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Por — São Paulo

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GERADO EM: 05/07/2024 - 07:30

Exposição Catherine Opie no MASP: Retratos Queer e Iconografia

A renomada fotógrafa Catherine Opie tem exposição inédita no MASP, destacando sua obra queer e retratos icônicos. A mostra explora a representação humana ao longo dos séculos e a importância de seu trabalho na arte contemporânea, especialmente na comunidade LGBTQIA+. A exposição é uma oportunidade única para apreciar seu trabalho e sua relevância no cenário artístico internacional.

São necessários cerca de 40 minutos para que a fotógrafa norte-americana Catherine Opie clique um de seus célebres retratos, segundo sua própria contabilidade. Ela explica que, para chegar às poses — ora imponentes, por vezes vulneráveis —, orienta os modelos, muitas vezes seus amigos ou outros artistas, nos mínimos detalhes. No trabalho, dobra e desdobra cada um dos dedos da pessoa a ser fotografada em busca do posicionamento adequado das mãos e, para direcionar o olhar perfeitamente, cuida da disposição da cabeça e dos olhos.

Todo esse cuidado rendeu à artista, hoje aos 63 anos, um espaço importante na fotografia internacional contemporânea, com obras em importantes coleções de museus internacionais. Seu trabalho remonta décadas de resistência queer nos Estados Unidos, em primeiro lugar, e agora poderá ser apreciado, sob uma ótica inédita, em uma exposição exclusiva no Museu de Arte de São Paulo (Masp). A exibição, que abre hoje e vai até 27 de outubro, integra o ano que celebra as Histórias da Diversidade LGBTQIA+.

Catherine Opie (Sandusky, Ohio, EUA, 1961) Idexa, 1993 — Foto: Catherine Opie
Catherine Opie (Sandusky, Ohio, EUA, 1961) Idexa, 1993 — Foto: Catherine Opie

Na exibição, dezenas de obras da artista são exibidas ao lado de 21 retratos que fazem parte do acervo do museu. Estão lá, portanto, o ícone Van Gogh (1853-1890), Francisco Goya (1746-1828) e o alemão Hans Holbein (morto em 1543), por quem a fotógrafa guarda um interesse ímpar. Lado a lado, as imagens que fazem parte do cânone da pintura europeia e as fotografias de Opie sugerem uma análise de como a representação humana foi trabalhada ao longo de séculos — e como algumas feições, construções e temas se repetem.

Embora por vezes fosse lembrada como uma figura que bebe de referências barrocas e renascentistas, Opie nunca havia estrelado uma exposição individual em que esse tipo de comparação fosse feita. E, se depender de sua vontade, será a única oportunidade de ver seu trabalho dessa maneira.

— Não quero que todo mundo de repente comece a se interessar por mostrar minha obra ao lado de pinturas porque foi um sucesso aqui no Masp. Acho que essa é uma exposição única na vida, não gosto de mostras itinerantes, como coisa de um caixeiro viajante. Não acredito nisso — afirmou a fotógrafa ao GLOBO. — Acho, porém, que se você ama arte é uma exposição que vale a pena viajar ao Brasil para ver.

Retrato de Catharina Opie ao lado de obras clássicas, em exposição no MASP — Foto: Maria Isabel Oliveira / O Globo
Retrato de Catharina Opie ao lado de obras clássicas, em exposição no MASP — Foto: Maria Isabel Oliveira / O Globo

Chamada de “Catherine Opie: o gênero do retrato”, a exibição recebe os visitantes no subsolo do Masp com uma interessante combinação. Um autorretrato da artista ladeado de outro autorretrato, mas este pintado pelo mestre holandês Rembrandt van Rijn (1606-1669) e seu ateliê. Enquanto Catherine aparece de colo nu, trajando apenas um par de óculos, numa tarde calorenta em que havia trabalhado múltiplas horas, o ícone barroco pintou (séculos antes) a si mesmo de corrente de ouro, um tipo de boina e uma sobreposição de roupas. Ao falar sobre o artista, a fotógrafa faz toda a celebração necessária ao artista que a acompanha, mas cita certa proximidade entre a natureza dos trabalhos.

— Não há ninguém como Rembrandt. Na verdade, acho que é assim com toda a coleção (do MASP). Mas essa mostra faz uma relação entre a representação humana, o tempo em que ela acontece e a história do retrato em si. Quando o Masp começou a fazer esse trabalho e me mostrou os cavaletes de Lina Bo Bardi (1914-1992) e me sugeriu que mostrássemos a arte contemporânea com os grandes mestres eu quase não acreditei — afirma.

Ao lado do curador Guilherme Giufrida, parte do grupo de especialistas fixos do Masp, a artista passou alguns dias em seu ateliê, em Los Angeles, compondo as combinações de obras do acervo da instituição — sem economizar nos grandes nomes que compõem a coleção, e obras fotográficas da artista que, de alguma forma, se comunicam com as pinturas.

Retrato de Catharina Opie ao lado de obras clássicas, em exposição no MASP — Foto: Maria Isabel Oliveira / O Globo
Retrato de Catharina Opie ao lado de obras clássicas, em exposição no MASP — Foto: Maria Isabel Oliveira / O Globo

Entre um dos mais marcantes "pares" está uma cópia da fotografia de nome Self-Portrait/Pervert (do inglês autorretrato/perverter), de 1994. Nela, Opie aparece com os seios à mostra, dezenas de agulhas de seringa encravadas no braço e com a palavra que dá nome ao quadro entalhada sobre o tórax. Na imagem há sangue fresco na escrita encravada na pele da artista, o mesmíssimo traço que permanece até hoje em seu corpo — como se fosse uma fina tatuagem branca. Ao lado da imagem (forte, diga-se) há uma pintura de Francisco Goya, o Retrato de Fernando VII (1808).

— Quando fiz esse quadro, em 1994, a América estava se individualizando. Encarava como se eles mesmos fossem pessoas que quisessem constituir família, que tinham valores diferentes. E enxergavam a comunidade de lésbicas como gente pervertida em couro — rememora. — Olhando para esse Goya, bem… quem diria que ele (retratado na imagem) não é um pervertido? O que essa palavra quer dizer? Eu tatuei isso, mas não sou uma pervertida. Não, dentro da minha dinâmica de relacionamentos e de consenso (nas relações) eu não sou. Estou pensando, quem somos nós para classificar diferentes ideias de identidade?

Ela confessa, porém, que fazer esse trabalho foi “duro” à época. Embora sua recepção na Whitney Biennial, em 1995, nos Estados Unidos, tenha sido uma importante mola de propulsão para seu trabalho a partir dali.

— As pessoas ficaram com medo de mim e eu não gostei de assustar as pessoas. Muita gente, fora da comunidade (LGBTQIA+), da época não estava pronta para falar sobre corpos, sangue e AIDS dessa maneira. Era muito radical — diz.

Entre outros pontos de parada na exibição há o retrato do ator transgênero Elliot Page, feito por Opie para ilustrar a biografia do artista “Pageboy: memórias”, lançado no Brasil em 2023. Há ainda um retrato de um rapaz identificado apenas como J., ao lado da "pintura do poeta Henry Howard, conde de Surrey" (1542), feita por Hans Holbein. Nesse caso, impressionam as semelhanças de ambos os retratos: da posição do rosto ao fundo azulado.

Catherine Opie (Sandusky, Ohio, EUA, 1961) J., da série Ser e ter, 1991 — Foto: Catherine Opie
Catherine Opie (Sandusky, Ohio, EUA, 1961) J., da série Ser e ter, 1991 — Foto: Catherine Opie

Embora seja aberto a diversos tipos de arte, é raro ver no Masp uma exposição de tamanho fôlego baseada em fotografias. O trabalho, explica Guilherme Giufrida, um dos curadores da exibição, coleciona diversos trunfos que ajudam a dar potência ao ano dedicado às histórias queer, determinado pelo museu.

— Queríamos dar um panorama diverso de artistas trans, gays, lésbicas, era uma premissa para nós. E encontramos no nome da Catherine Opie uma referência fundamental para o retrato como um todo, da fotografia contemporânea, da discussão queer e especificamente da posição da mulher lésbica. Havia para nós diversas camadas do trabalho dela que interessam— afirma Giufrida. — Existe um déficit do conhecimento do trabalho da Cathie no Brasil. Nos Estados Unidos e na Europa há uma quantidade gigante de exposições, presença em acervos e há muita pesquisa sobre ela. Ela faz um diálogo contundente e pioneiro.

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