulo César Pereio morreu na tarde do último domingo (12), aos 83 anos, no Rio de Janeiro. Ele estava em tratamento de doença hepática avançada, em estado grave, e havia dado entrada de madrugada no Hospital Casa São Bernardo, na Barra da Tijuca, na Zona Oeste do Rio de Janeiro.

Nascido em Alegrete, no Rio Grande do Sul, em 1940, Pereio despontounum momento de efervescência do cinema brasileiro. Após destaque no teatro, onde interpretou de Beckett ("Esperando Godot") a Maria Clara Machado ("Pluft, o fantasminha"), o gaúcho entrou no radar dos cineastas de vanguarda. Ainda que sua inspiração fosse clássica, com exemplo no ator americano Humphrey Bogart, símbolo da masculinidade dos anos 1940 e 1950, Pereio agradou em cheio os jovens diretores que buscavam reinventar a linguagem do cinema brasileiro.

Paulo César Pereio no programa "Sem frescura", do Canal Brasil — Foto: Divulgação
Paulo César Pereio no programa "Sem frescura", do Canal Brasil — Foto: Divulgação

Como Bogart, Pereio abusava de seu vozeirão e da forte presença em cena. E é assim que a sua figura marca o elogiado "Os fuzis" (1964). Embora tenha saído brigado com o diretor Ruy Guerra (uma constante em sua carreira), iniciou durante as filmagens a sua longa amizade com Hugo Carvana, que também se tornaria uma figura marcante do Cinema Novo.

Quatro anos depois, com "O Bravo guerreiro" (1968), de Gustavo Dahl, Pereio aprofundou sua relação com o movimento artístico. Durante a pós-produção de "Os fuzis", Pereio conheceu Glauber Rocha, que lhe convidaria para fazer uma pequena participação em "Terra em transe" (1967). A ligação com o Cinema Novo continuaria ao longo dos anos 1970, sendo chamado por diretores como Joaquim Pedro de Andrade ("Os inconfidentes"), Cacá Diegues ("Chuvas de verão") e Arnaldo Jabor ("Toda nudez será castigada" e "Eu te amo").

Nos anos 1970, participaria ainda de um dos mais celebrados filmes experimentais da história, “Bang Bang” (1971), de Andrea Tonacci. O longa, que não chegou a ser programado no circuito comercial brasileiro, tem a sua cara: anárquico, inventivo, rebelde e provocador.

Além do cinema, Pereio brilhou no teatro entre 1956 e 2016, ainda que fazendo longos intervalos entre uma peça e outra nas últimas décadas. Atuou em espetáculos marcantes como “Roda viva” e colaborou com os maiores dramaturgos do país. Dirigiu a penúltima peça de Nelson Rodrigues (“O anti-Nelson Rodrigues”, de 1974) e compartilhou o espírito libertário e José Celso Martinez Corrêa em “As bacantes”, de 1996.Graças à sua voz excepcional, conseguiu driblar as suas crises financeiras com narrações e trabalhos para a publicidade.

Na televisão, fez ainda novelas e minisséries como “Gabriela”, “Roque Santeiro”, “A viagem”, “Presença de Anita” e “Carga pesada”, todas da TV GLOBO. Em 2004, passou a apresentar o programa “Sem frescura”, no Canal Brasil, em que recebia convidados para bate-papos descontraídos.

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