Cultura
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Por , Em The New York Times — NASHVILLE, Tennessee

"Você ficaria chocada com a quantidade de livros que descrevem mulheres acorrentadas em porões. Sei que esse horror acontece no mundo, mas não quero ler um livro sobre isso", diz Reese Witherspoon, que também não quer ler um tratado acadêmico nem um romance de 700 páginas sobre uma árvore.

Sentada em seu escritório em Nashville, ocasionalmente mergulhando em uma caixa de nachos que pediu no delivery, a atriz fala sobre o que gosta de ler – e o que procura em uma seleção para o Reese's Book Club, ao qual se referiu, claramente em terceira pessoa: "Tem de ser otimista e compartilhável. Um livro que a gente acaba de ler e diz: 'Sei exatamente para quem quero dar esse livro'."

Mas, acima de tudo, ela quer livros escritos por mulheres, com mulheres no centro da ação, que salvam a si mesmas. "Porque é isso que as mulheres fazem. Ninguém vem nos salvar."

Witherspoon, de 48 anos, está presente no mundo dos livros há uma década. Suas produções de séries como "Big little lies", "Little fires everywhere" e "The last thing he told me" são perfeitas para maratonar. As escolhas de seu clube do livro ficam consistentemente na lista dos mais vendidos durante semanas, meses ou, no caso de "Um lugar bem longe daqui", anos. Em 2023, as vendas de cópias impressas das seleções do clube ultrapassaram as do Oprah's Book Club, de Oprah Winfrey, e do Read With Jenna, de Jenna Bush Hager, de acordo com o Circana Bookscan, somando 2,3 milhões de exemplares vendidos.

Mas como é que uma atriz que abandonou a faculdade (nada menos que Stanford), se tornou uma das pessoas mais influentes em um setor conhecido por ser complicado e um tanto melindroso? Tudo começou com a frustração de Witherspoon em relação à fraca representação das mulheres na telona por parte da indústria cinematográfica — principalmente mulheres experientes, fortes, inteligentes, corajosas, misteriosas, complicadas e, sim, perigosas.

— Quando eu tinha 34 anos, por aí, parei de ler roteiros interessantes — comenta.

Reese Witherspoon vestia um Dior, em 2006, quando foi premiada pelo drama biográfico Walk the Line, no qual interpretou June Carter. O vestido vintage prateado, de 1955, é uma representação clássica dos momentos mais marcantes da maison de alta costura: valia US$ 12 mil  valorizou cerca de 212%, de 2006 para os dias atuais, sendo avaliado US$ 37.500 — Foto: TIMOTHY A. CLARY/AFP via Getty Images
Reese Witherspoon vestia um Dior, em 2006, quando foi premiada pelo drama biográfico Walk the Line, no qual interpretou June Carter. O vestido vintage prateado, de 1955, é uma representação clássica dos momentos mais marcantes da maison de alta costura: valia US$ 12 mil valorizou cerca de 212%, de 2006 para os dias atuais, sendo avaliado US$ 37.500 — Foto: TIMOTHY A. CLARY/AFP via Getty Images

Crise no cinema

Witherspoon já havia se consagrado com "A Eleição", "Legalmente Loira" e "Johnny & June", mas, em 2010, Hollywood estava mudando: os serviços de streaming estavam ganhando força. Os DVDs estavam seguindo as fitas VHS para a terra da tecnologia ultrapassada.

— Quando há uma grande mudança econômica na indústria do entretenimento, não são os filmes de super-heróis ou os filmes independentes que perdemos. É a parte intermediária, que é geralmente onde as mulheres vivem. O drama familiar, a comédia romântica. Por isso, decidi financiar uma empresa para fazer esse tipo de filme — explica Witherspoon.

Em 2012, fundou a produtora Pacific Standard com Bruna Papandrea. Seus primeiros projetos foram adaptações de livros para o cinema: "Garota Exemplar" e "Livre", que estrearam nos cinemas em 2014.

Criada em Nashville, Witherspoon sabia o valor de um cartão de biblioteca. Ela disse que pegou cedo o bichinho da leitura, de sua avó, Dorothea Draper Witherspoon, que era professora da primeira série e devorava os romances de Danielle Steel em uma " espreguiçadeira grande e aconchegante" enquanto tomava chá gelado em um copo "com uma pequena toalha de papel enrolada". Essa atenção aos detalhes não deixa dúvidas: Witherspoon é fã das palavras.

Quando estava no ensino médio, ela ficava depois da aula para importunar sua professora de inglês – Margaret Renkl, hoje colaboradora da coluna de Opinião do "The New York Times" –, com perguntas sobre livros que não faziam parte do currículo. Quando a atriz se mudou para Los Angeles, os livros a ajudaram a se preparar para o "caos" do cinema; "The Making of the African Queen" ("Os bastidores de uma aventura na África", em tradução livre), de Katharine Hepburn, era um dos seus favoritos.

85 semanas na lista dos mais vendidos

Portanto, fazia sentido que, assim que entrou no Instagram, Witherspoon passasse a compartilhar recomendações de livros. Os autores ficavam lisonjeados, e os leitores compravam com base nas indicações. Em 2017, Witherspoon oficializou a iniciativa: O Reese's Book Club se tornou parte de sua nova empresa, a Hello Sunshine.

O momento foi oportuno, de acordo com Pamela Dorman, vice-presidente sênior e editora da Pamela Dorman Books/Viking, que editou a primeira escolha do clube, "Eleanor Oliphant Está Muito Bem": "O mundo dos livros precisava de algo que ajudasse a impulsionar as vendas de uma nova maneira."

O Reese's Book Club foi esse algo a mais: "Eleanor Oliphant" ficou 85 semanas na lista dos mais vendidos. A segunda escolha do clube, "A Rede de Alice", ficou quase quatro meses nas listas de best-sellers semanais, e dois meses na lista de audiolivros. O terceiro, "Jogo de Mentiras", ficou 18 semanas nas listas semanais. "Não há nada melhor do que receber aquele telefonema", acrescentou Dorman, que já editou mais duas seleções do Reese's Book Club.

O romance de estreia de Kiley Reid, "Such a Fun Age" ("Uma idade muito divertida"), recebeu a indicação em janeiro de 2020. A autora disse: "Quando eu estava na turnê de lançamento do livro, muitas mulheres me diziam: 'Não leio um livro há quatro anos, mas confio na Reese.'" Quatro anos depois, durante a turnê de seu segundo romance, "Come and Get It" ("Venha buscar"), Reid conheceu mulheres que estavam lendo cem livros por ano.

Witherspoon analisa alguns poucos livros a cada mês. Os envios das editoras são selecionados por um pequeno grupo que inclui Sarah Harden, diretora executiva da Hello Sunshine; Gretchen Schreiber, gerente de livros (seu título original era "rata dos livros"); e Jon Baker, cuja equipe na agência de talentos literários Baker Literary Scouting vasculha o mercado em busca de manuscritos promissores.

Equilíbrio de vozes

Witherspoon não se concentra apenas em histórias de mulheres ("o teste de Bechdel em grande escala", disse Baker), mas também: "Nada a deixa mais feliz do que divulgar no mundo algo que você talvez não visse de outra forma."

Quando os direitos dos transgêneros estavam nas manchetes em 2018, o clube escolheu "This Is How It Always Is" ("É assim, como sempre"), o romance de Laurie Frankel sobre uma família que lida com questões relacionadas em casa. "Acompanhamos o desempenho dos títulos selecionados pelo nosso clube do livro, e ele, sem falta, continua vendendo bem", afirmou Baker.

Os primeiros títulos do clube literário de Witherspoon buscam um equilíbrio de vozes, origens e experiências, mas também prestam atenção ao calendário. Referindo-se à correria louca das festas de fim de ano e do fim do ano letivo, Harden comentou: "Todo mundo sabe que dezembro e maio são os meses mais movimentados para as mulheres. Nessa época, não queremos ler um livro longo e denso. O que queremos ler nas férias de verão? E em janeiro?"

A atriz Reese Witherspoon — Foto: Jingyu Lin/The New York Times
A atriz Reese Witherspoon — Foto: Jingyu Lin/The New York Times

Witherspoon preferiu não entrar em detalhes sobre alguns assuntos: a concorrência com outros clubes do livro de alto nível ("Tentamos não escolher os mesmos livros"); a única autora que se recusou a participar do seu ("Tenho muito respeito por sua clareza"); e o livro de 2025 que ela já pediu ("Não dá para imaginar que não foi escrito por Edith Wharton ou Graham Greene").

Mas ela estava ansiosa para esclarecer dois assuntos. Sua equipe não obtém os direitos de todos os livros – "As coisas são assim mesmo", observou ela – e o Reese's Book Club não ganha dinheiro com as vendas dos títulos que seleciona. Os ganhos vêm de colaborações com marcas e vendas feitas por afiliados.

É assim que funcionam todos os clubes do livro de celebridades. Seu endosso é uma dose gratuita de publicidade, mas se pode argumentar que o Reese's Book Club faz um pouco mais por seus livros e autores do que a maioria. Não só promove cada livro, da edição capa dura à brochura, como também apoia os autores em fases subsequentes de sua carreira.

Apoio nas redes

As autoras cujos livros foram selecionados pelo clube tendem a manter contato por meio da rede social, trocando elogios e conselhos. Também são convidadas para participar dos eventos Hello Sunshine e do Lit Up, programa de mentoria para escritoras sub-representadas. As participantes recebem edição e consultoria das autoras do Reese's Book Club, além de um contrato de marketing com o clube quando seus manuscritos são enviados a agentes e editores.

"Descrevo o processo de publicação e nossa posição como se estivéssemos em um rio. Estamos no sentido da correnteza, olhando para o que o clube seleciona. A Lit Up nos deu a capacidade de olhar rio acima e dizer: 'Gostaríamos de fazer uma mudança aqui'", comparou Schreiber.

O primeiro romance saído da incubadora Lit Up, "Time and Time Again" (De novo e de novo), de Chatham Greenfield, será lançado pela Bloomsbury YA em julho. Outras cinco mentorandas anunciaram a venda de seus livros.

À medida que se aproxima de um marco – o centésimo livro selecionado, a ser anunciado em setembro –, o Reese's Book Club continua a se adaptar às mudanças no mercado. As vendas da versão impressa dos títulos selecionados atingiram o pico de cinco milhões de exemplares em 2020 e, desde então, diminuíram, de acordo com a Circana Bookscan. Em 2021, a Candle Media, empresa de mídia apoiada pela Blackstone, comprou a Hello Sunshine por US$ 900 milhões. Witherspoon é membro do conselho da Candle Media. Atualmente, está coproduzindo uma série prequela de "Legalmente Loira" para a Amazon Prime Video.

Ao mesmo tempo que olha para o futuro, Witherspoon se lembra de sua avó, que foi quem a colocou nesse caminho. "Alguém me abordou na academia outro dia e disse: 'Vou lhe contar algo que aposto que você não ouviu hoje: sua avó me ensinou a ler'", disse ela com um leve sotaque sulista.

Outro sinal de sua certeza de estar no caminho certo, e um lembrete do que a acompanha.

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