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Cultura

O que mudou na escalação dos headliners de festivais como Lollapalooza, Rock in Rio e Coachella

Para parte do público, tem sido difícil captar a importância de nomes como Ariana Grande, Tame Impala e Tribalistas
O rapper americano Post Malone, atração do Lollapalooza Brasil de 2019, em show no Barclays Center, Nova York, em 29 de dezembro último Foto: Theo Wargo / AFP
O rapper americano Post Malone, atração do Lollapalooza Brasil de 2019, em show no Barclays Center, Nova York, em 29 de dezembro último Foto: Theo Wargo / AFP

RIO — Rock in Rio, Lollapalooza Brasil, Coachella (EUA) e Primavera Sound (Espanha) vão anunciando as suas atrações para 2019, e os comentários indignados acerca dos headliners — aqueles nomes que aparecem no alto dos cartazes e que, supostamente, vão puxar a venda de ingressos — não tardam a invadir as conversas. Tame Impala? Twenty One Pilots? Ariana Grande? P!nk? Post Malone? J Balvin? Cardi B? Tribalistas? Imagine Dragons?

Para um grupo de pessoas que há alguns anos frequenta esses que estão entre os principais festivais de música pop do Brasil e do mundo (razão suficiente para estourar os limites do cartão de crédito em ingressos, passagens aéreas e hotéis) tem sido difícil captar a importância de alguns dos novos nomes ou mesmo aceitar a ausência de um ou outro monstro sagrado. A música mudou, os festivais mudaram — e alguns fatores são decisivos para entender o que espera o público de um desses festivais em 2019.

A definitiva ascensão do hip-hop

Quase 40 anos após o lançamento do primeiro disco a receber a denominação de hip hop ("Rapper's delight", do Sugarhill Gang), o gênero chegou a níveis de popularidade e relevância artística próximos ao do que o rock teve um dia — com trabalhos que conciliam sucesso comercial, inovação de linguagem e impacto cultural.

Não há mais festival nos dias de hoje que prescinda de um nome do rap em sua escalação principal, seja Rock in Rio ( Black Eyed Peas ), Lollapalloza (Kendrick Lamar, Post Malone), Coachella (Childish Gambino) ou Primavera (Future, Cardi B).

O rock não é mais o que era

A banda psicodélica da Austrália Tame Impala Foto: Divulgação
A banda psicodélica da Austrália Tame Impala Foto: Divulgação

Num outro mundo, em que o público de festivais era composto de pessoas que compravam discos e eram criteriosas nisso, o rock tinha um papel primordial: o de manutenção de uma pureza, de uma fidelidade a princípios estéticos e filosóficos, que separavam o apreciador de música de verdade do ouvinte circunstancial de rádio.

Hoje, essa ideia resiste (um pouco melhor) em alguns redutos, como do heavy metal (que terá uma noite no Rock in Rio, liderada pelo eterno Iron Maiden) ou na insistência heroica de um Pearl Jam em preservar uma mitologia que atravessou décadas.

No novo mundo, quando não é puro exercício de arqueologia (de grupos como Greta Van Fleet, atração do Lollapalooza), o rock é, se muito, um elemento para as investigações multiestilísticas de um Arctic Monkeys, Tame Impala ou Twenty One Pilots .

Pop deixou de ser palavrão

Atração principal de uma das noites do Coachella, Ariana Grande faz pop com densidade Foto: Mario Anzuoni / REUTERS
Atração principal de uma das noites do Coachella, Ariana Grande faz pop com densidade Foto: Mario Anzuoni / REUTERS

Ariana Grande headliner do Coachella? Sim, a ex-estrelinha de musicais infantis é um desses nomes da nova era que, cada vez mais, conseguem fazer música para as massas e, ao mesmo tempo, angariar elogios da crítica.

As oposições mainstream/alternativo e comercial/artístico deixam de fazer sentido diante de um pop cada vez mais elaborado, original e denso, com muitas narrativas, e de um rock que deixa os purismos de lado e investe em produção radiofônica ( Imagine Dragons , Twenty One Pilots) sem o medo de perder sua respeitabilidade.

A força feminina

Beyoncé: rainha do Insta Foto: Kevin Winter / Getty Images for Coachella
Beyoncé: rainha do Insta Foto: Kevin Winter / Getty Images for Coachella

Beyoncé, Lady Gaga, Katy Perry e Rihanna abriram as comportas. Hoje, a presença feminina deixou de ser um adorno dos festivais e tornou-se um item indispensável, entre headliners e atrações secundárias.

Erykah Badu, Cardi B, Janelle Monáe, Solange (irmã de Beyoncé e estrela de luz própria no novo r&b) a a ascendente espanhola Rosalía são atrações principais da próxima edição do Primavera Sound, que se orgulha de ser a primeira em qualquer festival a ter dividido igualmente o número de artistas entre homens e mulheres. P!nk e Ariana Grande marcam seu território nos outros festivais que, no caso do Rock in Rio, com atrações a confirmar, ainda pode trazer surpresas.

O impacto do streaming

SC Show de Os Tribalistas, com Arnaldo Antunes, Marisa Monte e Carlinhos Brown Foto: Leonardo Aversa / Divulgação
SC Show de Os Tribalistas, com Arnaldo Antunes, Marisa Monte e Carlinhos Brown Foto: Leonardo Aversa / Divulgação

De tudo o que involve a mudança de consumo de música nos últimos anos, o mais notável na difusão das plataformas de streming foi a possibilidade que gêneros e artistas de fora do grande circuito ganharam de concorrer com os gigantes do mainstream.

Isso explica tanto o inédito êxito comercial do do rap e a chegada da nova geração mutante do rock (Imagine Dragons, Twenty One Pilots, The 1975) quanto a nova onda latina (de J Balvin, colombiano headliner do Primavera, e Anitta, que estará no Palco Mundo do Rock in Rio) quanto o ressurgimento fantástico, como artista de palco, dos Tribalistas. Aguarda-se agora, pela via do streaming e das redes sociais, o momento em que o a onda sul-coreana do k-pop (que estourou nos Estados Unidos com o grupo BTS) também chegue aos festivais.