Cultura
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Por Lindsay Zoladz, The New York Times

RESUMO

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GERADO EM: 22/07/2024 - 10:52

Popstars abordam transtornos alimentares

Estrelas do pop como Billie Eilish, Taylor Swift e SZA quebram tabus ao falar sobre pressão e transtornos alimentares. Confissões revelam luta contra padrões de beleza e dismorfia. Discussões abrem caminho para reflexão sobre imagem corporal na cultura pop.

Juntos, os nomes das duas primeiras músicas do terceiro álbum de Billie Eilish, "Hit me hard and soft", formam uma dupla provocativa: "Skinny" (Magricela) e "Lunch" (Almoço). "As pessoas dizem que estou feliz/ só porque emagreci", ela canta na abertura, a voz melancólica acompanhada apenas de uma guitarra lúgubre. "Mas o bom e velho eu continua sendo parte de mim, talvez a mais verdadeira. E acho que é bonita", canta.

A letra é um soco no estômago. É também um indicativo de uma mudança sutil entre a atual geração de estrelas pop femininas, que recentemente passou a admitir — muitas vezes em linguagem dura, marcante, e até mesmo estimulante — a pressão que sente para se manter magra.

Taylor Swift, que se abriu pela primeira vez sobre sua luta contra os transtornos alimentares em uma sequência poderosa de seu documentário de 2020, "Miss americana", canta sobre o tema na faixa do álbum de 2022 "You're on your own, kid", uma ode benevolente ao seu eu mais jovem: "Eu dava festas e deixava o meu corpo esfomeado como se fosse ser salva por um beijo perfeito".

No mês passado, em uma participação especial no remix de "Girl, so confusing" de Charli XCX, a cantora neozelandesa Lorde confessou que as flutuações de peso a levaram a se afastar dos olhos do público. "Nos últimos dois anos andei lutando contra meu corpo. Tentei passar fome até emagrecer, mas depois recuperei todo o peso", ela canta dolorosamente.

Há anos a conversa sobre o peso no mundo pop gira em torno de uma cantora ousada o bastante para tocar no assunto e absorver a reação tóxica: a rapper Lizzo. Em suas letras, nas redes sociais e em sua linha de modeladores, ela valoriza o amor próprio, tornando-se símbolo do movimento em prol da positividade corporal. No início deste ano, porém, disse ao "The New York Times" que havia "evoluído para a neutralidade corporal, mas não vou mentir dizendo que amo meu corpo todos os dias".

Parte das críticas que Lizzo enfrenta está enraizada no racismo, e é impossível separar o diálogo sobre a imagem corporal da raça e das maneiras distintas com que os corpos negros, pardos e brancos são dissecados, criticados e idolatrados.

Lizzo canta no festival Glastonbury, na última sexta-feira (4) — Foto: Oli SCARFF / AFP
Lizzo canta no festival Glastonbury, na última sexta-feira (4) — Foto: Oli SCARFF / AFP

Latto recentemente falou sobre as críticas on-line que a levaram a fazer uma cirurgia plástica aos 21 anos para aumentar as nádegas. No ano passado, a rapper, que é parda, contou: "Enquanto eu não fiz a cirurgia, diziam que eu tinha puxado o bumbum da parte branca da família."

A cantora e compositora SZA, falando à revista "Elle" sobre o procedimento semelhante que fez (e sobre o qual cantou em seu álbum de sucesso de 2022, "SOS"), revelou: "Não sucumbi à pressão da indústria, mas aos meus próprios olhos no espelho."

Beyoncé — Foto: Divulgação
Beyoncé — Foto: Divulgação

Mesmo assim, a magreza sempre parece transcender todos os outros padrões de beleza. Em "Homecoming: a film by Beyoncé", que mostrou a preparação da superestrela para seu aclamado show no Coachella, Beyoncé deu detalhes da dieta restritiva que adotou para emagrecer rapidamente o que engordou durante a gravidez dos gêmeos: "Estou com fome", disse.

Para as jovens cantoras que estão encarando um dos últimos verdadeiros tabus da música pop — cantando sobre os distúrbios alimentares e a dismorfia corporal —, a pressão da magreza pode ser avassaladora. À primeira vista, o momento musical atual é do poder feminino impenitente, da violação de regras, mas ao mesmo tempo é um período em que os padrões de beleza são particularmente massacrantes, acentuados pela ascensão das plataformas de redes sociais de imagem como o Instagram e o TikTok. Há dois anos, medicamentos para diabetes como o Ozempic se transformara em uma ferramenta poderosa para o emagrecimento e, com isso, inúmeras celebridades e influenciadores passaram a postar fotos com um visual visivelmente mais enxuto.

Quando Eilish, agora com 22 anos, alcançou a fama estratosférica na adolescência, parecia antecipar, e ao mesmo tempo evitar preventivamente a vigilância lasciva sempre dirigida ao corpo de uma jovem estrela pop feminina. No palco e fora dele, parecia simples e descolada vestida em roupas largas, até que uma foto espontânea, feita por um paparazzi, em que aparecia de regata, causou alvoroço na internet. E ela tinha apenas 18 anos. Eilish respondeu com um manifesto falado em seu segundo álbum intitulado "Not my responsibility". Dizem os versos: "Vocês queriam que eu fosse menor?", ela perguntava para os olhos famintos em um murmúrio ameaçador. "Mais fraca? Mais suave?"

Eilish atingiu a maioridade no embalo da era da positividade corporal (e, claro, da "vergonha do corpo", veemente e reacionária). A autoconfiança desafiadora que possui pode dar a impressão de ser a garota-propaganda perfeita para o movimento, mas em entrevistas admitiu que tem lutado muito para melhorar a relação com o próprio corpo. Em 2021, contou que chegou a tomar remédio para emagrecer e começou a ter padrões alimentares descontrolados quando tinha apenas 12 anos. Deu a entender que percorreu um longo caminho desde então, mas, como qualquer pessoa, ainda passa por momentos difíceis. Em uma matéria de capa recente da "Rolling Stone", ela se identificou como "alguém com problemas corporais extremos e com a dismorfia com que convive desde sempre".

Na balança

O perigo do "thinspo" (ou "thinspiration", conteúdo on-line que incentiva objetivos pouco saudáveis) está sempre à espreita e, como acontece com qualquer tema controverso, a linha entre representação e aceitação pode ser confusa, levando a diálogos polarizadas e emoções fortes. É só ver o alvoroço que se seguiu, em outubro de 2022, quando Swift lançou o vídeo de seu sucesso "Anti-Hero", dirigido por ela mesma. O clipe incluiu uma cena muito discutida em que pisa em uma balança que mostra em uma palavra o julgamento sucinto de seus demônios internos. Em vez de um número, estava escrito a palavra "gorda".

A reação negativa veio rapidamente. Em um tuíte viral, a terapeuta Shira Rose criticou a maneira de Swift retratar "sua luta com a imagem corporal". Disse ela: "As pessoas gordas não precisam que lhes seja repetido constantemente que ter uma aparência como a nossa é o pior pesadelo de toda a gente." Posteriormente, a estrela excluiu a tal cena do vídeo, sem oferecer mais comentários ou explicações. A reação em cadeia a "Anti-Hero" foi uma oportunidade perdida para dar início a uma discussão aprofundada sobre a forma como mulheres — particularmente mulheres brancas e saudáveis que lutam contra distúrbios alimentares — podem perpetuar a gordofobia, mesmo no decurso das suas tentativas de emagrecer. Mas como o tema parecia explosivo demais, cada um recuou para o seu canto e o tabu se manteve.

Porém, ao longo do último ano — e principalmente agora, quando a faixa veranil "Lunch" parece emanar das ondas de rádio, algumas das estrelas pop femininas mais famosas estão pisando em ovos e usando uma linguagem ligeiramente diferente, até então proibida, para cantar admitindo os transtornos alimentares.

A cantora americana Olivia Rodrigo — Foto: Angela Weiss/AFP
A cantora americana Olivia Rodrigo — Foto: Angela Weiss/AFP

"Comecei a pular o almoço, parei de comer bolo nos aniversários", canta Olivia Rodrigo em "Pretty Isn't Pretty" faixa de seu álbum de 2023, "Guts". (Ela disse a um redator do "Times" que essas cenas foram inspiradas em suas observações durante uma festa a que compareceu. E chamou os padrões de beleza contemporâneos de "besta insaciável".)

É sempre tentador acreditar em uma narrativa edificante de progresso linear e, sob vários aspectos importantes, a generalização do movimento de positividade do corpo levou nossa cultura a um lugar mais acolhedor, perspicaz e inclusivo. Percorremos um longo caminho desde o visual "heroin chic" das top models da década de 1990, ou mesmo o sarcasmo pop do final dos anos 2000, quando uma Jessica Simpson que usava 38 podia ser notícia em todo país por usar – pasmem – um jeans de cintura alta.

Mas as confissões de algumas estrelas pop femininas de maior sucesso de hoje estão comprovando que há muito mais a ser feito. É como Eilish diz em "Skinny" sobre o insaciável apetite da mídia social: "A internet tem fome do tipo mais cruel de beleza. E alguém vai ter de saciá-la."

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