RIO - Deivison de Campos, historiador e professor da Universidade Luterana do Brasil, move uma ação na Justiça Federal contra a Fundação Palmares, comandada por Sérgio Camargo. Segundo o pesquisador, estudioso do movimento negro, um trecho de uma dissertação sua teria sido utilizado fora de contexto no relatório da instituição que defendia o banimento de livros da biblioteca Oliveira Silveira.
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Segundo os advogados Paulo Petri e Luana Pereira, que representam o professor, a ação pede a retirada do trecho, a publicação de nota de resposta no site da fundação e indenização de R$ 50 mil por danos morais. A ação teve início em junho do ano passado. Nesta semana, a 3ª Turma do Tribunal Regional Federal da 4ª Região negou um pedido de tutela antecipada para que o trecho fosse retirado do relatório.
Para Deivison, os trechos da sua dissertação "O Grupo Palmares (1971 - 1978)" teriam sido usados de forma a depreciar o movimento negro no relatório "Retrato do Acervo: Três décadas de dominação marxista na Fundação Palmares", de abril de 2021.
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Na dissertação, o historiador pesquisou o Grupo Palmares, ligado ao movimento negro de Porto Alegre, do qual fez parte o poeta Oliveira Silveira. No trecho em questão, ele afirma que o grupo adotava "discurso subversivo que coloca em xeque conceitos estruturantes da sociedade brasileira como democracia racial, identidade e cultura nacional." No relatório, a citação é usada pela Fundação Palmares para classificar o grupo como "datado" e de "mentalidade revolucionária".
Segundo seu relato, quando o documento começou a circular, ele chegou a ser questionado por colegas por ter seu nome associado ao relatório:
— É um dos únicos textos citados. É um documento que foi produzido com o objetivo de acusar as gestões anteriores da fundação de estarem ligadas a esse delírio de marxismo cultural. Me recuso a ter meu nome associado a essa organização nesse contexto. Considero descabido esse uso — disse Deivison de Campos.
O relatório foi elaborado pela equipe de Marco Frenette, ex-assessor de
Roberto Alvim, demitido do cargo de secretário da Cultura por apologia ao nazismo
, que em março de 2021 foi nomeado coordenador-chefe do Centro Nacional de Informação e Referência da Cultura Negra por Sergio Camargo. A autarquia justificava a exclusão sob a justificativa de que grande parte delas era pautada por "revolução sexual, sexualização de crianças, bandidolatria e por um amplo material de estudo das revoluções marxistas e das técnicas de guerrilha". Títulos de Eric Hobsbawm, Caio Prado Jr., Celso Furtado, Karl Marx e Max Weber estavam entre os catalogados para doação.
Em janeiro deste ano, a
Justiça Federal proibiu que a Fundação Palmares
se desfizesse do acervo em questão. Após a decisão, Camargo anunciou em suas redes sociais que os livros banidos ficariam em um "cercadinho" dentro da nova biblioteca, chamado por ele de "Acervo da Vergonha": "Os livros delinquenciais ficarão no fundo da biblioteca, à esquerda de quem entra, identificados com a placa 'Acervo da Vergonha'", postou ele.
Procurada, a Fundação Palmares ainda não se manifestou sobre a ação movida por Deivison de Campos.