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Por — Rio de Janeiro

RESUMO

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GERADO EM: 28/07/2024 - 03:30

"Álbum colaborativo de Esperanza Spalding e Milton Nascimento celebra a música e a amizade"

Esperanza Spalding e Milton Nascimento lançam álbum inspirado por Wayne Shorter, com participações como Paul Simon. Gravações feitas no Rio incluem clássicos de Milton e parcerias emocionantes, como com Guinga. O disco reflete encontros e emoções únicas, celebrando a música e a amizade.

Morto em março de 2023, o saxofonista e gigante do jazz Wayne Shorter foi o responsável, mesmo que indiretamente, pelo nascimento de “Milton + Esperanza” — álbum que chega na íntegra ao streaming no próximo dia 9, unindo um dos mitos da MPB que mais fascinam público e músicos pelo mundo (Milton Nascimento, 81 anos) e a cantora, compositora e contrabaixista americana que mais tem ajudado o jazz a se renovar e a conquistar plateias jovens (Esperanza Spalding, 39, ganhadora de cinco prêmios Grammy).

Mentor de Spalding (em 2021, eles apresentaram ao mundo “Iphigenia”, a ópera jazz que criaram juntos), Shorter foi quem consagrou o nome de Milton no mundo do jazz, em 1975, ao lançar o álbum “Native dancer”, quase todo ele com releituras de composições do brasileiro. Foi justamente esse disco que fez a americana, ainda jovem, apaixonar-se por Milton e querer conhecê-lo. Depois do primeiro encontro, os dois fizeram um show conjunto no Rock in Rio de 2011 e não se desgrudaram mais. E um dia “Milton + Esperanza” começou a virar realidade.

— Eu estava compondo feito louca, todos os dias, o dia inteiro... e, quando eu estava bem no meio do processo de fazer uma música muito estranha, Wayne Shorter me ligou e perguntou: “O que você está fazendo?” E eu: “Sei lá, não tenho a menor ideia... só sei que estou tentando compor alguma coisa para o Milton!” — conta Esperanza Spalding, numa manhã de sol no Rio, na casa do amigo e ídolo, no Joá. — E aí Wayne disse: “Sim, é isso! Quanto mais estranho, melhor!” E aí saiu “Wings for the the thought bird”, a única música que fiz especialmente para o disco. As outras (como “Late september” e “Get it by now”) foram canções que eu fiz ao longo dos anos pensando no Milton.

E o cantor guarda lembranças do amigo, de outubro de 2022, quando sua turnê de despedida dos palcos passou por Los Angeles.

— Fomos à casa do Wayne Shorter. O pessoal dizia que nós éramos irmãos porque falávamos do mesmo jeito. E aí ele disse (apontando para a janela): “A gente olha para lá e vê tudo. Na próxima vez, a gente vai para lá!” Dias depois, ele faleceu — conta Milton, sentido. — Eu não sabia que ia ser a última vez que nos falaríamos.

Capa do álbum "Milton + Esperanza", de Esperanza Spalding e Milton Nascimento — Foto: Reprodução
Capa do álbum "Milton + Esperanza", de Esperanza Spalding e Milton Nascimento — Foto: Reprodução

“Em honra a este último momento”, como diz, Spalding escolheu uma composição de Shorter, “When you dream” (do álbum “Atlantis”, de 1985), para encerrar seu álbum com Milton — e ainda chamou a viúva do saxofonista para participar da faixa. Mas, além das suas próprias composições para o brasileiro e da homenagem a Shorter, não poderiam faltar a “Milton + Esperanza” os clássicos da obra miltoniana.

— Peguei as canções do Bituca que eu quis cantar desde que as ouvi, as que eu amo de paixão, mas que não tivessem sido tão gravadas a ponto de ser ridículo regravá-las — explica Esperanza Spalding (que já havia gravado, com sucesso, “Ponta de areia” em 2008 e acabou se decidindo desta vez por “Cais”, “Outubro” e “Morro velho”). — Você se aposenta nessas canções, você simplesmente se recosta nelas e tudo mais para!

As gravações de “Milton + Esperanza” foram realizadas ao longo do ano passado, no Rio de Janeiro, no estúdio Companhia dos Técnicos (antigo estúdio da gravadora RCA, em Copacabana) e na própria casa de Milton Nascimento — onde, por sinal, a dupla, mais a banda da americana e os músicos brasileiros que tocaram o disco, se reuniram este mês para gravar o especial Tiny Desk, de shows realizados em ambientes intimistas, da Rádio Pública Nacional dos Estados Unidos, a NPR.

— Foram momentos de muita felicidade, nos divertimos muito ao gravar o disco — suspira Esperanza Spalding. — No dia em que Tim Bernardes apareceu aqui na casa do Milton, estava rolando um churrasco, Arthur Verocai e o (grupo americano de jazz) BadBadNotGood estavam aqui. E de repente ele começou a tocar uma música para o Milton... o que acontecia, a gente agarrava, foi tudo muito natural, orgânico.

Tim tocou “Saudade dos aviões da Panair”, do álbum “Minas” (1975) — e a música acabou entrando em “Milton + Esperanza” numa interpretação que reuniu ainda Maria Gadú, a cantora inglesa Lianne La Havas (de passagem pelo Rio e pela casa de Milton) e o violonista Lula Galvão.

— Pra mim foi uma honra inacreditável poder cantar essa música com Milton e Esperanza. Eu nunca tinha gravado com ele, que é um dos meus heróis — conta Tim Bernardes, de 33 anos. — Essa era uma música que me deixou louco quando ouvi pela primeira vez no “Minas”, e a Esperanza ficou animada quando eu mostrei e foi logo pedindo para eu gravar umas vozes, foi me guiando nos vocalises.

Nesse mesmo esquema descontraído de gravações (que Esperanza Spalding fez questão de deixar impresso no disco, incluindo trechos de conversas nas músicas), entrou Guinga, com seu violão e a sua música “Saci”, feita há 54 anos, com Paulo César Pinheiro, quando era um jovem de apenas 20. Até então, essa canção tinha tido poucas gravações, entre elas a sua própria e a de Monica Salmaso e Paulo Bellinati. Agora, Milton enfim pôs sua voz nela.

— Fui compondo como se estivesse ouvindo a voz do Milton e pensando na figura folclórica do Saci. Só o que eu disse ao Paulo César é que eu sentia que ela deveria ter a palavra “retinto” — recorda-se Guinga, que aos 17 anos esteve no mesmo festival em que o ídolo seria descoberto pelo Brasil com “Travessia”. — Nunca quis alugar o Milton, o que me interessava era a pessoa artística dele. Mas agora, 57 anos depois, estou aqui com ele. Só a gargalhada do Milton (preservada na faixa), para mim, já valeu ter composto essa música!

Difícil no disco, para Milton (que está se mudando para uma outra casa no Joá, com menos obstáculos para as suas limitações de locomoção), foi mesmo “segurar o coração”.

— Para falar a verdade, eu quase morri de satisfação. Esperanza é um daqueles altos, um daqueles máximos... e um dia ela ainda falou que, se o Wayne Shorter e o Miles (Davis) achavam que eu era bom, ela também achava — orgulha-se.

A americana, por sua vez, conta ter sonhado muito com “Milton + Esperanza”.

— Todos nós temos heróis e nossas musas, mas não acho que pensei alguma vez seriamente que iria fazer um disco com esse cara. Era um sonho. Não posso dizer que me preparei para esse disco, porque durante muito tempo ele parecia impossível — admite. — Quando o filho do Milton (Augusto, também guardião de sua carreira) disse “vamos fazer esse disco”, eu não estava preparada de forma alguma. Mas rapidamente eu dei um jeito!

Beatles e Michael Jackson

Entre as preocupações de Spalding, além de cantar num português impecável (“Só estava tentando fazer direito nas músicas do homem!”), estava a de que Milton pudesse escolher algumas músicas que gostaria de cantar. E ele queria algo dos Beatles (que, depois de muita deliberação, acabou sendo “A day in the life”, do LP “Sgt. Pepper’s Lonely Hearts Club Band”) e “Earth song”, de Michael Jackson (“É demais aquilo lá, coisa de gênio”, diz ele).

— Era difícil fazer algo com essa canção que Michael já não tenha feito — admite Esperanza Spalding. — Mas eu confiei nesse cara quando ele disse que íamos fazê-la. Foi muito tempo que eu passei no piano tentando chegar a algo que fosse diferente. Nós gravamos o instrumental, pusemos nossas vozes nela, mas sentimos que ainda estava faltando algo. E, pensando no espírito da música, cheguei à conclusão de que a voz de Diane Reeves ficaria perfeita nela.

Além de Reeves, outra voz ilustre fez participação em “Milton + Esperanza”: a de Paul Simon, com quem ele já havia gravado em 1987 (na faixa “O vendedor de sonhos”, do seu LP “Yauaretê”) e em 1990 (em “Spirit voices”, do álbum “The rhythm of the saints”, de Simon). Desta vez, o americano canta em português “Um vento passou”, música nova de Milton, cheia de referências a canções do amigo, como “The sound of silence” e “Bridge over troubled water”.

— Eu estava com vontade de fazer alguma coisa com o Paul Simon e criei uma música para ele, que antes eu passei pelo Márcio Borges, para fazer a letra, porque o Paul queria cantar em português — conta Milton, que conseguiu encontrar Simon nos EUA para apresentar a música. — Foi uma coisa incrível, porque a gente estava fazendo um show em Nova York e o Paul passou pelo meio do povo e ninguém reconheceu!

Milton Nascimento e Esperanza Spalding no Rock in Rio de 2011 — Foto: Guito Moreto
Milton Nascimento e Esperanza Spalding no Rock in Rio de 2011 — Foto: Guito Moreto

E quanto aos shows de “Milton + Esperanza”?

— O presente é o álbum — garante Spalding, que não sabe ainda nem se vai incorporar as canções do disco aos seus espetáculos. — Não pensei tão adiante assim, tudo o que eu queria era fazer esse disco.

— Por mim, não tem show — carimba Milton, que agora, na aposentadoria dos palcos, só quer mesmo é saber dos amigos e de ver televisão (e, é claro, a novela “Renascer”, que o emocionou muito ao sonorizar uma cena da passagem de tempo com a sua “Clube da Esquina n° 2”). — Inclusive, outro dia eu falei para o Xamã e o Criolo que a parte mais bonita de “Renascer” foi comigo!

Repertório de “Milton + Esperanza”

  1. “The music was there”
  2. “Cais”
  3. “Late september”
  4. “Outubro”
  5. “A day in the life”
  6. “Interlude for Saci”
  7. “Saci” (com Guinga)
  8. “Wings for the thought bird” (com Elena Pinderhughes e Orquestra Ouro Preto)
  9. “The way you are”
  10. “Earth song” (com Dianne Reeves)
  11. “Morro velho” (com Orquestra Ouro Preto)
  12. “Saudade dos aviões da Panair (conversando no bar)” (com Lianne La Havas, Maria Gadú, Tim Bernardes, Lula Galvão)
  13. “Um vento passou” (com Paul Simon)
  14. “Get it by now”
  15. “Outro planeta”
  16. “When you dream” (com Carolina Shorter)

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