Cultura

'O som do vinil' dedica temporada inteira às mulheres

Em seu décimo terceiro ano, programa apresentado por Charles Gavin no Canal Brasil começa série com Gal Costa
 A cantora Gal Costa em entrevista ao programa "O som do vinil", do Canal Brasil Foto: Ana Paula Amorim / Divulgação
A cantora Gal Costa em entrevista ao programa "O som do vinil", do Canal Brasil Foto: Ana Paula Amorim / Divulgação

RIO - Em 2007, quando estreou no Canal Brasil o programa “O som do vinil” , Charles Gavin ainda era o baterista dos Titãs e um produtor reconhecido por ter tocado projetos de relançamento em CD de discos fundamentais da música brasileira ausentes das prateleiras, como os dois primeiros LPs dos Secos & Molhados. Já o vinil, razão das entrevistas com os artistas, era então um formato marginal da indústria, tendo deixado de ser comercialmente fabricado no país havia mais de uma década.

— Achavam que éramos malucos de fazer um programa com esse nome ! — recorda-se Gavin, que amanhã volta às telas, às 23h, no velho Canal Brasil, apresentando o primeiro episódio da 13ª temporada da atração, dedicado à cantora Gal Costa , que fala sobre seu 40º álbum, “A pele do futuro”, de 2018. — Hoje, a situação se inverteu, e o vinil é o formato físico que restou. Não dá dinheiro, mas garante muito retorno de imagem ao artista.

Depois de 12 temporadas e mais de 300 programas, Gavin, de 59 anos, já tinha entrevistado quase todo mundo que importa na MPB — faltam-lhe ainda os fundamentais Chico Buarque, Roberto Carlos, Jorge Ben Jor e Maria Bethânia. Ali, viu-se diante de um desafio: como trazer algo de novo? Veio então a ideia de fazer a primeira temporada de “O som do vinil” inteiramente feminina, para a qual entrevistou 27 mulheres, que trouxeram uma nova perspectiva para a história da indústria fonográfica brasileira.

— Era uma pauta da qual a gente não podia fugir, a da igualdade de direitos — explica o apresentador. — Na própria equipe do programa são apenas quatro homens no meio de 20 mulheres! Tentei entender como foi possível para elas gravar discos e fazer carreira num país em que só os homens estiveram no comando das gravadoras.

A entrevista com Gal abre uma temporada que vai das lutas de Dona Ivone Lara para se afirmar como compositora no meio machista do samba (em entrevista com a sambista Teresa Cristina) ao discurso incisivo, que não desvia dos temas do feminismo e do racismo, da cantora Xênia França em seu álbum de estreia, “Xenia” (2017). Elza Soares, Doris Monteiro, Wanda Sá, Joyce, Simone, Sandra de Sá, Fernanda Takai e Letrux são alguns dos outros nomes que compõem o painel feminino da nova temporada de “O som do vinil” , cujos cinco primeiros episódios estão disponíveis, também para não assinantes, no Canal Brasil Play.

Simone e Charles Gavin no programa "O som do vinil" Foto: Ana Paula Amorim / Divulgação
Simone e Charles Gavin no programa "O som do vinil" Foto: Ana Paula Amorim / Divulgação

Algumas das cantoras entrevistadas na nova temporada, como Doris, Zélia, Takai e Joyce, já haviam participado de outras edições do programa e, segundo Gavin, tornaram-se suas amigas. Gal veio pela primeira vez e aproveitou o assunto puxado por seu novo disco (que, é claro, teve uma edição em vinil) para conversar com o apresentador sobre outros álbuns clássicos de sua carreira, como “Cantar” (1974) e sobre vida e arte.

— Você encontra maneiras de bater papo, o disco é só um mote, um ponto de partida. Esse não é um programa só sobre música — define o músico que, depois de experiências com as bandas Panamericana e Primavera nos Dentes , acabou de voltar aos blues da adolescência com o Humaitá Blues Combo. — Esse é um trabalho mais relaxado, em que tocamos coisas dos Allman Brothers e Grand Funk Railroad, mas também o que entendemos como blues brasileiro, de Zé Ramalho, Luís Melodia, Raul Seixas e Rita Lee.