Um grupo de alunos da Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro não poderia imaginar o resultado que o filme “Conexão” teria após ser finalizado. Desenvolvido e idealizado em meio a pandemia e de maneira independente por 24 alunos da graduação em Cinema, o filme aborda a perda do vínculo consigo mesmo em contraste a uma sociedade caótica. Agora, ele foi selecionado para o Festival de Cinema de Cannes, na mostra “Short Film Corner”, que começa neste domingo.
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O curta-metragem mescla elementos de animação com a atuação da diretora Julie Ketlem, também como protagonista, para retratar, em formato de thriller, o drama de uma jovem após o isolamento da pandemia. O filme contou também com a visita do diretor veterano e cineasta Neville d'Almeida no set de gravações.
Mediante uma vaquinha online que durou uma semana, a equipe do filme conseguiu cerca de R$ 5 mil para custear a produção. Sem falas e com personagem única, as cenas foram todas gravadas em um fim de semana de abril de 2022 na casa da produtora Raquel Galdino, que contou ao GLOBO detalhes do processo na caminhada até um dos mais importantes festivais de cinema do mundo.
— Participar de uma mostra internacional tão prestigiosa quanto Cannes é sem dúvida uma alegria para mim e para toda a equipe. Foi o primeiro filme que produzi e foi com ele que descobri meu gosto pela produção cinematográfica, e sei que foi da mesma forma com muitos dos meus colegas. Foi uma produção muito difícil. Passamos por muitos problemas pela nossa inexperiência, e estresses diversos por toda 'gambiarra' que organizamos para realizar um filme universitário de baixo orçamento. Com certeza aprendemos muito com isso, entre erros e acertos, e ver que todo esse esforço da equipe pôde chegar à França e ao mundo, é extremamente recompensador. —, contou Raquel ao GLOBO.
Passados dois anos de pós-produção, o filme foi selecionado com duas credenciais para Cannes. A diretora Julie Ketlem e o diretor de fotografia Gabriel Guimarães deverão comparecer ao evento para a estreia da produção no próximo dia 22, na França. No entanto, ainda não há data para ocorrer no Brasil.
— Depois da pandemia, nós, alunos de cinema, sentimos uma urgência de fazer filmes. Acho que tanto o roteiro quanto essa produção é uma consequência direta disso. Mesmo com pouco dinheiro, fazendo como dava, conseguimos levantar o necessário para realizar nosso curta, e hoje, dois anos depois, temos o orgulho de dizer que ele chegou a uma das maiores mostras de cinema do mundo —, disse Raquel em entrevista ao GLOBO.
A parceria entre Raquel Galdino e Gabriel Guimarães já havia rendido frutos anteriormente durante uma competição no Festival de Cinema de Petrópolis. Na ocasião, ainda enquanto graduandos, a dupla ganhou por votação popular a Mostra de Curtas Universitários de 2020, com “Alegoria da Cidade”, filme em stop-motion com narração de poema autoral de Raquel sobre a relação das pessoas com o tempo e com o espaço durante a pandemia.
A mostra Short Film Corner não é competitiva e compõe o painel de curtas-metragens do Festival de Cannes, e é usado por jovens cineastas, diretores, produtores e compradores para encontros e possíveis negociações. A exibição pode decidir o futuro de uma obra em termos de distribuição.