Há seis anos, um executivo musical chamado Merck Mercuriadis deu início a uma nova onda de negócios no setor. À frente da empresa Hipgnosis, começou a comprar catálogos musicais de artistas como Neil Young, Shakira, Justin Bieber e Red Hot Chili Peppers. Agora, Mercuriadis vai deixar seu cargo, em meio à venda dos ativos da Hipgnosis para a gigante de private equity Blackstone.
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A empresa tem uma estrutura complexa. O Hipgnosis Songs Fund é um “fundo de investimento”, cotado na Bolsa de Valores de Londres e que detém os direitos de dezenas de milhares de músicas. Uma empresa separada, a Hipgnosis Song Management (dirigida por Mercuriadis) é sua “consultora de investimentos”, realizando grande parte do trabalho de negociação e administração dessas músicas. Em 2021, a Blackstone investiu US$ 1 bilhão para assumir o controle majoritário da empresa de consultoria. O conselho do Hipgnosis Songs Fund votou na segunda-feira para aceitar a oferta da Blackstone de US$ 1,6 bilhão pelos ativos da empresa, anunciou a empresa na terça-feira.
Após abrir o capital em 2018, a Hipgnosis teve um começo brilhante. A empresa investiu mais de US$ 2 bilhões na aquisição de direitos de músicas de artistas, sob o argumento de que os royalties de canções pop poderiam ser “mais valiosos do que ouro ou petróleo.”
Mercuriadis criticava duramente a indústria musical, alegando que os conglomerados que dominavam o negócio não conseguiam gerir adequadamente o conteúdo. Em conversas privadas, pessoas do setor afirmavam que a Hipgnosis estava pagando demais pelos catálogos, inflacionando os preços. Em 2021, a indústria musical teve US$ 5,3 bilhões em transações de catálogo, muitas delas provenientes de acordos com artistas individuais, segundo estimativa da Midia, que estuda a mídia digital e a indústria musical.
“As pessoas veem as músicas como objetos inanimados; Eu não”, disse Mercuriadis ao "New York Times" em uma entrevista em 2020. “Acho que elas são a grande energia que faz o mundo girar e acho que merecem ser gerenciadas com o mesmo nível de responsabilidade que os seres humanos.”
Mas no ano passado, os investidores do Hipgnosis Songs Fund ficaram descontentes com o preço das ações da empresa, que tinha caído muito abaixo do valor dos seus ativos. Então, em outubro, os acionistas votaram contra a manutenção da estrutura da empresa.
Isso desencadeou uma série de mudanças, incluindo uma revisão severa por parte de um novo consultor financeiro, que reduziu o valor dos ativos da empresa em 26%. O relatório também descobriu que a Hipgnosis Song Management pagou a mais pela maior parte de seu catálogo e exagerou nas receitas e ganhos do fundo.
Em Abril, o Hipgnosis Songs Fund chegou a um acordo provisório para vender os seus ativos por US$ 1,4 bilhão à Concord, uma grande empresa musical independente americana cujo portfólio inclui editoras como Fantasy, Rounder e Loma Vista. Mas seguiu-se uma guerra de ofertas com a Blackstone.
Na semana passada, Mercuriadis anunciou que deixaria a Hipgnosis Song Management assim que a aquisição do catálogo completo pela Blackstone fosse concluída.
“Esta é uma oportunidade para eu empreender uma mudança estratégica de foco”, disse ele em comunicado, “e passar mais tempo defendendo os compositores para garantir que eles sejam devidamente remunerados pelo seu trabalho”.