Regina Duarte deixa Secretaria da Cultura após semanas de fritura no governo

Anúncio foi feito em vídeo, Bolsonaro já convidou o ator Mario Frias para o cargo, e Regina irá para a Cinemateca Brasileira
Regina Duarte e Jair Bolsonaro gravaram vídeo para o anúncio Foto: Reprodução / Facebook

BRASÍLIA - Regina Duarte não é mais secretária especial da Cultura. O anúncio foi feito pelo presidente Jair Bolsonaro nesta quarta-feira, num vídeo publicado em sua página no Facebook. Sem autonomia, Regina encarou na Secretaria especial da Cultura seu papel mais difícil , nos dois meses e meio em que esteve no cargo ( Relembre as polêmicas de Regina Duarte na Secretaria Especial da Cultura ).

Agora, ela vai assumir a Cinemateca Brasileira , em São Paulo, administrada pelo governo Federal  e classificada por ela como "um presente". A instituição enfrenta uma crise, com salários atrasados e acervo ameaçado .

Analítico : Na Cultura, Regina Duarte foi secretária sem nunca ter sido

Enquanto isso, o ator Mario Frias , famoso como galã de "Malhação" no final dos anos 1990 , recebeu o convite de Bolsonaro para assumir a Secretaria . Nos últimos dias, Bolsonaro vem demostrando maior proximidade com o ator e apresentador. Na terça-feira, Frias já havia participado de um almoço do presidente com os presidentes do Flamengo e do Vasco .

A classe artística reagiu à nova mudança com críticas à apatia da gestão de Regina à frente da Secretaria, preocupação com o futuro da Cinemateca e descrença quanto ao trabalho do próximo secretário: " Não importa, será mais um fantoche ", disse Maitê Proença.

'Tá me fritando, presidente?'

Na gravação, feita diante do Palácio da Alvorada na manhã desta quarta, Regina começa brincando que foi à residência oficial perguntar ao presidente se ele a estava "fritando". Ela foi ao local acompanhada da deputada federal Carla Zambelli (PSL-SP), sua amiga.

"Porque eu tô lendo isso numa imprensa em que eu não acredito mais, mas de qualquer forma queria que ele me dissesse pessoalmente: tá me fritando, presidente?", questionou a atriz, sorrindo.

Regina Duarte não conseguiu emplacar suas ideias na Secretaria Especial da Cultura e anunciou que deixaria o cargo no dia 20 de maio de 2020 Foto: Pablo Jacob / Pablo Jacob
A atriz, ainda durante a fase de 'namoro' com o governo, ao lado do presidente Jair Bolsonaro e de Luiz Eduardo Ramos, ministro da Secretaria de Governo Foto: Reprodução
Regina Duarte é cercada por jornalistas ao chegar a Brasília para conhecer a Secretaria da Cultura. Ela passou dias por lá antes de anunciar se aceitaria o convite para ocupar o cargo Foto: Jorge William / Jorge William
A atriz fez suspense durante um mês até anunciar que havia aceitado assumir a pasta no lugar de Roberto Alvim, afastado após reproduzir um discurso do ministro da Propaganda nazista Joseph Goebbels Foto: Marcos Corrêa / Marcos Corrêa
Em seu discurso de posse, no dia 4 de março de 2020, Regina Duarte lembrou que o convite de Bolsonaro falava em 'carta branca' e que não iria 'esquecer'. Ouviu de volta do presidente que ele sempre tinha 'poder de veto' Foto: Pablo Jacob / Pablo Jacob
A atriz, no dia da cerimônia de posse, de braço dado com o vice-presidente Hamilton Mourão Foto: Pablo Jacob / Pablo Jacob
Amiga 'inseparável' de Regina no início e número 2 da Cultura, a pastora Jane Silva foi demitida pela atriz após tentar tomar decisões sem o consentimento da chefe Foto: Reprodução
Em dois meses e meio à frente da Cultura, Regina não assinou nenhum despacho Foto: Pablo Jacob / Pablo Jacob

"Regina, toda semana, tem um ou dois ministros que, segundo a mídia, estão sendo fritados. O objetivo é sempre desestabilizar a gente e tentar jogar o governo no chão. Não vão conseguir. Jamais eu ia fritar você", respondeu o presidente, também dando risada.

A atriz disse em seguida que acabara de ganhar um "presente", que "é um sonho de qualquer pessoa de comunicação, de audiovisual, de cinema, de teatro": "Um convite pra fazer Cinemateca, que é um braço da Cultura, que funciona lá em São Paulo, e é um museu de toda a filmografia brasileira. Ficar ali secretariando o governo, dentro da Cultura, na Cinemateca. Pode ter um presente melhor que esse? Obrigada, presidente!"

Bolsonaro então diz achar que Regina quer ajudar o Brasil e que o que ele mais quer é o bem da secretária, por seu passado e por aquilo que ela representa para "todos nós".

Nesse momento, o vídeo é editado e o presidente aparece dizendo que a ida da atriz para a Cinemateca, do lado do seu apartamento, na capital paulista, vai fazê-la produzir muito mais, o que lhe deixa "muito feliz", mas ao mesmo tempo "chateado", pelo afastamento do seu convívio em Brasília.

Alvo de duas investigações no Supremo Tribunal Federal (STF), Ricardo Salles, alvo de investigações da Polícia Federal no dia 23 de junho, pediu demissão do cargo, apesar do respaldo do Palácio do Planalto. Ele alegou problemas familiares Foto: SERGIO LIMA / AFP
Ministro da Defesa, Fernando Azevedo e Silva, entregou o cargo, através de nota, sem explicar o motivo da demissão Foto: RONALD GRANT
O ministro das Relações Exteriores, Ernesto Araújo, pediu demissão do cargo no dia 29 de março, após virar alvo do Centrão por causa da má gestão do governo no combate à pandemia. Foto: ADRIANO MACHADO / REUTERS
Depois de quase um ano à frente do Ministério da Saúde, Eduardo Pazuello entregou o cargo sendo questionado sobre desempenho no combate da Covid-19 Foto: Pablo Jacob/Agência O Globo/15-03-2021
Após 14 meses Abraham Weintraub deixou o Ministério da Educação sendo investigado por ter dito que, por ele, "botava esses vagabundos todos na cadeia, começando no STF". A declaração foi feita durante reunião ministerial no dia 22 de abril de 2020, cujo vídeo foi divulgado pela Justiça Foto: Jorge William / Agência O Globo - 10/10/2019
Ministro da Saúde, Nelson Teich, pediu exoneração dia 15 de maio de 2020, depois do presidente mudar protocolo de atendimento de pacientes da Covid-19: Bolsonaro defende que todos pacientes sejam tratados com a cloroquina desde o começo Foto: Pablo Jacob / Agência O Globo - 11/05/2020
Em uma de suas últimas entrevistas, Mandetta reconheceu que havia um "descompasso" entre o trabalho na pasta e a linha de ação defendida por Bolsonaro Foto: Ueslei Marcelino / REUTERS 15/04/2020
Moro deixou o Ministério da Justiça acusando Bolsonaro de interferência política na Polícia Federal Foto: Adriano Machado / Reuters - 18/12/2019
Terceiro a comandar a pasta da Educação, o professor Carlos Decotelli ficou menos de uma semana no cargo e pediu demissão no dia 30 de junho. A saída se deu após repercussão de informações falsas incluídas em seu currículo e a acusação de plágio em sua dissertação de mestrado Foto: MARCOS CORREA / AFP - 25/06/2020
Regina Duarte, secretária especial de Cultura, demitida do cargo depois de polêmicas por não homenagear artistas mortos e por defender a ditadura militar numa entrevista para a televisão. O presidente Jair Bolsonaro anunciou numa rede social, ela assumiria a Cinemateca Brasileira, em São Paulo Foto: ADRIANO MACHADO / Reuters
Ministro do Desenvolvimento Regional, Gustavo Canuto, foi exonerado em fevereiro e realocado para a presidência do Dataprev Foto: Jorge William / Agência O Globo
Osmar Terra foi exonerado do Ministério da Cidadania e substituído por Onyx Lorenzoni, que por sua vez saiu da Casa Civil Foto: Daniel Marenco / Agência O Globo
Floriano Peixoto deixou o cargo de ministro da Secretaria Geral da Presidência para ser nomeado para a presidência dos Correios. Jorge Antônio de Oliveira Francisco, major da reserva da PM do Distrito Federal, assumiu a pasta Foto: Edilson Dantas / Agência O Globo
Bolsonaro demitiu o general Carlos Alberto dos Santos Cruz, em junho de 2019, da Secretaria de Governo da Presidência da República. Ele vinha sofrendo um processo de "fritura" há pelo menos dois meses e foi alvo constante de Carlos Bolsonaro (PSC-RJ) e da ala ideológica do governo. Foto: EVARISTO SA / AFP
Ricardo Vélez Rodríguez foi exonerado do cargo de Ministro da Educação em abril de 2019, depois de polêmicas com seus assessores. Ele terminou substituído por Abraham Weintraub Foto: Luis Fortes / MEC / Agência O Globo - 02/01/2019
Gustavo Bebianno foi presidente do PSL, partido que levou Bolsonaro à presidência, e ocupou por por pouco mais de um mês a Secretaria-Geral da Presidência da República. A demissão aconteceu depois de conflito com o fiho do presidente, Carlos Bolsonaro. Bebianno morreu devido a um ataque cardíaco em 14 de março deste ano, sem ter se reconciliado com o presidente que ajudou a eleger Foto: Alexandre Cassiano / Agência O Globo - 03/07/2019

"Mas presidente, a família está querendo a minha proximidade, eu estou sentindo muita falta dos meus netos, dos meus filhos, da minha família, que é uma coisa à qual eu sempre fui muito ligada. Então é um presente duplo: é a Cinemateca e é também eu estar próxima da minha família, que é uma coisa que eu estou desejando muito, estou sentindo muita falta", declarou a ex-secretária.

Bolsonaro encerra a conversa cobrando dela o compromisso de estar ao seu lado todas as vezes que ele for a São Paulo, sendo abraçado pela atriz. Apesar de alegar que está com saudades de sua família na capital paulista, Regina estava trabalhando de lá durante a pandemia, segundo sua equipe. Ela se reunia com os servidores via videoconferência.

No fim de abril, Bolsonaro chegou a cobrá-la publicamente . Disse que a secretária estava em São Paulo, e ele desejava que ela estivesse "mais próxima". Depois disso, ela retornou à capital federal por um breve período.