Cultura
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Por — São Paulo

Primeiro longa de Daniel Ribeiro após o premiado “Hoje eu quero voltar sozinho”, “13 sentimentos” conta a história de João, vivido por um ensolarado Artur Volpi. Alter ego do diretor paulistano de 42 anos, o personagem é um cineasta iniciante que se separou após uma união de uma década. A câmera o persegue enquanto ele experimenta as agruras e alegrias do mundo gay na cidade de São Paulo, com sua abundância de festas, exaustão de aplicativos e obsessão sobre a caduquice da monogamia.

— O tema central é a idealização nos relacionamentos amorosos. Tanto do passado que um dia vivemos quanto do futuro desejado — conta o diretor e roteirista do longa-metragem, que tem pré-estreia em São Paulo nessa quinta (6), outra pré no Rio no dia 11 e estreia no circuitão no dia 13.

Jornada app adentro

Logo nos primeiros minutos, o espectador é informado que o filme foi inspirado em “sentimentos reais”. A história de João brotou do fim, em 2016, de um relacionamento importante do diretor. No filme, o recém-solteiro diz “sim”para contatinhos aprovados pela curadoria feita por seus dois melhores amigos, Alice (Julianna Gerais) e Chico (Marcos Oli). Nem sempre dá certo.

— Assim como o João, também tive dificuldade em me adaptar às relações virtuais superficiais. Prefiro encontros que transcendam à simples química sexual. Taurino, gosto mesmo é de namorar— diz Ribeiro, hoje feliz com uma parceria amorosa de quase oito anos.

Já no caminho do personagem João, há encontros lúdicos, como o com o casal mais maduro formado por Alexandre (Fabricio Pietro) e Rodrigo (Daniel Tavares). De comum acordo, eles abriram o relacionamento e acabam oferecendo possibilidades novas para o cineasta. Mas também há aproximações mais nebulosas, como a com Vítor, papel de Michel Joelsas (o Fabinho de “Que horas ela volta?”), em que atração e segredos se chocam. Uma das frases de João que grudam na cabeça é “hoje em dia é mais importante parecer feliz do que ser feliz”.

O esbarrão mais consequente é com Martin — vivido por Cleomar Nicácio, outro destaque da cena teatral paulistana. O diretor quis destacar como os melhores encontros muitas vezes se dão quando não se está à caça. O resultado do acaso é uma explosão de erotismo que destoa tanto da atmosfera mais delicada de “Hoje eu quero voltar sozinho” quanto da timidez gráfica imperante no cinemão atual.

— Queria que essa cena fosse erótica, romântica e bem-humorada. Um primeiro encontro, sexo casual, (mas) onde se descobre química inquestionável — conta o diretor. — Coreografamos muitas posições sexuais em uma tarde inteira de ensaios. Fizemos uma lista com todas elas e a ordem em que aconteceriam.

Caminhos cruzados

Volpi, que tem 31 anos, é fã de “Hoje eu quero voltar sozinho”, filme que, na sua opinião, “marcou uma geração e tem importância gigantesca para a comunidade LGBTQIA+ no Brasil”.

Inicialmente, ele fez o teste para o papel que acabou ficando com Joelsas. Mas o diretor ficou tão impressionado que pediu para o ator fazer outra cena, de bate-pronto, na pele do protagonista. Eram sete páginas de texto.

— Sem ter tido a chance de estudar o roteiro previamente, ele leu a cena como eu a imaginava. Captou perfeitamente o tom do filme — conta Ribeiro.

O ator Artur Volpi em cena de '13 sentimentos', longa de Daniel Ribeiro — Foto: Divulgação
O ator Artur Volpi em cena de '13 sentimentos', longa de Daniel Ribeiro — Foto: Divulgação

Mas esse não foi o primeiro encontro dos dois. Curiosamente, quando tinha 14 anos incompletos e recém-saído do musical “Peter Pan”, Artur Volpi foi convidado a fazer um teste para o curta de Ribeiro “Eu não quero voltar sozinho”, inspiração para o primeiro longa do diretor.

— No convite vinha a informação de que se abordaria uma relação homoafetiva, com cenas de nudez, e não me senti confortável. Não tinha me assumido gay, dei uma desculpa e pulei fora — conta o ator.

Quinze anos depois, o João de Volpi é um homem gay romântico e carinhoso, “não muito diferente de mim mesmo”.

— Ele é cheio de regras. Tem a ilusão de que pode controlar a vida, mas percebe que as coisas não são bem assim. O filme é, também, sobre a dificuldade que temos com fins. De relacionamentos, amizades, projetos profissionais — diz o ator.

Cria do teatro paulistano, ele encarnou, na telinha, Marcelo, filho da Lúcia de Debora Bloch na série “Segunda chamada”, da Globoplay. Seu personagem se envolve com o professor Paulo (Caio Blat) e tem desfecho trágico. Chamou a atenção da crítica.

— Muitos meninos me mandaram mensagem sobre a dificuldade de se abrirem com os pais sobre a homoafetividade. Foi forte. Com o João, a representatividade se dá pela naturalidade com que mostramos sua vida amorosa e orientação sexual. Os sentimentos são universais — diz.

João é seu primeiro protagonista no cinema. Com orçamento restrito, o longa foi filmado em 16 diárias. Contar com um ator que dominava personagem e roteiro foi, diz Ribeiro, essencial para improvisações de todos os tipos.

Trilogia planejada

O longa “13 sentimentos” foi pensado como o derradeiro tomo de uma trilogia com personagens distintos, sem ordem cronológica. Ela começou com “Hoje eu quero voltar sozinho”, eleito pela crítica do Festival de Berlim de 2014 o melhor longa da mostra Panorama, e vencedor do prêmio Teddy, para filmes com tônica gay.

Entre os dois viria “Amanda e Caio”, sobre as dificuldades enfrentadas por um jovem casal após um par de anos juntos, que segue no papel por contratempos com o orçamento.

“Hoje eu quero voltar sozinho” narra, com delicadeza, o início da paixão entre o estudante do ensino médio Leonardo, que é cego, e Gabriel, novato no colégio, vividos por Guilherme Lobo e Fábio Audi. Sem erguer bandeiras e com visão propositadamente utópica de uma realidade que já tateava o aumento da intolerância a grupos minoritários, “The way he looks” (seu título internacional) foi aclamado pela crítica no exterior (93% de resenhas positivas no Rotten Tomatoes), onde ultrapassou US$ 1 milhão de bilheteria. Caso raro de filme cult e popular.

Agora, Ribeiro oferece um easter egg para os fãs do cultuado filme, com o aparecimento do Gabriel do primeiro filme em uma festa frequentada por João. A cena foi filmada no estúdio fotográfico de Fábio Audi, retratista de mão cheia.

Nos dez anos entre um longa e outro (neste período Ribeiro criou e dirigiu a série “Todxs nós”, da HBO), as pessoas LGBTQIA+ no Brasil foram forçadas a enfrentar o aumento da intolerância e o êxito do bolsonarismo nas urnas. Cenário que, diz Ribeiro, aumentou seu receio de produzir arte com temática homoafetiva.

—Mas também foi combustível e motivação para criar uma obra que fomente o diálogo e combata o preconceito — argumenta o diretor de “13 sentimentos”, que já tem lançamento garantido lá fora, rebatizado, não por acaso, de “Perfect endings”.

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