Cultura
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Por — Rio de Janeiro

Aos 80 anos, Maria Madalena Correia do Nascimento, muito mais conhecida como Lia de Itamaracá, nem pensa em diminuir seu ritmo de vida. Em videoconferência diretamente da ilha de Pernambuco que lhe deu o nome artístico, ela conta que começou 2024 com o “pé na porta”. Dia 12 de janeiro, fez um festival de música para comemorar o seu aniversário, com nomes como Nação Zumbi e Natasha Falcão. Em fevereiro, foi enredo de escolas de samba no Rio (Império da Tijuca) e em São Paulo (Nenê de Vila Matilde), além de ser homenageada nos carnavais de Natal, Igaraçu, Itapissuma e Itamaracá — sua casa. Pouco depois foi anunciada como uma das atrações do Rock in Rio e mês passado gravou um frevo pela primeira vez.

— Essa neguinha é fera — comenta ela, em tom bem-humorado.

Agora, Lia chega ao Rio para disputar os prêmios de melhor intérprete e de lançamento na categoria regional do Prêmio da Música Brasileira, que ocorre nesta quarta-feira (12).

— Quanto mais prêmios, melhor, quanto mais homenagens para mim, melhor ainda — diz ela. — Porque o amor é grande. Com o público, com a comunidade e com os fãs.

‘Meu babado’

Mesmo iniciando sua carreira na década de 1960, Lia demorou até se tornar uma referência musical. Filha de uma empregada doméstica e um agricultor, foi a única das 22 filhas que se interessou por música, e teve que construir seu caminho de show em show. Aprendia fazendo. Para se sustentar, mantendo o sonho de ser cantora, trabalhava como merendeira escolar.

— Nunca pensei em parar, sempre estou seguindo em frente — conta a cirandeira. — É o que eu gosto de fazer, é o que quero fazer, e ninguém desmancha meu “babado”. O meu computador, só eu sei dominar.

Até que em 1998 abraçou a oportunidade de se apresentar no festival Abril para o Rock. Dali em diante, a canção “Essa ciranda quem me deu foi Lia, que mora na Ilha de Itamaracá” se tornou conhecida no circuito nacional e internacional.

Um exemplo de seu respeito fora do Brasil aconteceu quando o cantor americano Jon Batiste, em turnê brasileira, fez questão de convidar Lia para uma colaboração, que aconteceu no ano passado, durante o C6 Fest.

Mesmo com apresentações no mundo todo, nunca perdeu as raízes. Sua canção indicada ao Prêmio da Música Brasileira mostra isso. “Dorme Pretinho” é uma releitura feita por seu produtor e amigo, Beto Hees, sobre a obra do argentino Atahualpa Yupanqui, mas introduzindo a realidade das marisqueiras, atividade importante para a liberdade econômica das mulheres na ilha — e da sua vida pessoal.

— Minha mãe deixava a gente em casa, ficava primeiro para ver a gente dormir, e ia pescar — conta. — E, quando vinha, trazia tudo o que a gente gostasse. Peixe, caranguejo, marisco, tudo para sustentar os filhos.

Frevo e novos sons

Lia também não se intimida em trocar experiências com novas gerações. Recentemente, a cirandeira teve seu primeiro frevo gravado com Romero Ferro, lembra a jornalista e biógrafa Michelle Assumpção. “Frevo da saudade” foi a oitava faixa do álbum “Frevália”.

Essa inovação em seu trabalho, mesclando a tradicional ciranda com novos sons, fará parte do repertório da cirandeira no palco Global Village, no Rock in Rio, em setembro.

— O Rock in Rio deu a ideia de levar as duas bandas para fazer um show que Lia já vem apresentando — conta Assumpção. — Terá uma mescla da ciranda mais tradicional com outros instrumentos, como bateria, guitarra, baixo. A ideia é fazer essa grande união no palco.

Lia de Itamaracá será uma das atrações no Arraial do Museu do Pontal dia 9 de julho — Foto: Divulgação / Museu do Pontal
Lia de Itamaracá será uma das atrações no Arraial do Museu do Pontal dia 9 de julho — Foto: Divulgação / Museu do Pontal

Ter o nome homenageado em tantos carnavais em todo o Brasil mexeu com Lia. Emocionada ao relembrar esses momentos, ela resume os trabalhos em uma nota: dez.

— Meus 80 anos chegaram chegando, graças a Deus — diz Lia. — Estou muito feliz mesmo. O bom é que estão fazendo (homenagens) para mim. Lia Viva. Eu estava muito emocionada, vendo a alegoria todinha, e ia me mostrando na Avenida. A Império da Tijuca estava com uma história de Itamaracá, e a Vila Matilde trouxe sobre Lia no enredo. Isso para mim é dez.

O alto-astral de Lia é um ponto a se destacar. Durante a entrevista, ela conta que seu marido, Antônio Januário, o Toinho, que é seu percussionista desde o início da carreira, está no hospital, com cirurgia agendada para aquele dia. Mesmo preocupada, diz confiar na melhora rápida de seu amado.

— Quando a gente ama uma pessoa, o nosso coração bate a mil, não importa como — acredita. — Mas ele está se tratando no hospital. É melhor do que se estivesse em casa sem saber o que fazer. Está no médico, e Deus protege.

Em meio a uma agenda lotada, Lia ainda separa datas para rodar o país e, aos sábados, ter disponibilidade de cantar sua ciranda no Centro Cultural Estrela de Lia, na Ilha de Itamaracá. Sorrindo, afirma que não pretende diminuir o ritmo:

— Deus é quem sabe. Eu quero saber até onde eu posso chegar. E vou chegar chegando. Até onde for, vou cantando.

Assumpção conta que um dos objetivos de Lia é tornar sua celebração de aniversário um movimento popular ainda maior para Pernambuco. Conhecida como “O canto da sereia”, sua comemoração cresceu ao ponto em que se tornou um festival.

— A festa cresce a cada ano. Por conta dos 80 anos, foi um festival com três palcos, cortejo de cultura popular, na praia, afoxé e todas as manifestações, como cirandas, cocos, maracatus e caboclinho, além da parte religiosa — lista Assumpção. — Lia não é só uma artista da região, a partir dela a gente faz toda uma produção para movimentar a ilha.

* Estagiário com supervisão de Emiliano Urbim

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