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“O brasileiro tem a obrigação de conhecer sua literatura, o mais poderoso e o mais fino instrumento de expressão da nacionalidade”, dizia Otto Maria Carpeaux (1900-1978), um dos maiores intérpretes da cultura do Brasil. O jornalista, ensaísta e crítico literário responsável por analisar e divulgar a obra dos principais autores estrangeiros e brasileiros de todos os tempos tem agora 40 textos reunidos — muitos deles inéditos — em “Mais livros na mesa”, coletânea com organização de José Carlos Zamboni.

Nascido na Áustria, Carpeaux fugiu para o Brasil em 1939 diante da escalada nazista na Europa. Poliglota e considerado uma “enciclopédia viva”, ele aprendeu português através da nossa literatura, pela qual se encantou. Em 1959, publicou em nove volumes seu trabalho mais venerado, “História da Literatura Ocidental” — análise colossal desde a Grécia Antiga, passando por Shakespeare, Cervantes e afins, até o romantismo de José de Alencar e Castro Alves.

O livro começa com uma miniaula em relação aos métodos da nossa linguagem, texto que antecede uma carta aberta a Gustavo Corção, na qual Carpeaux rebate acusações e alfineta, em altíssimo nível, declarações do escritor expoente do pensamento católico a respeito de uma determinada obra pela qual os dois tinham opiniões divergentes.

No capítulo seguinte, ao analisar a lírica de Manuel Bandeira, Carpeaux compara o poeta pernambucano ao alemão Heinrich Heine e destrincha quase palavra por palavra o poema “Momento num café”, revelando toda a complexidade por trás daquelas singelas 13 linhas que, segundo ele, mostram a transformação de uma esquina banal carioca no “teatro do mundo”.

Em outro artigo, reverencia Lima Barreto ao demonstrar entusiasmo acerca de uma nova biografia sobre o criador de “O triste fim de Policarpo Quaresma” (1915) e “Vida e morte de M. J. Gonzaga de Sá” (1919), os quais qualifica como “os dois maiores romances cariocas e das poucas obras de valor universal que a literatura brasileira possui”.

Imaginar legados

Em “Pintor de profecias”, o leitor poderá se surpreender com o conhecimento de Carpeaux sobre arte, seja ela moderna ou clássica. A edição inclui uma crítica de 1948 na qual o autor avalia uma exposição de Candido Portinari — “o maior pintor americano”, que “deformou a realidade pictórica do Brasil”, criando assim o “estilo brasileiro da pintura”. O crítico explica que sua tarefa não era apenas interpretar como aqueles quadros, “difíceis e enigmáticos”, ressoavam naquele momento, mas sim imaginar qual seria o legado deles para futuras gerações.

Outro breve (mas profundo) artigo estuda o caráter e os traços políticos de Dom Pedro II, fã do poeta francês Victor Hugo, destacando que o Brasil evoluiu muito durante os longos 49 anos de governo do Imperador, apesar de terem sido regidos por um “moralismo insuportável”.

Três peças editadas para o livro são dedicadas a Graciliano Ramos, amigo de Carpeaux. A primeira delas homenageia o “pessimista inveterado” no seu aniversário de 60 anos. Em contraste, o texto seguinte lamenta a morte do autor de “Vidas secas” (1938), classificado como “mestre da língua”; enquanto “Amigo Graciliano”, publicado no GLOBO em 1953, dá ao leitor detalhes da personalidade do romancista alagoano, cuja estrutura de suas obras é comparada pelo crítico com “Inferno”, de Dante Alighieri.

A terceira parte do livro elenca escritos das mais diferentes épocas do autor, dispostos cronologicamente para que o leitor possa acompanhar a transformação psicológica do renomado crítico enquanto ele se debruça sobre alguns dos nomes mais fundamentais da história do Brasil, como Euclides da Cunha e Ferreira Gullar, entre outros.

O ápice desta coletânea situa-se nos capítulos finais. Trata-se de um prefácio de mais de 20 páginas que introduz a antologia “Machado para a juventude”. Neste bálsamo sobre o universo “machadiano”, Carpeaux explica por que o mais genial nome da literatura não teve sua grandeza tão bem reconhecida por seus contemporâneos. “A poesia de Machado de Assis está na atmosfera, meio irônica meio fúnebre, que envolve os berços e os leitos de morte de seus personagens”, escreve.

“Mais livros na mesa” é a porta de entrada ideal para compreender a mente de um dos intelectuais mais influentes do século XX — e, mais do que isso, um estrangeiro que valorizou nossa terra como poucos nativos foram capazes.

Gabriel Zorzetto é jornalista

‘Mais livros na mesa’

Autor: Otto Maria Carpeaux. Organizador: José Carlos Zamboni. Editora: Sétimo Selo. Páginas: 232. Preço: R$ 83,90. Cotação: ótimo.

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