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Em dois pontos da Rua Taylor, que liga os bairros cariocas da Lapa, da Glória e de Santa Teresa, Walter Goldfarb divide sua produção, na qual o tempo é matéria-prima tanto quanto telas, tecidos e pigmentos. Ao pé da rua, no sobrado de cinco andares onde o pintor e serigrafista mantém seu ateliê, obras de diferentes fases se acumulam, com trabalhos finalizados dividindo espaço com peças algumas em diferentes estágios de produção, com o artista se alternando entre elas, por vezes com meses de intervalo.

Subindo a rua, um terreno de 1.600 metros quadrados cortado em terraças verticais, que abriga um casarão em ruínas, adquirido por Goldfarb em 2006, irá se transformar na sede do instituto que leva o seu nome. Com projeto do arquiteto André Daemon, do escritório carioca Estudio Guanabara, o imóvel de 1905, que chegou a ser usado como cortiço, será adaptado para um espaço multiuso, podendo receber exposições, performances, saraus de música e apresentações teatrais.

Mesmo antes de o projeto sair do papel, o artista já usa parte de seu espaço como extensão do ateliê, sobretudo para a finalização de obras em grande escala, como a pintura-tapeçaria “A árvore encantada” (2023), com 13 metros de comprimento por 3,5 metros de largura, comissionada pela companhia de navegação de luxo Norwegian Cruise Line e instalada no átrio central do navio de cruzeiro Seven Seas Grandeur.

Casarão de 1905 que será rorormado para sediar o Instituto Walter Goldfarb — Foto: Guito Moreto
Casarão de 1905 que será rorormado para sediar o Instituto Walter Goldfarb — Foto: Guito Moreto

O espaço também foi usado para auxiliar a organização da panorâmica “Pele: os manuscritos do Mar Morto na gênese da linguagem visual de Walter Goldfarb”, em cartaz no Palácio dos Correios de Niterói, que celebra os 30 anos de carreira e os 60 anos de nascimento do artista, completados dia 10 de maio. Para a mostra, ele assumiu também a curadoria das cerca de 90 obras selecionadas entre séries como “Pergaminhos”, “Iluminuras” e “Teatros bíblicos”, realizadas entre 1994 e 1998 e exibidas pela primeira vez em conjunto. Um catálogo será organizado por sua filha mais nova, Lia Mizrahi-Goldfarb, de 24 anos, mestranda em Filosofia na Universidade Livre de Berlim.

— Pude reunir obras do início de carreira nunca mostradas juntas, explorando as dimensões do Palácio dos Correios — comenta Goldfarb, que estudou, de 1989 a 1995, na Escola de Artes Visuais (EAV) do Parque Lage, onde mais tarde tornou-se professor de pintura. — Várias delas já passaram por curadorias de nomes importantes, como Paulo Herkenhoff, Lisette Lagnado, Vanda Klabin, Reynaldo Roels. Queria algo pessoal, um olhar meu sobre a minha própria carreira.

'Buscando minha alma' (1995),  da série 'Iluminuras', obra incluída  na exposição 'Pele', no Palácio dos Correios  de Niterói — Foto: Divulgação/Jaime Acioli
'Buscando minha alma' (1995), da série 'Iluminuras', obra incluída na exposição 'Pele', no Palácio dos Correios de Niterói — Foto: Divulgação/Jaime Acioli

A relação pessoal do artista com a função de curadoria espelha também sua forma de trabalhar. No ateliê, onde é ajudado por dois assistentes, Goldfarb pesquisa e desenvolve processos como impressão a fogo, tingimento de tecido em grandes tanques, bordado a partir de lonas desfiadas, aplicação de laca com seringa e a produção de pigmentos com o uso de elementos como carvão, cascalho de esmeralda e limalha de prata.

— Criei minha “cozinha” no ateliê, a partir de muita experimentação. O que menos uso nas minhas pinturas é o pincel. Gosto de colocar meu corpo na obra, me envolvo em todas as etapas — diz o artista. — Trabalho com camadas, com a aplicação da laca e dos pigmentos, bordados, ou, como no caso de “A árvore encantada”, pregando sete mil botões vintage. Preciso testar como essas estruturas se comportam, por isso a necessidade de um segundo espaço.

Goldfarb em seu atual ateliê, na Lapa — Foto: Guito Moreto
Goldfarb em seu atual ateliê, na Lapa — Foto: Guito Moreto

A previsão é que o restauro do casarão leve de seis a oito meses, e que o artista já possa levar seu acervo para o espaço no ano que vem.

— O projeto do instituto tem uma relação com o tempo como a do Walter com a própria obra, de camadas sobrepostas, uma certa rusticidade, a ação dos anos sobre os materiais. A ideia é modernizar sem apagar a história local — diz André Daemon. — O diálogo entre materiais de diferentes épocas permite a variedade de usos para o espaço, para servir tanto à preservação da memória como ser um ateliê ao ar livre.

'Jogo da Cidade Velha' (1996), da série 'Teatros bíblicos' — Foto: Divulgação/Jaime Acioli
'Jogo da Cidade Velha' (1996), da série 'Teatros bíblicos' — Foto: Divulgação/Jaime Acioli

No primeiro andar do instituto, além de uma área administrativa, Goldfarb planeja um grande arquivo, com os documentos que hoje ocupam sua sala de projetos no ateliê. No espaço que chama de “meu cérebro”, estão guardadas centenas de pastas, uma para cada obra sua, com esboços, catálogos de mostras e até e-mails impressos de conversas com curadores:

— Aprendi essa organização com artistas como Angelo Venosa, com quem dividi um ateliê, e (Abraham) Palatnik. Mas foi um método que criei sozinho, na escola não te ensinam como preservar a memória do seu trabalho. É uma documentação importante não só para pesquisas que tenham a ver com a minha produção, mas com a arte brasileira nessas últimas três décadas.

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