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Cultura

'Peter Pan': versão brasileira de musical da Broadway estreia no Rio

Superprodução que custou R$ 12 milhões e bateu recorde de bilheteria em São Paulo quase não ganha temporada carioca
Cena de 'Peter Pan, o musical' Foto: João Caldas / Divulgação
Cena de 'Peter Pan, o musical' Foto: João Caldas / Divulgação

RIO — Por pouco “Peter Pan, o musical” não chega ao Rio. Vista por 160 mil pessoas durante os cinco meses em que ficou em cartaz em São Paulo, com direito a recorde de bilheteria do Teatro Alfa (R$ 7 milhões) e elogios da crítica, a superprodução milionária só estreia nesta quinta-feira, na Cidade das Artes, porque a produtora Renata Borges resolveu reinvestir praticamente todo seu lucro da temporada paulista (R$ 2,7 milhões) por aqui.

“Peter Pan, o musical” consumiu R$ 12 milhões, sendo R$ 9 milhões captados via leis de incentivo fiscal. Trata-se da versão brasileira mais cara de um espetáculo da Broadway que a cidade já viu até o momento (e apenas um “musical original”, o do Rock in Rio, de 2013, chegou ao mesmo valor). Antes, “A Família Adams”, com perfil diferente por ser réplica exata do espetáculo americano, teve investimento maior: custou R$ 26 milhões e se tornou, também em 2013, o recorde da história dos palcos nacionais.

— Como não conseguimos captar tudo, poderia ter ficado em São Paulo e terminado no lucro, sem assumir esse risco. Foi o que fizeram todas as grandes produções que estrearam lá no ano passado, ( “Cantando na chuva”, “Annie” e “O fantasma da Ópera”, por exemplo ), que teriam que captar mais para vir para o Rio — diz Renata, da Touché Entretenimento, responsável por outros clássicos, como “Cinderella”, “Sim, eu aceito” e “Como eliminar seu chefe”. — Mas quero continuar acreditando no Rio, que sempre foi referência no setor teatral.

Bossas brasileiras

O fato de a Cidade das Artes trabalhar com o percentual de 20% da bilheteria em vez de um valor mínimo fixo — para musicais de grande porte, ele pode variar de R$ 14 a R$ 18 mil por sessão —, foi fundamental para a concretização da temporada. A estrutura da casa da Barra, aliás, é perfeita para acolher a superprodução, repleta de efeitos especiais.

Só Peter Pan (interpretado pelo ator Mateus Ribeiro) voa nove vezes pelo palco, o que só pôde acontecer porque técnicos americanos capacitaram profissionais brasileiros para operar os equipamentos. Uma bossa exclusiva da montagem brasileira é o crocodilo em tamanho original, que anda para a frente e para trás, além de abrir a boca. A geringonça foi construída fora do país e substituiu o ator que rastejava no chão vestido como o bicho na montagem original.

Outro elemento inédito que faz diferença é a presença de uma atriz (Natacha Travassos) no papel de Sininho. Pelo mundo afora, a fadinha é representada por um facho de luz, mas a produtora conseguiu autorização para apresentá-la em tamanho natural.

— Falei para eles: “Vocês estão lidando com o Brasil, as pessoas são muito passionais, precisam ver a Sininho” — conta Renata. — Fizemos ainda a floresta da Terra do Nunca em estilo “Avatar”. Precisamos da tecnologia para nos comunicar com essa criançada conectada.

O diretor José Possi Neto também fez questão de incluir assinatura própria da equipe brasileira em “Uga uga”, quadro do segundo ato que retrata os índios.

— A produção da Broadway era ridícula, colocava música clássica. Criamos uma estrutura percussiva afro-indígena e uma coreografia linda — afirma ele, para quem a fábula do menino que não quer crescer fala com públicos de todas as idades. — É um texto elaborado, com crítica e sarcasmo, que continua falando através do tempo. Nem percebi que era uma história infantil.

Coleção de prêmios

“Peter Pan, o musical” chega ao Rio com Tuca Andrada como Capitão Gancho no lugar de Daniel Boaventura e a moral de ter abocanhado troféus pelo caminho. Foram dois no Prêmio Reverência (melhor ensemble e ator para Mateus Ribeiro), três no Prêmio Bibi Ferreira (cenário, figurino e coreografia), além de 14 indicações ao BroadwayWorld Brazil Awards 2018.

Só não deve ser a última produção desse porte a que o Brasil assistirá porque há projetos aprovados ainda sob as normas antigas da Lei de Incentivo à Cultura — se antes o teto era de R$ 60 milhões por projeto, agora, é de R$ 1 milhão . Renata tem na manga “Footloose”, “Caroussel”, “Há algo de podre no reino da Dinamarca”, “O Natal do Charlie Brown” e “American idiot”.

— Eu sabia que as mudanças aconteceriam e me preparei. Mas ninguém acreditava que viria uma martelada dessas. Praticamente só os musicais foram afetados pelas mudanças na lei — critica a produtora, que também quer transformar “Sítio do Picapau Amarelo” em musical, “mas com a grandeza que Monteiro Lobato merece”. — Por que musicais não foram exceção como as óperas? Por que não liberar o teto de R$ 10 milhões anuais para aplicar em um só projeto? O governo acha que democratiza a lei, mas há mecanismos de democratização mais eficazes, como estabelecer o aporte de empresas em CNPJs diferentes.

Direcionar 10% do faturamento da empresa beneficiada pela lei para fomentar pequenos artistas é outra sugestão da produtora — ela, inclusive, adotará a prática este ano. Renata questiona ainda a gratuidade de 40% dos ingressos, outro ponto da nova regulamentação.

— O que adianta dar ingresso se a pessoa não tem dinheiro para o transporte e não consegue chegar ao teatro?

Serviço

Onde: Cidade das Artes: Av. das Américas 5300, Barra (3325-0102 ). Quando: Sextas, 20h30m, sáb. e dom., 16h e 20h. Quanto: De R$ 50 a R$ 240. Classificação: Livre