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'The Masked Singer Brasil': escapismo, mistério e nostalgia dos auditórios fazem do programa o mais comentado das redes

Reality show que reúne celebridades mascaradas é 'leve e tem um quê de fofoquinha', diz Taís Araújo, uma das juradas
'The Masked Singer Brasil' Foto: Kelly Fuzaro / TV Globo
'The Masked Singer Brasil' Foto: Kelly Fuzaro / TV Globo

Imagine a reação dos executivos de uma emissora de TV quando ouviram pela primeira vez a ideia de pôr uma celebridade para cantar sob uma fantasia espalhafatosa, enquanto um corpo de jurados, a plateia e os telespectadores, no estúdio e em casa, tentam descobrir sua identidade. Deve ter soado um tanto estranho quando um sul-coreano sugeriu o programa que se materializou no “The masked singer”, mas a ideia pegou mundo afora.

Ivete Sangalo: Cantora à frente de 'The Masked Singer Brasil' foi 'apresentadora' na infância - 'Cobrava os ingressos, a galera ia'

Aqui no Brasil, o baile dos artistas mascarados é um sucesso. Toda terça-feira, depois da novela “Império”, as redes sociais são tomadas por “detetivões” loucos para saber quem é o Unicórnio, a Onça ou o Monstro, algumas das estrelas do “The masked singer Brasil”, apresentado por Ivete Sangalo na TV Globo. Segundo dados do Twitter, desde a estreia, no último dia 10, a competição é o programa de TV mais comentado da rede social por aqui.

São 12 participantes, que duelam entre si em apresentações musicais. Antes de cada performance, eles dão dicas sobre sua real identidade. À plateia, cabe escolher, através de uma espécie de controle remoto, o vencedor de cada confronto musical, que vai passar para a próxima fase. No fim do programa, o quarteto do júri decide que personagem entre os perdedores deve mostrar o rosto e abandonar a competição. Até agora, já foram desmascarados o Dogão ( o cantor Sidney Magal ), o Brigadeiro (a jornalista Renata Ceribelli) e o Coqueiro (o ex-jogador de futebol Marcelinho Carioca).

Taís Araújo, Simone, Eduardo Sterblitch e Rodrigo Lombardi Foto: Kelly Fuzaro / TV Globo
Taís Araújo, Simone, Eduardo Sterblitch e Rodrigo Lombardi Foto: Kelly Fuzaro / TV Globo

O público quase “berra” nas postagens, tentando dar uma luz para os jurados Eduardo Sterblitch, Rodrigo Lombardi , Simone e Taís Araujo. Um exemplo da empolgação? Regina Casé tuitando sobre a figura do Girassol na semana passada: “Tô aqui em casa gritando SANDRA DE SÁ e ninguém me ouve.”

Mas por que toda esta fantasia nos deixa hipnotizados? Escapismo é uma palavra-chave para explicar a expectativa da audiência, como diz Taís Araújo:

—Estamos precisando nos divertir. Temos passado por momentos muito duros — diz. — O programa só tem o comprometimento de tirar risadas das pessoas. Ele é leve e tem um quê de fofoquinha, que a gente curte.

A “fofoca” edificante e o mistério rolam soltos. Como no dia da estreia, em que Taís ouviu a dica de que o Girassol era apaixonada pelo cantor Thiaguinho e arriscou: “Fernanda Sou... Ah não, Fernanda ( Souza ) é ex-mulher do Thiaguinho, meu Deus.”

O girassol do 'The Masked Singer Brasil' Foto: Kelly Fuzaro / TV Globo
O girassol do 'The Masked Singer Brasil' Foto: Kelly Fuzaro / TV Globo

—O formato parte de um dos princípios básicos do funcionamento do cérebro. Convivemos com tudo, menos com a dúvida — diz a escritora e roteirista Rosana Hermann. — Quando o programa inicia, a cabeça liga como se fosse um sonar, você entra no modo “quem será” e começa a percorrer todas as possibilidades do seu arquivo mental.

Teve até Ryan Reynolds

Desde que surgiu, em 2015, na TV coreana MBC, o modelo foi vendido para quase 50 países. E permanece no ar lá até hoje, com bons índices de audiência. Um detalhe: até Ryan Reynolds fez uma participação especial no programa original.

—Acreditávamos nesse formato. Imaginávamos que, se fizéssemos bem, conseguiríamos ter um retorno interessante do público — diz Adriano Ricco, supervisor artístico da atração. — O brasileiro gosta desse negócio de descobrir.

O que foi feito por aqui —e em outras edições pelo mundo — é uma adaptação para a cultura local, principalmente no quesito fantasias. Se na última temporada inglesa, que acabou em fevereiro, teve a Salsicha (por sinal, a campeã, Joss Stone), o Brasil colocou o embutido dentro do popular Dogão, sucesso em tantas carrocinhas estacionadas pelo país.

Versão coreana do 'The Masked singer' Foto: Reprodução
Versão coreana do 'The Masked singer' Foto: Reprodução

— A ideia era fazer uma relação das roupas com o que temos de mais rico, próprio e cultural. Cada uma remete a um lugar, uma situação, uma história, e tem sempre algo relacionado com nossa brasilidade — diz Ivete. — Foi nesse quesito que entendemos que o programa teria a sua personalidade.

Esse lado recreativo do figurino está em alta — e não é só com a globalização da franquia “The masked singer”. Na Netflix, por exemplo, há o “ Sexy beasts ”, um reality de namoro com participantes que escondem o rosto nesse esquema, e a série “Sweet tooth”, baseada numa HQ da DC, em que há personagens híbridos, parte humanos, parte animais.

— Existe um movimento de máscaras — diz Rosana. — Você sabe que tem um humano dentro, mas isso te leva para um mundo fora da realidade. É uma fantasia com segurança.

Certa nostalgia

E traz um certo conforto do passado. Para Simone Pereira de Sá, professora de Estudos de Mídia da UFF que tem se divertido com o programa, o formato, apesar de trazer elementos novos, dialoga com os velhos conhecidos programas de auditório.

—Ele retoma algumas relações entre música e televisão, essa ideia de um programa de auditório tradicional, com um conjunto de jurados, que não precisa ser de especialistas, mas que fazem comentários engraçados. Tem um âncora carismático e a plateia que interage, decide, aplaude e que tem também um papel fundamental — diz Simone.