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Elza Soares conta sua versão sobre relacionamento com Mané Garrincha em documentário do Globoplay

Disponível a partir desta sexta-feira (04), a produção conta com depoimentos inéditos da cantora
Elza Soares e Mané Garrincha Foto: Reprodução
Elza Soares e Mané Garrincha Foto: Reprodução

Há 60 anos começava a história de amor e sofrimento de Elza Soares , então uma estrela em ascensão, e Mané Garrincha, ídolo do futebol brasileiro e um dos destaques, ao lado de Pelé, do bicampeonato mundial conquistado pela Seleção em 1962. Desde o início do relacionamento, Elza foi julgada como vilã. Primeiro porque Garrincha era casado, tinha sete filhas, e se separou para ficar com a cantora. Mais tarde, foi jogada nela a responsabilidade pelo craque não render mais nos gramados e se afundar cada vez mais no alcoolismo. A história, no entanto, não foi essa, e é justamente isso que o documentário “Elza & Mané — Amor em linhas tortas”, que estreia hoje no Globoplay, quer reparar.

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— Como jornalista mulher no esporte, me causava incômodo e curiosidade saber como se construiu, na época, essa narrativa de que a Elza destruiu a carreira de um jogador. Eu já sabia que era mentira — diz a diretora do documentário, Caroline Zilberman. — Sempre tive a impressão, pelo lado do jornalismo esportivo, que essa história foi contada por homens, e que a Elza era apresentada como uma parte auxiliar da história do Garrincha. Eu queria ouvir dela o que ela sofreu.

A produção reúne depoimentos inéditos de Elza Soares — que morreu, aos 91 anos, no último dia 20 de janeiro, 39 anos depois de Garrincha —, além dos bastidores de seu último show, realizado em 19 de dezembro de 2021.

— A gente passou basicamente por todos os assuntos da vida dela. Em suas falas, Elza jamais demonstrou rancor de nada. É uma história doída para ela, que falou com uma lucidez absurda — descreve Caroline.

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Elza Soares e Caroline Ziberman Foto: Divulgação
Elza Soares e Caroline Ziberman Foto: Divulgação

Usando as carreiras de Elza e Garrincha como pontos de partida, a produção foi atrás de jornais e arquivos da época, conversou com amigos e jornalistas e também com os biógrafos de Elza e Garrincha: Zeca Camargo e Ruy Castro, respectivamente. Além disso, o documentário, dividido em quatro episódios, conta com depoimentos inéditos de uma das filhas de Garrincha, Maria Cecília, e do filho mais velho de Elza, que testemunharam a perseguição sofrida pelo casal.

Como se não bastasse a recriminação por parte da sociedade e da imprensa da época, o casal precisou se exilar em Roma, na Itália, depois de ter sua casa metralhada em 1970, durante a ditadura militar.

— Essa é uma parte muito rica do documentário. Conseguimos debater isso com Chico Buarque, que foi um grande amigo do casal no exílio em Roma, e mostrar documentos para ele — diz a diretora, referindo-se a um texto encontrado pela equipe no Arquivo Público do Estado do Rio de Janeiro, no qual Garrincha é colocado como um sujeito perigoso, um “inocente útil”, influenciado por jornalistas comunistas e que deveria ser olhado de perto.

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Na vida privada, a relação dos dois se tornou conturbada conforme Garrincha perdia seus dias de glória. Quando o álcool o dominava, agressões físicas aconteciam. Elza cuidou do jogador até onde deu e, em 1982, eles acabaram se divorciando. Meses depois, o jogador morreu.

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“Elza & Mané — Amor em linhas tortas” é mais uma história contada pelo Esporte da Globo que, no intervalo de um ano, lançou outros títulos originais no Globoplay como “Doutor Castor,” “Predestinado”, e “É ouro — O brilho do Brasil em Tóquio”.

— Certas histórias que o esporte conta ajudam a entender outros temas. Quem vê “Doutor Castor” entende melhor o Rio de Janeiro. Quem vir “Elza &Mané”, acho que vai entender melhor o Brasil de antes e de hoje — diz Gustavo Poli, diretor de Programas e Conteúdo Digital do Esporte da Globo.