Cultura

Programação da 44ª Mostra de São Paulo terá filmes online e drive-in; confira

Adaptada à pandemia, edição traz vencedor de Berlim e documentário sobre Kubrick, entre outros destaques; ingresso digital custará R$ 6 por título
"Não há mal algum": filme vencedor do Festival de Berlim está na Mostra de SP Foto: Divulgação
"Não há mal algum": filme vencedor do Festival de Berlim está na Mostra de SP Foto: Divulgação

RIO e SÃO PAULO — A 44ª Mostra Internacional de Cinema de São Paulo , de 22 de outubro a 4 de novembro, será realizada somente com exibições online ou em formato drive-in. Mesmo com a liberação da abertura de cinemas assinada nesta sexta-feira na capital paulista, a programação não ocupará nenhuma sala.

Divulgada em transmissão pelo YouTube na manhã deste sábado (9), a seleção de filmes tem entre seus destaques títulos como “Não há mal algum”, de Mohammad Rasoulof, vencedor do Urso de Ouro no último Festival de Berlim , “O ano da morte de Ricardo Reis”, de João Botelho (baseado no livro de José Saramago), “Berlim Alexanderplatz”, de Burhan Qurbani, “Gênero, Pan”, de Lav Diaz e “Mães de verdade”, de Naomi Kawase.

A lista também chama a atenção pelos documentários “Kubrick por Kubrick”, de Gregory Monro, sobre o diretor Stanley Kubrick, e "Coronation", de Ai Weiwei , no qual o renomado artista chinês mostra o começo da Covid-19 em Wuhan. Dele, também estará disponível “Vivos”, longa sobre agressão contra estudantes mexicanos.

Stanley Kubrick em cena de "Kubrick por Kubrick" Foto: Divulgação
Stanley Kubrick em cena de "Kubrick por Kubrick" Foto: Divulgação

Da China, vem também o documentário “Nadando até o mar ficar azul”, do diretor Jia Zhang-Ke, que foi o convidado a criar o pôster do evento neste ano. O cartaz retrata um acendedor de incensos de Fenyang, cidade natal do cineasta, executando um ritual para o Deus da Literatura.

A Mostra marcará a estreia por aqui de produções nacionais como “Verlust”, de Esmir Filho, com Andrea Beltrão e a cantora Marina Lima no elenco, e “Cidade Pássaro”, de Matias Mariani, que esteve na Mostra Panorama do Festival de Berlim e já estreou na Netflix para usuários de outros países, mas não do Brasil. Com aproximadamente 30 obras, a lista de filmes nacionais inclui também “Ana. Sem Título”, de Lúcia Murat , e “Curral”, de Marcelo Brennand.

Ao todo, o número de produções participantes caiu em relação a anos anteriores. Agora serão 198 títulos, de 71 países, contra 327 de 65 países em 2019.

De casa

A exibição dos filmes será feita por meio de uma plataforma de streaming, batizada de Mostra Play, ao custo de R$ 6 por visualização. Segundo os organizadores, a tecnologia por trás do serviço é a mesma adotada pelos festivais de Toronto e Tribeca e pelo mercado audiovisual nas negociações de Cannes. A compra deve ser feita a partir do site mostra.org. Mesmo sendo online, os cinéfilos precisam se programar porque haverá um limite de visualizações para cada produção.

Assinado pelo cineasta chinês Jia ZhangKe, o cartaz desta edição da Mostra retrata um ritual para o Deus da Literatura Foto: Divulgação
Assinado pelo cineasta chinês Jia ZhangKe, o cartaz desta edição da Mostra retrata um ritual para o Deus da Literatura Foto: Divulgação

Quinze obras também poderão ser vistas gratuitamente na plataforma Spcine Play, da empresa de cinema da prefeitura de São Paulo. Outras quinze serão exibidas de graça na plataforma de cinema do Sesc-SP.

Presencialmente, no formato drive-in, ocorrerão sessões no Belas Artes Drive-in (no pátio do Memorial da América Latina) e no Cinesesc Drive-in (na unidade Sesc Parque Dom Pedro II). A abertura do evento acontecerá no Belas Artes, às 19h30 do dia 22, e exibirá o longa "Nova ordem", do mexicano Michel Franco, que levou o Grande Prêmio do Júri no Festival de Veneza. O filme ficará disponível por 24 horas na Mostra Play.

A programação terá ainda lives e participações gravadas de diretores, além de um curso on-line com o diretor Ruy Guerra, recém-premiado no Festival de Gramado , em parceria com o historiador Adilson Mendes.

Homenagens

Por meio do Prêmio Humanidade, a edição homenageará os antigos funcionários da Cinemateca Brasileira , que, mesmo sem receber salários, trabalharam na sua manutenção até 7 de agosto, quando a instituição passou à administração do governo federal. A honraria também será dada ao documentarista americano Frederick Wiseman, diretor de “City Hall”, que será exibido neste ano.

Já o Prêmio Leon Cakoff irá para a produtora Sara Silveira, cuja produção mais recente, “Todos os mortos”, de Marco Dutra e Caetano Gotardo, terá sessão no drive-in do Cinesesc.

Outro nome que ganhará destaque é o de Fernando Coni Campos (1933-1988). A homenagem póstuma trará três de seus filmes, “Viagem ao fim do mundo” (1968), “Ladrões de cinema” (1977) e “O mágico e o delegado” (1983).

Segundo os organizadores, houve a preocupação de observar o número de produções selecionadas que têm mulheres na direção. São cerca de 25% neste ano, calculam. Outra iniciativa do evento neste sentido é abrigar, de 29 de outubro e 3 de novembro, o Fórum Nacional Lideranças Femininas no Audiovisual, que trará debates sobre a diversidade na produção de filmes no Brasil e no mundo.

A diretora da Mostra, Renata de Almeida, justificou a escolha pelo formato virtual como uma forma de ampliar o acesso do público às exibições:

— Não tivemos tempo de negociar com as salas físicas, porque muitas ainda estão fechadas. De todo modo, as salas do Brasil são pequenas, e, com as restrições da pandemia, ainda menos pessoas poderiam assistir aos filmes. Como o cinema representa para a gente a cura, o alento, acho que foi uma escolha acertada — afirma.