Cultura

Rafael Nogueira deixa a presidência da Biblioteca Nacional e vai para a Secretaria Especial da Cultura

Olavista e monarquista, ex-gestor estava à frente da instituição desde 2019, quando foi nomeado por Roberto Alvim
Rafael Nogueira na Biblioteca Nacional em dezembro de 2019, quando foi empossado Foto: Antonio Scorza / Agência O Globo
Rafael Nogueira na Biblioteca Nacional em dezembro de 2019, quando foi empossado Foto: Antonio Scorza / Agência O Globo

Desde dezembro de 2019 na presidência da Biblioteca Nacional, o professor de filosofia Rafael Nogueira deixou o cargo para assumir a Secretaria Nacional de Economia Criativa e Diversidade Cultural , na Secretaria Especial de Cultura. A mudança foi publicada ontem no Diário Oficial da União, informando ainda que ele substituirá Aldo Luiz Valentin, no cargo desde a passagem de Regina Duarte pela Secretaria. Seguidor do ideólogo bolsonarista Olavo de Carvalho (1947 – 2022) , a quem chamava de "professor", Nogueira era simpatizante da monarquia e teve sua indicação para a instituição criticada por servidores, que chegaram a pendurar faixas de luto na fachada da Biblioteca na época da posse.

Um dos argumentos contrários à indicação é que Nogueira não cumpria requisitos para o cargo , como ter mestrado ou doutorado (à época, ele não havia concluído um mestrado em Direito Internacional) ou não ter experiência de, no mínimo, cinco anos em atividades correlatas às áreas de atuação do órgão. O ex-presidente da BN justificava a nomeação com trabalhos relacionados a instituições como a Academia Santista de Letras.

Lei Rouanet : Governo Bolsonaro oficializa série de mudanças que reduzem valores de projetos

A maior parte do período em que Nogueira esteve à frente da instituição, a BN permaneceu fechada por conta da pandemia de Covid-19, reabrindo ao público apenas entre dezembro de 2021 e janeiro deste ano. Servidores ouvidos em off narraram episódios em que determinações do ex-presidente geraram desconforto entre a equipe da casa, como a gravação de um vídeo de Natal em inglês, em dezembro passado, para o qual foram retiradas do cofre de obras raras publicações como a Bíblia de Mogúncia, de 1462, a Bíblia Poliglota de Antuérpia, de 1569, e o manuscrito grego dos Evangelhos, datado do século XI. De acordo com os técnicos, a retirada das obras deveria acontecer preferencialmente para exposições e acompanhada de um esquema especial de segurança.

Presidente da Biblioteca Nacional até novembro de 2019, quando colocou o cargo à disposição do então secretário da Cultura, Roberto Alvim , Helena Severo não vê na gestão de Nogueira uma ruptura com as administrações anteriores.

Monark : Influenciador é desligado de podcast após declaração sobre nazismo

— É totalmente legítimo que qualquer governo eleito escolha os gestores com os quais se identifique. Instituições sólidas como a Biblioteca Nacional contam com um corpo técnico, de servidores de carreira, capaz de zelar pela sua função e autonomia, seja qual for a vertente ideológica do governo — destaca Helena. — É uma casa com uma história de grande significação intelectual, que já foi presidida por nomes como Eduardo Portella, Affonso Romano de Sant’Anna, Muniz Sodré. Isso não se apaga.

Internamente, cogita-se que a nova presidência seria indicada pelo Republicanos, partido do ex-prefeito do Rio Marcelo Crivella. Até a publicação desta reportagem, não havia sido divulgado oficialmente o nome do substituto de Nogueira na instituição.