Cultura
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Por — São Paulo

Mesmo sem a tradicional locução de Zuza Homem de Mello (1933-2020), não foi possível evitar aquele gostinho de Free Jazz Festival quando o violonista Daniel Santiago e o guitarrista Pedro Martins subiram ao palco do Auditório Ibirapuera, na noite de sexta para dar início à edição 2024 do C6 Fest.

Talentosos e jovens herdeiros da vertente mais jazzística do Clube da Esquina, eles cativaram uma plateia que ainda começava a encher a sala – e também um senhorzinho de movimentos lentos e vacilantes, que assistia ao show com atenção, do canto do palco.

Alguns desconfiaram, mas logo veio a certeza: era mesmo Charles Lloyd, um mito do jazz, saxofonista e flautista americano de 86 anos, que se apresentaria logo em seguida ao duo, com o seu quarteto (de baixista, baterista e pianista).

Ele era a grande atração daquela primeira noite do festival, totalmente dedicada ao jazz (e com shows realizados apenas no auditório), aquecendo as turbinas para um sábado e um domingo com muito rock, pop, rap e música eletrônica, também em outros espaços do Parque Ibirapuera.

Antes do Charles Lloyd Quartet, porém, coube à produtora Monique Gardenberg, a mulher por trás de todo o C6 Fest (e, anteriormente, do Tim Festival e do Free Jazz Festival) fazer uma homenagem ao saxofonista e produtor Zé Nogueira, curador de jazz dos três festivais, falecido após uma convulsão, no último dia 26.

Às palavras emocionadas, ditas com voz embargada por Monique (que conhecera Zé no começo dos anos 1980, quando ambos trabalharam com Djavan), sucedeu-se um vídeo em que, ao lado do violonista Nelson Faria, o falecido músico fazia uma releitura muito sentimental e íntima de “Clube da Esquina Nº 2” (composição de Milton Nascimento com os irmãos Lô e Márcio Borges).

E quem estava lá, sentadinho no banco da bateria, assistindo ao vídeo? Charles Lloyd, que entrara sorrateiramente no palco, meio para ver o que acontecia. Ao fim do vídeo, ele também saudou Zé Nogueira, com uma espécie de reverência.

Redescoberto

Mas, enfim, chegou o momento de Lloyd mostrar com seu quarteto, o porquê de ter se tornado uma lenda do jazz nos anos 1960, redescoberta e reverenciada pelos jovens de hoje, com um belo disco recém-lançado (“The sky will still be there tomorrow”).

O silêncio imperava na sala. Homem que se comunica sem palavras, ele indicou por gestos que se devia desligar o ventilador por trás do baterista. E demorou mais alguns segundos até soltar a primeira nota, longa e roufenha. Mas a partir daí, tudo fez sentido.

O senhor de gorro vermelho e aspecto de hippie tardio era, de fato, aquele patrimônio do jazz que engrandece qualquer festival. Com fôlego de jovem e um belo fraseado, ele exercitou a simbiose com uma banda de primeiríssima linha, que seguiu quebrando tudo quando Lloyd terminou sua intervenção e foi sentar-se num banquinho e ficou de cabeça baixa, como se estivesse cochilando.

Era pura contemplação. No momento certo, ele se levantou e voltou com seu sax para a frente do microfone e fez mais um magnífico solo. E, assim, o primeiro tema se encerrou com a sensação, entre o público, de que se havia presenciado algo raro.

Ordem e caos

Só que o raro, o sublime, foram a tônica da totalidade do show do Charles Lloyd Quartet. Lentos ou acelerados, melódicos ou dissonantes, seus solos pareciam vir de algum lugar além da razão, em cumplicidade com uma banda que estava ali para ordenar a bagunça ou bagunçar tudo que aparentava estar ordenado.

Em certo momento, Lloyd trocou o sax pela flauta e seguiu por outros universos (mais para os lados do Oriente), como se não fosse nada de mais. Sacudiu-se no banquinho, curtindo os momentos mais suingados da banda, e abriu espaço para que o seu pianista, Gerald Clayton, tivesse seu momento solo, dentro do mais sagrado que um ambiente da música poderia ter.

O saxofonista Charles Lloyd (no centro), em show no C6 Fest, em São Paulo — Foto: Divulgação
O saxofonista Charles Lloyd (no centro), em show no C6 Fest, em São Paulo — Foto: Divulgação

Depois de encerrado o tempo regulamentar que lhe cabia no festival, o saxofonista ainda ensaiou o início de mais um número, mas era hora de partir – no quem, depois de animadas despedidas, ele foi gentilmente conduzido para as coxias pelo baterista Eric Harland, o responsável ainda por conter um fã mais exaltado que subiu no palco para tirar foto com o ídolo.

E a noite do jazz no C6 Fest seguiu com a coreana Jihye Lee (ótima cantora com dotes de maestrina de sua orquestra de sopros e o guitarrista dinamarquês Jakob Bro. Exemplos eloquentes de que o jazz continua tão vivo quanto Charles Lloyd.

O repórter viajou a convite do festival

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