Toninho Geraes espera sentença em até um ano em processo contra Adele por suposto plágio de 'Mulheres'

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Autor de sucessos de Agepê ("Me leva", "Virou mania"), Zeca Pagodinho ("Seu balancê", "Uma prova de amor") e Diogo Nogueira ("Alma boêmia", "Se a fila andar"), além do tema gravado por Martinho no álbum "Tá delícia, tá gostoso" (1995), Toninho pediu R$ 1 milhão por danos morais à cantora, o produtor do disco "25" ( Greg Kurstin) e a três gravadoras, a XL Recording, Sony e Universal, as duas últimas com sede no Brasil. Os valores relativos aos direitos autorais ainda precisariam ser calculados a partir do que foi arrecadado com a gravação de Adele.

Mineiro de Belo Horizonte radicado no Rio, Geraes havia tentado um acordo extra-judicial com a cantora, mas segundo seu advogado, Fredímio Trotta, ela não se manifestou. Na ação, foram apontados 88 compassos idênticos, similares ou com pequenas variações entre as duas canções, além de trechos da introdução, refrão e o final da música. A princípio, o processo seria movido em nos EUA (onde Adele mora) e em Londres (onde a XL Recording está sediada), mas a opção acabou sendo a Justiça carioca pelo alto custo de acionar a cantora e a gravadora no exterior.

No final do ano passado, o cantor entrou com uma ação de rescisão de contrato contra a Universal, por entender que havia conflito de interesses em editar suas músicas e, no Brasil, as de Adele. O caso foi sorteado para a 6ª Vara Empresarial do Rio, e o por plágio, movido em fevereiro deste ano, foi para a 4ª Vara. Então, houve o entendimento que seria mais adequado os dois processos correrem na mesma jurisdição, e ambos ficaram na 6ª Vara. Após os meses necessários para este trâmite, a expectativa é que a citação das partes aconteça em breve, a partir de quando as defesas terão 15 dias úteis para se manifestar.

— Como já foi levantada uma farta quantidade de provas, a tendência é que o processo corra mais rápido, já que facilita o trabalho do juiz. Acredito que em até um ano já tenhamos uma sentença — comenta Fredímio Trotta. — Depois, na fase de execução, é que seria necessário uma percícia para saber quanto cada parte lucrou com "Million years ago" para que a indenização possa ser fixada.

A ação também levanta a possibilidade de a cantora ter conhecimento da música brasileira, assim como o produtor americano e co-autor de "Million years ago" Greg Kurstin (que já trabalhou com Paul McCartney, Pink e Foo Fighters, e desde 2006 forma o duo de indie pop The Bird and the Bee com Inara George). O processo relata que "Mulheres" ganhou versões em francês e espanhol, aumentando a circulação da música fora do Brasil. O cantor e compositor conta que foi alertado das similaridades entre as músicas por Misael da Hora, filho do produtor musical Rildo Hora, autor do arranjo.

— Tem uma ou outra variaçãozinha, uma notinha para cima ou para baixo, mas as evidências são muito escancaradas. Até o arranjo do Rildo ficou muito evidente, várias partes são praticamente as mesmas. Acho desconfortável expôr um artista, seja um iniciante ou uma estrela internacional. O caso só veio a público após esperarmos ao máximo por um acordo — comenta Geraes, que diz não ter pensado o que faria com a indenização caso receba uma sentença favorável. — Desde que surgiu essa história, estou vivendo a minha vida com a mesma tranquilidade. Nunca pensei em dinheiro, não vim ao mundo pra acumular.

Procurada, a Sony respondeu que não irá se pronunciar sobre o caso. Até a publicação desta reportagem, a Universal não havia respondido a solicitação da reportagem, que está aberta a publicação.

No ano passado, "Mulheres" voltou ao noticiário, desta vez por um desentendimento entre Geraes e as autoras de uma versão empoderada do samba, "Nós somos mulheres", a cantora pernambucana Doralyce e Silvia Duffrayer, da roda Samba Que Elas Querem. A nova letra traz versos como "Nós somos mulheres de todas as cores/ De várias idades, de muitos amores/Lembro de Dandara, mulher foda que eu sei/ De Elza Soares, mulher fora da lei", mudando o eu lírico da canção, de um homem que teve "vários amores" para uma visão feminista da letra, composta em 2018.