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Cultura

'Os sertões', de Euclides da Cunha, rende mesas na Flip, exposição, podcast e lançamentos

Na Flip, a obra do escritor será debatida em várias mesas, mas as celebrações não se limitam ao Centro Histórico de Paraty
Prisioneiros do arraial de Canudos após o confronto com o Exército retratado em “Os sertões”; a foto faz parte da exposição “Euclides da Cunha. Os sertões — testemunho e apocalipse”, na Biblioteca Nacional Foto: Divulgação
Prisioneiros do arraial de Canudos após o confronto com o Exército retratado em “Os sertões”; a foto faz parte da exposição “Euclides da Cunha. Os sertões — testemunho e apocalipse”, na Biblioteca Nacional Foto: Divulgação

Pronunciar os nomes das mesas da programação principal da 17ª Festa Literária Internacional de Paraty, a Flip, sem enrolar a língua ou tropeçar nas sílabas não é fácil. Todas as mesas receberam nomes inspirados na topografia do sertão baiano, onde ocorreu a Guerra de Canudos (1896-1897), narrada por Euclides da Cunha, o autor homenageado desta edição, em “Os sertões”. Alguns nomes são simples, como “Canudos”, “Troia de Taipa” e “Mata da Corda”. Outros exigem alguma experiência com trava-línguas, como “Massacará”, “Jeremoabo”, “Uauá” e “Quirinquinquá”.

“Canudos” empresta o nome à Sessão de Abertura, uma aula da crítica literária Walnice Nogueira Galvão, professora da USP e estudiosa de “Os sertões”, sobre a obra de Euclides. Depois da aula, acontecerá o espetáculo “Mutação de apoteose”, encenado pela Universidade Antropofágica e com direção artística da atriz Camila Mota. O espetáculo é inspirado em um trecho de “A terra”, a primeira parte de “Os sertões”, e apresenta canções escritas para o Teatro Oficina nos anos 2000.

A homenagem a Euclides resultou em uma Flip mais política. As mesas discutirão temas como gênero, raça, questão indígena, ciência e meio ambiente.

— Ele faz grande literatura de não ficção, unindo jornalismo, filosofia e história na narrativa de um conflito. Mas também discute uma série de assuntos muito pertinentes para este momento do Brasil — disse Fernanda Diamant, curadora da Flip, ao GLOBO ao justificar a escolha do autor.

Euclides aparece diretamente em algumas mesas, além da Sessão de Abertura”, como “Monte Santo”, com o crítico de cinema Ismail Xavier e o cineasta português Miguel Gomes. Xavier é autor de “Sertão mar – Glauber Rocha e a estética da fome”, que analisa a representação sertaneja no Cinema Novo. Gomes, atualmente, dirige “Selvageria”, uma adaptação cinematográfica de “Os sertões”.

A mesa “Serra Grande” recebe Maureen Bisilliat, fotógrafa britânica naturalizada brasileira que fotografou o Nordeste entre 1967 e 1972. Os retratos foram reunidos no livro “Sertões: luz & sombra”, que inclui trechos da obra de Euclides. O livro foi reeditado recentemente pelo Instituto Moreira Salles (IMS). Fotografias de “Sertões: luz & sombra” estão expostas na Casa do IMS, que funcionará no Centro Histórico de Paraty durante a Flip.

Para além da Flip

As homenagens à geografia euclidiana não se limitam a Paraty. Na última quinta-feira (4), a Biblioteca Nacional inaugurou a exposição “Euclides da Cunha. Os sertões, o testemunho e o apocalipse”, dedicada à trajetória do escritor. Estão expostas 130 peças do acervo da Biblioteca, como uma caderneta que provavelmente estava no bolso do paletó de Euclides quando ele foi assassinado, conservando marcas de pólvora.

Hoje, às 15h, o Instituto Estação das Letras abre sua programação de férias com um encontro para discutir “Os sertões”. O encontro custa R$ 50 e será comandado pelo cineasta Noilton Nunes, de “A paz é dourada”, filme inspirada na vida e na obra de Euclides.

O mercado editorial, é claro, não ficou de fora das homenagens. A Penguin, selo da Companhia das Letras, acaba de botar nas livrarias uma nova edição de “Os sertões”. Recentemente, a Editora Unesp publicou “Inéditos e dispersos”, organizado pelos pesquisadores Leopoldo Bernucci e Felipe Rissato. O livro reúne textos escritos por Euclides de 1883, quando ele tinha apenas 17 anos, até sua morte, em 1909. São ensaios inéditos e também esboços de textos publicados em outras obras, como “Contraste e confrontos”. Ao GLOBO, Bernucci afirmou que ainda há inéditos de Euclides a ser publicados, como sua correspondência.

A Unesp também acaba de publicar uma nova edição de “À margem da história”, último livro organizado por Euclides e publicado postumamente, em 1909. “À margem da história” reúne ensaios sobre o Brasil: dos seringueiros amazônicos ao contraste entre as civilizações litorânea e sertaneja, tema que ele começou a desenvolver com “Os sertões”.

Na última quarta-feira, a Rádio Batuta, do IMS, lançou a série de podcasts “Sertões: histórias de Canudos”. Em cinco episódios, Guilherme Freitas, editor-assistente da revista“serrote”, narra a guerra entre o exército republicano e os sertanejos de Canudos. Os episódios contam com depoimentos de estudiosos e leitores de Euclides, e estão disponíveis no site da Rádio Batuta e no canal do IMS no YouTube.