Cultura
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Por — Rio de Janeiro

RESUMO

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GERADO EM: 26/06/2024 - 03:30

Continuação de Na minha pele finalizada em Cabo Verde

Lázaro Ramos finaliza continuação de Na minha pele em Cabo Verde, inspirado pela cultura e identificação com o Brasil. Livro aborda temas como identidade negra e emancipação, refletindo mudanças no mercado editorial e na sociedade. Entrega do manuscrito à editora Objetiva marca nova etapa na carreira do artista.

No pequeno e aconchegante Cabo Verde, Lázaro Ramos é outro. O ator, escritor e diretor conta que encontrou uma versão mais leve de si mesmo durante uma viagem pelo país africano no mês passado. Nos oito dias de “autoexílio”, ele buscou no arquipélago do Atlântico o foco necessário para finalizar a escrita do segundo volume de “Na minha pele”, best-seller que vendeu 300 mil exemplares desde 2017.

A aguardada continuação, cuja escrita se arrastava por seis anos, deve aprofundar alguns temas já abordados no primeiro livro, como a construção da identidade brasileira, os dilemas de uma pessoa negra, o preconceito e a constituição familiar. O estilo segue o mesmo — misto de ensaio, memórias e bate-papo —, só que num tom diferente.

— Eu precisava de um ambiente que tivesse sossego, mas também de estímulos, porque agora será um livro mais íntimo, com uma conversa mais intensa — diz Lázaro, que é uma das atrações do LER — Festival do Leitor 2024, no Píer Mauá, Centro do Rio, amanhã, às 17h30.

Lázaro Ramos no labirinto subterrâneo Doze Voltas, em Cabo Verde — Foto: Divulgação/ Débora Melicio
Lázaro Ramos no labirinto subterrâneo Doze Voltas, em Cabo Verde — Foto: Divulgação/ Débora Melicio

O artista esteve em Cabo Verde pela primeira vez em 2018, para participar de um evento literário com outros autores lusófonos. Apaixonou-se de imediato pelo país insular, pontuado por vulcões e com uma população de pouco menos de 600 mil habitantes. “É pequenininho, mas produz muita cultura”, descreveu na época para sua esposa, a atriz Taís Araujo.

‘Um brasilzinho’

Nesta segunda passagem, o contato com a cena artística cabo-verdiana teve forte influência no formato final do novo livro, recém-entregue à editora Objetiva, que tem o título provisório de “Na minha pele 2”. Lázaro optou por escrever fora do hotel a maior parte do tempo, e a cada saída na rua entendia melhor por que havia viajado. Encontrava artistas por acaso em cafés e livrarias e era convidado para assistir a saraus de poesia e para conferir de perto o movimento teatral. Também conheceu a produção de hip hop, expandindo seu conhecimento da música local para muito além da icônica Cesária Évora.

Curiosamente, ele não se aproximou apenas de uma nova cultura, mas de uma pequena fatia de si mesmo. A influência do Brasil no cotidiano do país é tamanha que trovadores cabo-verdianos chamam o arquipélago de “pedaço de Brasil”. “És nosso irmão/ moreno como nós”, cantava Francisco Xavier da Cruz, o lendário B. Leza.

— Os cabo-verdianos dizem que se sentem um “Brasilzinho” — conta Lázaro. — Olha como é engraçado: fui lá buscar um aprendizado e descobri essa identificação tão forte com a gente. No Brasil, tenho uma demanda de falar, dar opinião e passar informações. Aqui, fiquei muito em silêncio, apenas observando. Aprendi que dá para fazer uma viagem para buscar a si mesmo.

Sucesso com Foguinho

Lázaro Ramos (à esq) como Foguinho, ao lado dos atores Taís Araújo e Henri Castelli em "Cobras e lagartos" — Foto: Divulgação
Lázaro Ramos (à esq) como Foguinho, ao lado dos atores Taís Araújo e Henri Castelli em "Cobras e lagartos" — Foto: Divulgação

Astro de cinema e de novelas, Lázaro tem alguma participação no capítulo mais recente dessa paixão de Cabo Verde pelo Brasil. Onde aparecia, era chamado de Foguinho — personagem que interpretou em “Cobras e lagartos”, trama de João Emanuel Carneiro exibida pela TV Globo em 2006 e que fez estrondoso sucesso no arquipélago. Agora com o cabelo platinado após sua participação em “Elas por elas”, ganhou mais uma apelido: “primo do Foguinho”.

— A gente queria que Lázaro se sentisse em casa, como eu me senti quando fui à Bahia — diz a cantora cabo-verdiana Fattú Djakite, que conheceu o ator em um sarau. — Pareceu que já o conhecia, pois ele foi um fenômeno aqui quando fez Foguinho (que ficava rico na novela) e para mim sempre foi referência de preto no poder. Foi uma partilha muito boa, acho que ele sentiu a nossa “morabeza” (termo regional que significa “afabilidade”).

Arte cotidiana

Djakite cresceu ouvindo nomes como Banda Eva, Djavan e Calypso. Quando começou a cantar, incorporou naturalmente composições brasileiras em seu repertório. Já gravou Dorival Caymmi e Ivan Lins, por exemplo, e sua voz pode ser ouvida no refrão da música “Madagascar”, lançada por Emicida em 2015.

— A gente sempre consumiu tudo que é do Brasil — diz ela. — E agora que tudo é funk, consumimos a nova geração do pop também.

A informalidade com que os cabo-verdianos se relacionam com a arte é outra inspiração para Lázaro:

— A produção cultural aqui é uma conversa corriqueira, e é muito lindo vê-los falar sobre produzir música, produzir poesia. No novo livro, falo muito sobre como a arte molda o nosso dia a dia e ajuda a nos enxergarmos. Acredito, pelo meu olhar de visitante, que eles estão justamente tentando se descobrir. A independência de Portugal ainda é recente (completará 50 anos em 2025) e acho que o país está em um aprofundamento da emancipação. Se libertaram do colonizador, mas ainda assim estão se construindo, ou se reconstruindo, ou reforçando o que é importante para eles. Isso, sem dúvida, influenciou o novo livro, em que o tema da emancipação é muito forte.

Movimento coletivo

Lançado em 2017, “Na minha pele” convida o leitor a refletir sobre o impacto das estruturas sociais e raciais na vida de um homem negro. O autor mostra como elas influenciaram sua trajetória pessoal, profissional e familiar, desde a escola até a vida adulta no teatro, e seu trabalho no cinema e na TV. Pensa no que os filhos enfrentarão e como prepará-los para o futuro.

A obra entrou no circuito das escolas e virou best-seller, mas também acompanhou um movimento maior, no momento em que o leitores reivindicavam mais diversidade no mercado e em eventos literários.

Em 2017, Lázaro falava sobre seu livro em uma mesa da Festa Literária Internacional de Paraty (Flip) quando a professora aposentada Diva Guimarães, que estava na plateia, levantou de sua cadeira e deu um depoimento sobre racismo que comoveu o público e viralizou nas redes. Seu discurso praticamente pautou o restante da Flip, que vinha sofrendo críticas por não ter mais autores e autoras negros na programação.

— Acho que ali foi um marco, um símbolo da história da literatura no nosso país, não por eu estar presente, mas pela forma como o discurso de Diva se propagou e mobilizou toda a Flip — diz Lázaro.

'Comporta de sentimentos'

O autor vê uma evolução nos últimos anos, com mais escritores e escritoras negros ganhando prestígio crítico e comercial, como os premiados Eliana Alves Cruz (dos romances “Nada digo de ti, que em ti não veja” e “Solitária”) e Itamar Vieira Júnior, que vendeu mais de 800 mil exemplares com “Torto arado”. Também menciona o épico de Ana Maria Gonçalves, “Um defeito de cor”, que inspirou o samba-enredo da Beija-Flor de Nilópolis este ano.

— “Na minha pele” foi lançado na hora certa, ainda que nada disso tenha sido planejado por nós — diz a editora Daniela Duarte, da Objetiva, que trabalhou no primeiro livro e já está editando a sequência. — Um dos momentos mais legais da minha vida foi acompanhar o Lázaro lançando o livro pelas cidades do Brasil e ver a reação emocionada dos leitores. É uma obra que abriu uma comporta de sentimentos.

A sequência de “Na minha pele” deve refletir essa mudança no mercado editorial e também da sociedade, adianta a editora.

— Lázaro não é o mesmo porque o Brasil não é o mesmo — diz Daniela. — Em questões como raça, por exemplo, a conversa andou para ele. Mas a força e o sentimento da sua escrita continuam iguais, sempre convocando o diálogo. Lázaro é um artista que pensa no seu papel, no que ele deve fazer para estar aberto e ouvir o outro. A sua cabeça está sempre a mil.

Fazendo uma reflexão, Lázaro admite: não esperava que “Na minha pele” chegasse aonde chegou:

— Escrevi o primeiro porque queria comunicar minhas ideias e demorei dez anos para colocar em prática. Achei que ele teria um público nichado, mas quando chegou extrapolou essa barreira. Foi lido por todo tipo de gente e provocou muitos diálogos. Levantou teses em universidades e teve até trechos tatuados no corpo de leitores. Acho que agora a responsabilidade é maior, porque estou propondo o diálogo em uma época em que ninguém mais quer dialogar.

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