Os diálogos afiados, os protagonistas mergulhados em tramas complexas e o humor sofisticado dos filmes de Billy Wilder serão relembrados em uma exposição inédita criada pelo Museu da Imagem e do Som de São Paulo (MIS-SP), localizado no Jardim Europa, na Zona Oeste da capital paulista. A mostra dedicada ao diretor, roteirista e produtor abrirá ao público no próximo dia 15 agosto e, nesse momento, está em processo de concepção.
De acordo com os planos atuais, a exibição será dedicada a 13 filmes do cineasta polonês radicado nos Estados Unidos e nascido há exatos 118 anos neste sábado (22). Haverá, é evidente, espaço para sucessos como “Crepúsculo dos Deuses (1950)”, “O Pecado Mora ao Lado” (1955), “Quanto mais quente melhor” (1959) e “Sabrina” (1954). Outros longas, menos conhecidos, como o noir “Farrapo Humano” (1945), um dos primeiros filmes de Hollywood a falar abertamente sobre o alcoolismo, também farão parte da seleção de filmes homenageados.
— Billy Wilder é um dos maiores nomes do cinema mundial de todos os tempos — afirma André Sturm, diretor do MIS e curador da mostra. — Há cineastas que são marcados por um estilo muito particular. Hitchcock (1899-1980), Fellini (1920-1993) e Almodóvar são assim, basta assistir a segundos do trailer para identificar que aquele é um dos filmes dirigidos por eles. Pois são figuras com estilo muito característico. Por outro lado, há cineastas que se propõem a fazer filmes em diferentes formas, de guerra, de amor, e mesmo assim são geniais. É assim com Christopher Nolan, com Stanley Kubrick (1928-1999) e é assim com o Billy Wilder, cujo trabalho passa por vários gêneros com roteiros incríveis, com visual genial e atores adequados para os personagens.
Na atração, os filmes serão organizados na mostra por meio de ordem cronológica — desse modo, explica Sturm, será possível observar o avanço da carreira (e da complexidade de apostas) do diretor conforme a passagem dos anos. O coração da mostra, contudo, são justamente os ambientes criados para as 13 salas que ajudam a recriar os cenários (ou cenas específicas) dos filmes.
— Os filmes foram escolhidos levando em conta a relevância que cada produção teve na carreira do diretor, além da diversidade de gêneros. Vamos dar destaque à comédia romântica vista em "Sabrina", à ousadia de "Quanto mais quente melhor" e até ao interesse dele em falar sobre o jornalismo em “A Montanha do Sete Abutres” (1951) — diz André Sturm.
Como é de se esperar, a nova mostra de Billy repetirá a fórmula do MIS em fazer exposições imersivas. Em geral, os visitantes são guiados num roteiro em que cada sala oferece uma experiência distinta, com uso de cenografias, tecnologia e peças originais herdadas das gravações (o inventário de itens originais ainda não está fechado, mas espera-se que cinco dezenas de itens componham a exibição).
Apetite paulistano
Para se ter uma ideia do apetite ao tipo de mostra exibida pelo MIS, em São Paulo, vale lembrar da exposição dedicada a Stanley Kubrick, realizada em 2013. A exibição chegou a vender ingressos para a madrugada como alternativa para dar conta da demanda de visitantes que queriam conhecer (e fotografar-se) nos ambientes da mostra.
Ao todo, foram cerca de 80 mil pessoas que comparecerem à atração. Entre os pontos mais concorridos havia um amplo ambiente dedicado ao longa “2001: Uma Odisseia no Espaço” com direito a um monolito e à impressionante ambientação da sala em que o personagem Dr. David Bowman (Keir Dullea) passa seus últimos momentos de vida.
Anos adiante, em 2018, o museu repetiu a fórmula imersiva em uma exposição dedicada ao mestre do suspense Alfred Hitchcock. Nesse caso, o icônico longa "Psicose" (1961) foi representado por uma grandiosa cenografia do “Bates Motel”, ambiente em que ocorre um dos mais célebres assassinatos da história do cinema — aquele, em que Marion Crane (Janeth Leigh) é brutalmente esfaqueada embaixo do chuveiro.
— A exposição não será exageradamente tecnológica, porque nos filmes de Billy Wilder a tecnologia não é tão presente. Claro que vamos utilizar inovações para reproduzir os ambientes. Vai ter um destaque grande na sala de "Quanto mais quente melhor". Ali queremos utilizar inteligência artificial para conseguir que Marilyn Monroe (1926-1962) diga algo que ela nunca falou anteriormente em um filme — diz Sturm. — Será um local que causa impacto na exposição.
A mostra exclusiva de Wilder, diz Sturm, tem como trunfo justamente exaltar diversidade do criador ao longo de sua trajetória cinematográfica. O realizador, inclusive, foi indicado ao Oscar oito vezes por direção ou melhor filme e outras 12 por seu trabalho como roteirista. Apesar do currículo de alto quilate, porém, o artista custa a ser lembrado pelas novas gerações como um dos grandes realizadores de Hollywood.
— Diferente de Ingmar Bergman (1918-2007) e do Fellini, Billy Wilder não tem um nome tão comum às pessoas. Talvez quem tenha seus 30 anos de idade não está tão por dentro de que ele existiu. Acho que podemos surpreender uma geração que gosta de cinema e de cultura e que não o considera em seu próprio hall da fama. É um cineasta genial e que não está tanto no cânone dos jovens no século XXI. Essa será nossa grande contribuição — afirma Sturm.
Para celebrar a mostra, o MIS-SP ainda prepara atrações complementares para a mostra. Cursos especiais, mostras de longas do diretor e os tradicionais “Cinematographos”, que são projeções de filmes com sonorização ao vivo, feitos por músicos devidamente instalados na sala de cinema, também devem fazer parte da programação.