Cultura

Novo disco do grupo O Terno marca 'o fim de uma juventude', diz o compositor Tim Bernardes

Quarto álbum do trio paulistano reflete amadurecimento do cantor: ‘Fiquei com vontade de entender o que é o nosso tempo’
O grupo paulistano O Terno Foto: Biel Basile / Divulgação
O grupo paulistano O Terno Foto: Biel Basile / Divulgação

RIO - "Gosto muito de filme que não é drama nem comédia, que é sobre a vida mesmo”, afirma o cantor e compositor Tim Bernardes . Podia ser crítica de cinema, mas é uma orientação ao ouvinte de “<atrás/além>", quarto álbum de seu grupo, O Terno , que sai nesta terça-feira. Aos 27 anos, o paulistano aponta para um disco “que não é agitado nem calmo, nem alegre nem triste”.

Banda das mais vitoriosas na cena do rock alternativo, O Terno volta logo após a aventura solo de Tim com o sofrido e exuberante álbum “Recomeçar” (2017).

— Depois que terminei o “Recomeçar”, eu tinha meio que zerado o meu baú. Me bateu um desespero, e justo numa fase em se juntaram vários vazios — conta. — As músicas do disco d’O Terno refletiam o fato de me ver num ponto zero. E com a vontade de, pela primeira vez, compor um disco em que as canções fossem amarradas entre si. Era uma coisa que tinha acontecido no “Recomeçar”, mas não ainda n’O Terno.

Detalhe da capa de "", álbum do grupo O Terno Foto: Reprodução
Detalhe da capa de "", álbum do grupo O Terno Foto: Reprodução

“<atrás/além>” é, segundo Tim, um disco que nasceu sob o impulso de se jogar no mundo após encerrar seu “período de formação”. Recentemente, conta, saiu da casa dos pais, encerrou um relacionamento amoroso e abandonou antigas referências musicais.

— É a conclusão de um grande ciclo, o fim de uma juventude, com um vazio propositivo para o que vem depois — analisa ele, que este ano atingiu outro patamar da MPB, ao fazer parceria com Jards Macalé (“Buraco da Consolação”, incluída em “Besta fera”, disco de Jards) e ter uma canção gravada por Gal Costa (“Realmente lindo”, no disco “A pele do futuro”).

No novo disco, Tim dá vazão ao seu lado cronista ao falar do “ritmo frenético de um jovem anos 10” (em “Pegando leve”) e da “triste geração que pode tudo” (”Profundo/superficial”).

— Já tem uns anos que eu fiquei com vontade de entender o que é o nosso tempo, ainda mais sendo de uma banda que começou dez anos atrás ouvindo muita coisa das décadas de 1960 e 70 — diz. — O disco reflete sobre essa geração que tem uma superfície muito inflada, alimentada pelas mídias sociais, mas que não é uma geração rasa. Ela tem muitas coisas acumuladas que não saem num tuíte.

No trabalho de estúdio com Guilherme d’Almeida (baixo) e Biel Basile (bateria), as novas composições de Tim ganharam diferentes formatos e orquestrações que ele já tinha explorado no álbum anterior d’O Terno, “Melhor do que parece” (2016), e em “Recomeçar”:

— Depois que eu compus as canções e mostrei para eles, teve um período todo em que os três criaram os esqueletos das músicas e gravaram as bases. E aí fiquei mais um mês no estúdio fazendo os arranjos de sopros e cordas e gravando com os músicos convidados.

Rock in Rio e Hermanos

As parcerias internacionais d’O Terno se ampliam em “<atrás/além>” com a participação do astro americano de freak-folk Devendra Banhart e do japonês Shintaro Sakamoto na faixa “Volta e meia”. Em outubro, o trio apresenta no palco Sunset do Rock in Rio seu show com o grupo português Capitão Fausto , testado este mês no palco em Lisboa.

— O Capitão Fausto parece a gente num universo paralelo. Eles vieram dos anos 1960, têm um pé na psicodelia, mas sem perder a coisa despretensiosa da canção, com uma busca em falar sobre o nosso tempo. E o público deles parecia o dos shows do Terno — anima-se Tim.

A turnê de “<atrás/além>” começa nos dias 17, 18 e 19 de maio no Auditório Ibirapuera, em São Paulo, e chega ao Circo Voador logo depois, no dia 25. Antes disso, porém, Tim abre com seu espetáculo de “Recomeçar” os shows dos Hermanos no Maracanã (4/5) e na Pedreira Paulo Leminski (em Curitiba, dia 10/5).

— Embora seja um show pensado mais para teatro, com silêncios, luz e escuro, funciona bem também num clima meio Joni Mitchell no festival da Ilha de Wight — acredita o cantor. — O público do “Recomeçar” é muito carinhoso, e o dos Hermanos também. Estou me sentindo num clima hippie, de cantar canções bonitas numa tarde bonita.