Cultura

'O lago dos cisnes' é cancelado no Municipal em função da crise

Cerca de 6.500 ingressos já haviam sido vendidos antecipadamente
"O lago dos cisnes", cancelado no Municipal Foto: Julia Rónai / Divulgação
"O lago dos cisnes", cancelado no Municipal Foto: Julia Rónai / Divulgação

RIO - A nova temporada do espetáculo “O Lago dos Cisnes”, o mais famoso e popular dos balés românticos do mundo, que seria apresentada no Teatro Municipal do Rio neste ano, foi cancelada em consequência da crise econômica do estado. Cerca de 6.500 ingressos já haviam sido vendidos. As apresentações estavam marcadas para acontecerem entre os dias 29 de outubro e 8 de novembro.

Theatro Municipal do Rio de Janeiro Foto: Alexandre Cassiano / Agência O Globo
Theatro Municipal do Rio de Janeiro Foto: Alexandre Cassiano / Agência O Globo

Em comunicado, a direção do Municipal informou na tarde desta quarta-feira que o “cancelamento destas apresentações foi uma decisão de parte dos funcionários do Teatro Municipal, em função da crise financeira que atinge o Estado”. Segundo a mesma nota, os demais espetáculos programados serão realizados normalmente. O valor dos ingressos será devolvido para todos que compraram com antecedência.

“Lutamos para manter o Teatro aberto. Mas no final do ano a situação fica pior. Contas precisam ser pagas, e os juros se acumulam. Infelizmente, é uma situação não só dos servidores do Teatro, mas de todo o Estado”

Edifranc Alves
Primeiro solista do balé do Municipal

"Aos que compraram entradas para a apresentação com antecedência, o valor dos ingressos será devolvido. Quem comprou o ingresso através do site Ingresso Rápido, aplicativo ou em atendimento do mesmo, terá sua compra estornada na próxima fatura. No caso do espectador que comprou o ingresso na bilheteria do Teatro Municipal ou em pontos de vendas físicos, é preciso ir ao mesmo local juntamente com a senha de compra ou ingresso, levando Documento Oficial com Foto e CPF, além do cartão de crédito/débito", informa a nota.

CRISE AGRAVADA NOS ÚLTIMOS MESES

A situação financeira do Theatro tem sido motivo de muitos protestos ao longo do ano . Um deles, de maio, foi feito por bailarinos e músicos da instituição, que se apresentaram na fachada do prédio. Na época, salários e 13º atrasados e falta de verbas ameaçavam o símbolo da Cinelândia.

— Estamos com dois salários atrasados, e agora entrando para o terceiro mês sem receber. Por isso, tivemos quatro assembleias onde se deliberou que não poderíamos levar a temporada oficial de uma apresentação da magnitude de "O lago dos cisnes" na atual condição. — explicou Edifranc Alves, primeiro solista do balé do Municipal. — A situação tem se mantido ao longo dos últimos meses, com ações como SOS Theatro nos ajudando a tentar sobreviver mesmo com a falta de salários.

— Lutamos para manter o Teatro aberto. Mas no final do ano a situação fica pior. Contas precisam ser pagas, e os juros se acumulam. Infelizmente, é uma situação não só dos servidores do Teatro, mas de todo o Estado — desabafou Edifranc, que diz que "O lago dos cisnes" poderá ser encenado caso a situação financeira da instituição se normalize.

A Secretaria Estadual de Cultura foi procurada para comentar o caso, mas até o momento não respondeu.

NOVIDADES NA NOVA MONTAGEM

A apresentação contaria com música de Piotr Tchaikovsky. Já a montagem, muita aguardada, era uma versão coreográfica de Yelena Pankova, criada especialmente para o Ballet do Teatro Municipal, em 2006, e que teve como base a criação original dos coreógrafos MariusPetipa e Lev Ivanov.

O Ballet do Municipal tem direção artística de Ana Botafogo e de Cecília Kerche. Na regência, o maestro titular Tobias Volkmann. A produção conta ainda com a participação de alunos da Escola Estadual de Dança Maria Olenewa. Neste ano, a montagem seria acrescida de um novo desenho de luz, criado pelo premiado Fabio Retti.

"O lago dos cisnes" é considerado um divisor de águas na história do balé clássico, por trazer uma série de inovações ao gênero. Ele fez sua estreia em 1877, com coreografia de Julius Reisinger, para o Teatro Bolshoi de Moscou. Apesar da beleza da música de Tchaikovsky, a temporada foi um fracasso, acentuado pelo fraco desempenho da protagonista, Pelageya Karpakova.

Somente em 1895, dois anos após o falecimento do compositor russo, o balé ganharia uma nova versão consagradora. Em 1894 – quando outros balés com música de Tchaikovsky já eram sucesso, como “A Bela Adormecida”, de 1890, e “O Quebra-Nozes”, de 1892 – o príncipe Ivan Alexandrovich, diretor do Teatro Mariinsky de São Petersburgo, decide prestar-lhe uma homenagem com uma nova versão de “O Lago dos Cisnes”, apresentando apenas o segundo ato com coreografia de Lev Ivanov.

Um ano depois, o balé ganha uma nova versão completa, mantendo o segundo ato coreografado por Ivanov, que é responsável também pelo bailado do quarto ato. Essa versão, que tornou a obra célebre, conta também com coreografia de Marius Petipa para o primeiro e terceiro atos. Desde então, esse balé tornou-se um dos mais populares balés do repertório clássico.