Cultura

Professor processa Fundação Palmares por citar texto seu em relatório que defendia banimento de livros

Segundo estudioso do movimento negro, um trecho de uma dissertação sua teria sido utilizado fora de contexto no relatório da instituição que defendia o banimento de livros da biblioteca Oliveira Silveira
Sérgio Camargo é alvo de ação do Ministério Público do Trabalho por conta de denúncias de assédio moral. Foto: Reproduçao
Sérgio Camargo é alvo de ação do Ministério Público do Trabalho por conta de denúncias de assédio moral. Foto: Reproduçao

RIO - Deivison de Campos, historiador e professor da Universidade Luterana do Brasil, move uma ação na Justiça Federal contra a Fundação Palmares, comandada por Sérgio Camargo. Segundo o pesquisador, estudioso do movimento negro, um trecho de uma dissertação sua teria sido utilizado fora de contexto no relatório da instituição que defendia o banimento de livros da biblioteca Oliveira Silveira.

Viagem a Nova York : Mário Frias é convidado à comissão do Senado para esclarecer gastos

Segundo os advogados Paulo Petri e Luana Pereira, que representam o professor, a ação pede a retirada do trecho, a publicação de nota de resposta no site da fundação e indenização de R$ 50 mil por danos morais. A ação teve início em junho do ano passado. Nesta semana, a 3ª Turma do Tribunal Regional Federal da 4ª Região negou um pedido de tutela antecipada para que o trecho fosse retirado do relatório.

Para Deivison, os trechos da sua dissertação "O Grupo Palmares (1971 - 1978)" teriam sido usados de forma a depreciar o movimento negro no relatório "Retrato do Acervo: Três décadas de dominação marxista na Fundação Palmares", de abril de 2021.

Investigação: 'Cada um dá uma versão', diz delegado que investiga sem-teto flagrado fazendo sexo com mulher de personal

Na dissertação, o historiador pesquisou o Grupo Palmares, ligado ao movimento negro de Porto Alegre, do qual fez parte o poeta Oliveira Silveira. No trecho em questão, ele afirma que o grupo adotava "discurso subversivo que coloca em xeque conceitos estruturantes da sociedade brasileira como democracia racial, identidade e cultura nacional." No relatório, a citação é usada pela Fundação Palmares para classificar o grupo como "datado" e de "mentalidade revolucionária".

Segundo seu relato, quando o documento começou a circular, ele chegou a ser questionado por colegas por ter seu nome associado ao relatório:

— É um dos únicos textos citados. É um documento que foi produzido com o objetivo de acusar as gestões anteriores da fundação de estarem ligadas a esse delírio de marxismo cultural. Me recuso a ter meu nome associado a essa organização nesse contexto. Considero descabido esse uso — disse Deivison de Campos.

O relatório foi elaborado pela equipe de Marco Frenette, ex-assessor de Roberto Alvim, demitido do cargo de secretário da Cultura por apologia ao nazismo , que em março de 2021 foi nomeado coordenador-chefe do Centro Nacional de Informação e Referência da Cultura Negra por Sergio Camargo. A autarquia justificava a exclusão sob a justificativa de que grande parte delas era pautada por "revolução sexual, sexualização de crianças, bandidolatria e por um amplo material de estudo das revoluções marxistas e das técnicas de guerrilha". Títulos de Eric Hobsbawm, Caio Prado Jr., Celso Furtado, Karl Marx e Max Weber estavam entre os catalogados para doação.

Em janeiro deste ano, a Justiça Federal proibiu que a Fundação Palmares se desfizesse do acervo em questão. Após a decisão, Camargo anunciou em suas redes sociais que os livros banidos ficariam em um "cercadinho" dentro da nova biblioteca, chamado por ele de "Acervo da Vergonha": "Os livros delinquenciais ficarão no fundo da biblioteca, à esquerda de quem entra, identificados com a placa 'Acervo da Vergonha'", postou ele.

Procurada, a Fundação Palmares ainda não se manifestou sobre a ação movida por Deivison de Campos.