Cultura

Portuguesa Djaimilia Pereira de Almeida vence Prêmio Oceanos 2019

Além dela, o segundo e o terceiro lugar também foram conquistados por mulheres: a portuguesa Dulce Maria Cardoso e a brasileira Nara Vidal
A autora portuguesa Djaimilia Pereira de Almeida em 2017, durante a Festa Literária Internacional de Paraty (Flip) Foto: Ana Branco/26-7-2017
A autora portuguesa Djaimilia Pereira de Almeida em 2017, durante a Festa Literária Internacional de Paraty (Flip) Foto: Ana Branco/26-7-2017

SÃO PAULO – Três escritoras – duas portuguesas e uma brasileira – venceram o Prêmio Oceanos (ex-Portugal Telecom). A portuguesa nascida em Angola Djaimilia Pereira conquistou o primeiro lugar com o romance “Luanda, Lisboa, Paraíso” , publicado no Brasil pela Companhia das Letras. As outras vencedoras foram Dulce Maria Cardoso e Nara Vidal .

'Luanda, Lisboa, Paraíso': Livro premiado foi escrito ao som de Cartola

A história do melancólico Cartola de Sousa, um parteiro angolano que vai a Portugal para curar o calcanhar defeituoso de seu filho, Aquiles, valeu a Djaimilia R$ 120 mil. O anúncio ocorreu no início da tarde desta quinta-feira (5), no Itaú Cultural, em São Paulo.

– Ver “Luanda, Lisboa, Paraíso” distinguido ao pé dos livros de outras duas mulheres para mim tem importância extraordinária e particular – disse Djaimilia em um vídeo.

Os jurados no Oceanos se reuniram na noite desta quarta-feira (4) para escolher os vencedores entre os 54 finalistas . Imediatamente após a decisão, os premiados foram contatados e lhes foi pedido que gravassem um vídeo curto a ser exibido ao público que assistiria à premiação.

A escritora portuguesa Dulce Maria Cardoso escritora portuguesa Foto: Divulgação/Tinta-da-china/2012
A escritora portuguesa Dulce Maria Cardoso escritora portuguesa Foto: Divulgação/Tinta-da-china/2012

– “Luanda, Lisboa, Paraíso” é sobre diáspora e solidão, sobre esperança e desespero, e, paradoxalmente, também sobre amizade e solidariedade – disse a crítica literária Maria Ester Maciel, uma das juradas. – O romance é conduzido de maneira envolvente, a linguagem é apurada e os detalhes íntimos são engenhosamente costurados. Djaimilia se furta à obviedade no trato de questões político-sociais. A história desse pai e desse filho serve de referência a toda uma coletividade que experimentou as mesmas frustrações que eles, movida por ilusões.

Segundo lugar tem Tinder e linguagem agreste

O segundo lugar ficou com outra portuguesa, Dulce Maria Cardoso, autora do romance “Eliete”, publicado em Portugal pela Tinta-da-China. “Eliete” narra a “vida normal” (este é o subtítulo do livro) de uma mulher pouco ambiciosa, que depois passa a usar ativamente o Facebook, o WhatsApp e o Tinder. Dulce vai embolsar R$ 80 mil pelo prêmio.

– Quando eu nasci, meu pai estava em Angola e escreveu à minha mãe com duas sugestões de nome: Dulce e Eliete. Minha mãe disse que escolheu o menos feio – contou Dulce no vídeo, que  confessou ser o quarto que tentou gravar. – Eliete é para mim um romance eterno, cuja escrita vai durar enquanto minha vida durar. Espero que o meu romance tenha uma vida maior do que minha, pois é pouco generoso o artista que não cria uma obra que ambiciona a eternidade, que não ambiciona interessar à gente do outro lado do mundo, do outro lado do tempo.

O crítico literário português Manuel Frias Martins ressaltou a linguagem “agreste” do livro, que pode soar “ofensiva e vulgar” a alguns leitores, mas “é a linguagem desta mulher perante seu desgaste existencial”.

A escritora Nara Vida, brasileira radicada na Inglaterra Foto: Divulgação/Editora Moinhos
A escritora Nara Vida, brasileira radicada na Inglaterra Foto: Divulgação/Editora Moinhos

Brasileira fica em terceiro com livro de estreia

Radicada na Inglaterra, a brasileira Nara Vidal conquistou o terceiro lugar com sua estreia literária, o romance “Sorte”, editado pela Moinhos, e levou R$ 50 mil. “Sorte” se passa entre o Brasil e uma mítica ilha irlandesa rica em esmeraldas e descreve a religiosidade católica a oprimir as mulheres nos dois países.

– Gostaria de dedicar o prêmio a todas as mulheres representadas em “Sorte”, mulheres que não têm voz nem vez, que foram apagadas e massacradas pela história que nos contam. Não são só mulheres do passado, mas também do presente e, infelizmente, do futuro – disse Nara em vídeo.

O poeta português Daniel Jonas descreveu o livro como “denso e assustador”. E recomendou:

– É um livro para lermos nos dias em que temos mais confiança em nós próprios, para não sairmos arrasados da leitura.

Antes do anúncio dos vencedores, os jurados debateram os livros concorrentes com dois dos curadores do Oceanos, o crítico literário Manuel da Costa Pinto e a jornalista portuguesa Isabel Lucas.

Uma das juradas, a crítica literária Eliane Robert Moraes afirmou que ler todos os livros finalistas foi uma “experiência riquíssima” que permitiu “ampliar a ideia de literatura e de literatura em língua portuguesa”. Ela ainda destacou alguns temas que permeavam os livros, como o deslocamento e o exílio, e completou:

– A literatura está viva. Nós precisamos é de políticas públicas para a literatura.

O Prêmio Oceanos é realizado pelo banco Itaú e pela República de Portugal, por meio do Fundo de Fomento Cultural Português, e pela CPFL Energia.