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Cultura

O que Justin Bieber tem a dizer em 2020?

Aos 25 anos, ex-astro mirim prepara disco novo — e o primeiro single, 'Yummy', traz mensagens conflitantes
O cantor canadense Justin Bieber Foto: Divulgação
O cantor canadense Justin Bieber Foto: Divulgação

RIO - Num tempo remoto, bem antes de Billie Eilish e Lil Nas X , havia Justin Bieber — o astro mirim canadense que estourou quase 10 anos atrás com a canção “Baby” e que, cinco anos depois, já adulto e com algumas histórias de mau comportamento no currículo , se reinventou para o sucesso com “Sorry” e “Love yourself” , do disco "Purpose" .

Na última sexta-feira, após quatro anos de participações em faixas de outros artistas ( como “I don’t care”, de Ed Sheeran ), Bieber fez a sua volta ao cenário com “Yummy” , faixa de um álbum que desde já é um dos mais aguardados do ano , ao lado dos novos de Rihanna , Tame Impala e The Weeknd .

Mas o que será que Justin Bieber, aos 25 anos, tem a dizer em 2020? “Yummy” manda algumas mensagens conflitantes. Musicalmente, é uma volta ao r&b de seus trabalhos mais antigos (com a relativa modernidade de uma batida trap), sem grandes peripécias de produção. Ou seja, nada que aponte para novos caminhos ou para uma segunda reinvenção. O refrão, tão infantil quanto o de “Baby”, é contagiante, mas insuficiente para segurar a barra de uma música sobre a qual se depositam tantas expectativas (a voz de Bieber, elástica e melódica, talvez seja o maior trunfo da canção).

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A crítica internacional, em boa parte, desancou “Yummy”. “É um r&b anêmico estragado por uma letra estúpida e uma batida sincopada e cansada”, fuzilou Eric Torres, do site “Pitchfork”. Steffanee Wang, do “Nylon”, arrematou: “Enquanto seus singles tropicais do disco ‘Purpose’ pareciam incluir todos os tipos de sons em sua produção — o tic-tac de relógios e aqueles vocais do tipo golfinho — ‘Yummy’, em comparação, é um pop bastante convencional.”

Já o videoclipe da canção, dirigido pelo canadense Bardia Zeinali, acrescenta camadas de paradoxo à problemática condição de Justin Bieber nos anos 20. Por um lado, ele apresenta um personagem desafiador, em um salão de jantar meio decadente, onde os mais velhos e mais ricos devoram comidas feias e caras, em takes até mesmo desagradáveis. Mas o cabelo rosa do cantor, combinando com o agasalho de mesma cor (da grife de Bieber, Drew House) e uma persistente cara de bebê parecem anular qualquer possibilidade de crítica social.

Canção monogâmica e sexy

Artista que disse ter sido liberto pela religião de toda a vergonha e perdoado por seus erros (“Deus me tem exatamente onde quer que eu esteja”, escreveu este ano), o cantor supostamente compôs “Yummy” para a mulher, a modelo Hailey Baldwin — filha do ator Stephen Baldwin e neta do maestro e pianista brasileiro Eumir Deodato .

“Estou feliz que você seja minha dama”, avisa ele na canção, que apesar de monogâmica é flagrantemente sexy. O clipe o mostra, em caras e bocas, a flertar com a câmera — coisa que não se esperaria hoje, por exemplo, de um Kanye West , para ficar entre os astros pop que recentemente se entregaram à Fé. E o vídeo de “Yummy” termina com o cantor dançando em cima da mesa de jantar, depois de tirar o agasalho, revelando suas muitas tatuagens — dificilmente um indicativo de maturidade ou contrição.

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Com um documentário a ser lançado em 2020, além do novo álbum, o que Justin Bieber fez neste começo de ano foi soltar uma grossa cortina de fumaça sobre o seu futuro. Indicaria “Yummy” uma volta completa aos r&b? Isso reestabeleceria seu plano de voo original, que consistia em chegar à idade adulta como um astro pop branco com a vivência das ruas e a sexualidade bruta de um rapper negro.

Ou será que tudo vai ser diferente? O novo disco trará faixas em outros estilos, com inovações musicais análogas às de “Sorry” e “Love yourself”, que fizeram dele um modelo musical seguido por muitos, inclusive no Brasil?

Com muita gente bem mais nova em sua cola, além de alguns resistentes contemporâneos, Justin Bieber parte, cheio de mistério, para a prorrogação.