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GERADO EM: 23/06/2024 - 03:30

Mostra Luiz Zerbini: Paisagens Ruminadas

A maior mostra já dedicada ao artista Luiz Zerbini, Paisagens ruminadas, em cartaz no CCBB do Rio, aborda seu processo caótico de criação, recriando constantemente referências artísticas ao longo de quase cinco décadas de carreira. A exposição destaca a relação política das paisagens do artista, que refletem sua postura como cidadão e seu interesse em organizar o mundo. Além disso, a exposição apresenta autorretratos que evocam os momentos em que foram produzidos.

Maior exposição já dedicada a Luiz Zerbini, em cartaz até setembro no Centro Cultural Banco do Brasil (CCBB) do Rio, “Paisagens ruminadas” tem seu título inspirado por uma frase do próprio pintor: “Viver é ruminar paisagens”. O sentido figurado dado à forma de alimentação dos ruminantes, que retornam o alimento do estômago à boca para mastigá-lo novamente, é utilizado pelo paulistano radicado no Rio desde os anos 1980 para refletir sobre seu processo de criação, no qual referências artísticas e a própria produção são retomadas e recriadas constantemente, em quase cinco décadas de carreira.

Com curadoria de Clarissa Diniz, a panorâmica perpassa trabalhos de Zerbini desde o final dos anos 1970, incluindo por pinturas icônicas dos anos 1980 e 1990, até monotipias mais recentes. Com cerca de 140 obras, a mostra traz ainda trabalhos em outros suportes, como esculturas, criações assinados pelo Chelpa Ferro (coletivo criado com o escultor Barrão e o editor de cinema Sergio Mekler, em 1995) e “Pedrona” (2024), instalação inédita criada com materiais como isopor, poliuretano, e resina.

A exposição traz ainda obras pouco vistas, como o tríptico “Botafogo” (1988), pertencente a uma coleção particular e que aborda a violência urbana do Rio. Citada por Caetano Veloso na faixa-título do álbum “O estrangeiro”, lançado no ano seguinte (na mostra, a obra é mostrada junto a um monitor que exibe o clipe da música).

— A curadoria te faz ver a sua obra pelos olhos de outra pessoa, é bom ver tudo com os olhos da Clarissa. Tem coisas que eu nem lembrava direito. “Botafogo” não via há muito tempo, nem sei se ela chegou a ser exposta no Rio — comenta Zerbini. — Organizado assim, parece mais fácil entender meu processo de criação, as ligações e as passagens ficam mais claras. Mas para mim é tudo mais caótico, fico realmente ruminando entre memórias e ideias, tudo se mistura. Fico surpreso de ter feito algumas coisas, não sei de onde vem aquilo direito. Mas não é um pensamento nostálgico, tem uma relação cotidiana do trabalho no ateliê que te ancora no presente.

Zerbini e a curadora Clarissa Diniz diante da tela "Eu paisagem' (1998) — Foto: Ana Branco
Zerbini e a curadora Clarissa Diniz diante da tela "Eu paisagem' (1998) — Foto: Ana Branco

A curadoria ocupa todo o primeiro andar do CCBB, divide as obras em cinco núcleos: “Viver é ruminar paisagens”, “O lugar de existência de cada coisa”, “Da natureza alegórica da paisagem”, “Eu paisagem” e “Não é só sobre o que se vê”.

— O Luiz sempre se coloca como um paisagista, e a mostra não aborda a paisagem apenas como uma forma de produzir uma imagem, só por seu significado histórico, e sim como uma categoria política — observa Clarissa Diniz. — Suas paisagens são uma forma de organizar o mundo, sujeitos, tempos, vidas. A imagem não fica reduzida ao cartão-postal, um lugar recortado num retângulo, que é uma armadilha fácil para a pintura. As suas obras maneiras de articular o pensamento extremamente política, cada paisagem é um reflexo da sua postura como cidadão.

Os elementos sociais e políticos que atravessam as paisagem ficam mais evidentes em obras como “Primeira missa” (2014) — do acervo do Masp, que promoveu em 2022 a individual “Luiz Zerbini: a mesma história nunca é a mesma”, com 50 obras e curadoria de Adriano Pedrosa e Guilherme Giufrida — “Eu paisagem” (1998) e a própria “Botafogo”. Para o pintor, os temas surgem nas obras de forma natural, e não discurso.

— Outro dia me perguntaram sobre as questões ecológicas do meu trabalho, como se existisse uma função por trás ou fosse construído a partir disso. Mas o que vem antes é o indivíduo, o meu trabalho é uma consequência da minha vida, da forma como olho o mundo. Ele não está à frente disso — ressalta o pintor. — A forma como cada obra é construída traz questões políticas por refletirem o meu interesse pelo mundo. De querer saber que lugar é aquele, de onde vêm essas pessoas.

A mostra (que, encerrada a temporada carioca, seguirá para o CCBB de Brasília) reúne também alguns dos autorretratos pintados por Zerbini ao logo dos anos. Além dos telas representando o próprio rosto (ou, no caso da irreverente “Abajur”, de 1997, com a cabeça coberta por um balde), o artista também pode ser visto encontrado em inserções dentro de outras obras. Aos 65 anos, completados em abril, o pintor diz que a visão dos retratos reunidos evoca, de certa maneira, os momentos em que foram produzidos.

— Tirando as monotipias mais recentes, nem fiz tanto autorretratos assim. Quase que um a cada dez anos, acho que quase todos estão na exposição. Em determinado momento você se questiona, olho a tela e penso: “Quem é esse cara?” — diz o pintor. — De alguns me lembro melhor o que pensava na época. No “Abajur”, estava sentindo uma vergonha de tudo, aí pensei numa avestruz e acabei fazendo o balde na cabeça. Em “Gavião” (1976) era jovem e fiz o corpo sobre a cidade, a representação de uma ideia suicida. Já pintei autorretrato depois de visitar meu pai pela última vez no hospital. O engraçado é que, quem compra, não vai ter a menor ideia do que sentia naquele momento, cada obra ganha um significado próprio.

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