RIO -
Gabriela Medvedovski
chegou a estudar Publicidade antes de confirmar sua vocação como atriz.
Ana Hikari
ficou anos pagando para trabalhar, como artista independente, enquanto não se firmava na carreira. E
Heslaine Vieira
superou três rejeições em testes de
“Malhação”
antes de ser selecionada para a temporada de 2017,
“Viva a diferença”
, que revelou ela e as outras duas atrizes, ao lado também de
Manoela Aliperti
e
Daphne Bozaski
. Agora, as cinco voltam às mesmas personagens em
“As five”
, série com estreia prevista para 2020 no
Globoplay
.
Na trama criada e escrita por
Cao Hamburger
(que também esteve à frente do projeto original) e com direção artística de
José Eduardo Belmonte
, o quinteto vai enfrentar justamente os desafios da entrada na vida adulta que as próprias atrizes enfrentaram recentemente. Se a novela mostrava como
Keyla
(Gabriela Medvedovski),
Ellen
(Heslaine Vieira),
Lica
(Manoela Aliperti),
Tina
(Ana Hikari) e
Benê
(Daphne Bozaski) se uniram no final da adolescência, ao se conhecerem num vagão de metrô quando Keyla entrou em trabalho de parto, “As five” retoma o contato com as personagens por volta dos 25 anos de idade, após seis anos sem se verem.
— Quando fizemos a novela, já tínhamos passado da adolescência, então nosso desafio era fazer as personagens sem julgá-las, mesmo sabendo que certas escolhas não eram tão legais. Agora é diferente, porque é mais próximo da nossa realidade — comenta Ana, de 24 anos,durante uma pausa nas gravações nos Estúdios Globo.
— O processo é tão difícil quanto, porque estamos vivendo a nossa própria geração complementa Heslaine, também de 24 anos.
Segundo Cao, a proposta de criar um spin-off de “Malhação: viva a diferença” veio da Globo, diante de pedidos do público nas redes sociais. Exibido em março de 2018, o final de “Viva a diferença” teve média geral foi de 20 pontos em São Paulo, superando as nove temporadas que lhe antecederam. Até hoje, as meninas são paradas nas ruas por fãs, especialmente quando estão juntas (ao contrário de suas personagens, elas nunca perderam o contato e têm inclusive um grupo de WhatsApp com o mesmo nome que o criado pelas amigas na ficção).
A proposta era das mais arriscadas: pegar uma das obras mais louvadas dos quadrinhos e retomar seu universo décadas após o fim da história original. Mas Damon Lindelof conseguiu e fez talvez a melhor série do ano. Ao unir a obsessão com heróis ao conflito racial, "Watchmen" é tão perturbadora quanto urgente.
'Years and years'
Sem alardes, a parceria da BBC com a HBO nos conquista mais a cada novo episódio e assusta ao mostrar um futuro próximo, catastrófico e totalmente plausível. Ascensão de líderes populistas, desemprego em massa, caos tecnológico, desastres ambientais. Tudo isso está lá, contado do ponto de vista de uma carismática família.
'Succession'
Se a primeira temporada de "Succession" foi apenas boa, a segunda fez da série de Jesse Armstrong uma das melhores produções no ar. Ao retratar a disputa familiar dentro de um conglomerado de mídia, a série expôs, com humor mordaz, a desconexão do 1% com o resto do mundo, com direito a uma virada eletrizante no final
'Dark'
Em sua segunda temporada, a série alemã da Netflix aprofundou as qualidades que a fizeram um fenômeno:
tramas intrincadas
, suspense em alta voltagem, ótimas atuações e mais linhas do tempo para desgraçar a sua cabeça. Raras foram as vezes que uma atração usou o conceito de viagem no tempo de forma tão interessante e complexa.
'Chernobyl'
Roteirista de comédias como "Se bebe não case parte II", o americano
Craig Mazin
criou provavelmente a produção mais instigante do ano com "
Chernobyl
", minissérie dramática da HBO. Sem sotaques caricatos,
Jared Harris
,
Stellan Skarsgård
e
Emily Watson
revivem o drama humano e político por trás do desastre nuclear
ocorrido em 1986 na União Soviética
.
Com a segunda temporada de "Fleabag",
Phoebe Waller-Bridge
consolidou seu lugar como uma das criadoras mais originais da televisão (ela também está por trás de "
Killing Eve
"). Ao fazer do telespectador seu cúmplice, Waller-Bridge compartilha os dramas de uma jovem mulher que não pede desculpas por ser quem é — e nos emociona e diverte no caminho. Ah, e falamos
daquele padre
?
'Derry Girls'
Anárquica e hilária, "Derry girls" é uma joia escondida na Netflix. Uma semi autobiografia, a sitcom de Lisa McGee aborda os conflitos na Irlanda do Norte dos anos 1990 a partir da visão ingênua de quatro adolescentes esquisitonas — e um rapaz inglês — que estudam juntos num colégio católico para garotas.
'True detective'
Após uma segunda temporada decepcionante, foi uma alegria ver "
True detective
" retornar à boa forma em 2019. Boa parte do sucesso é graças a
Mahershala Ali
, que nos brinda com uma atuação magistral como um detetive atormentado por um caso não resolvido em três diferentes fases da sua vida.
'Game of thrones'
Correram com a trama! O roteiro ficou cheio de buracos! O final não fez sentido! Foi ridícula aquela cena do (incluir cena que você achou ridícula)!... Pois é, não faltaram críticas ao final de "GoT", mas
mesmo quem detestou, não falou sobre outra coisa
. Foi o desfecho de um dos maiores fenômenos da TV, que certamente ainda vai render assunto.
'Olhos que condenam'
Não é fácil assistir à minissérie de Ava DuVernay para a Netflix. Não pela falta de qualidade — ao contrário, a produção é impecável. Mas sim porque o caso dos cinco meninos negros e latinos, condenados injustamente por um estupro em 1989, evidencia a crueldade do racismo estrutural — e quão pouco avançamos desde então.
"Sex education" é a prova de que dá para falar de sexo para e com adolescentes de forma inteligente — mas incrivelmente divertida. Com franqueza, a série da Netflix mostra que, com todo o acesso à informação da geração Z, a adolescência continua sendo uma experiência tão dolorosa e esquisita quanto era nas comédias dos anos 1980.
'A very english scandal'
Destaque no Globo de Ouro em janeiro, a minissérie da BBC "
A very english scandal
" chegou apenas este ano ao Brasil, via Globoplay. Com direção de Stephen Frears e grandes atuações de Hugh Grant e Ben Whishaw, a história do político que tentou matar seu amante é um irresistível estudo sobre a hipocrisia.
'Veep'
Bem que as "atuações" dos políticos na vida real tentaram tirar o brilho de Selina Meyer. Não conseguiram. Estrelada por Julia Louis-Dreyfus, "
Veep
", comédia da HBO sobre uma política sedenta por poder a todo custo, teve um "series finale" brilhante. Resta agora torcer para que surja uma nova sátira à altura dos absurdos da política no século XXI.
'The ABC murders'
Dirigida pelo brasileiro Alex Gabassi,
“The ABC murders”
é mais uma produção de excelência da televisão britânica que chegou ao Brasil pelo Globoplay. Nesta versão para o clássico de Agatha Christie, quem se encarrega de viver o detetive belga Hercule Poirot é John Malkovich. Em mais uma grande interpretação, ele tira Poirot da caricatura e revela um fato surpreendente sobre o passado dele. A minissérie ainda atualiza a trama ao abordar a xenofobia, que segue rondando a Inglaterra do Brexit.
— Voltamos por uma demanda insistente do público nas redes — garante o diretor, que hesitou a retomar a história até ter a ideia de avançar no tempo. A partir daí, ele encomendou uma pesquisa à Globo sobre o perfil da Geração Z. Nascidos de meados dos anos 1990 até o começo desta década, esses jovens são os primeiros a não terem lembrança de um mundo sem internet. Agora, eles chegam agora à vida adulta em um mundo em crise política e econômica — algo que estará presente na série.
— Eles achavam que iam trabalhar com o que dá prazer, e ao invés disso há desemprego, não conseguem sair da casa dos pais. É o contrário da minha geração, que cresceu na ditadura e, quando viramos adultos, a coisa estava se abrindo, a perspectiva era de melhora. Hoje, há um fechamento — analisa Cao, aos 57 anos.
— É uma geração cujos pais puderam dar uma vida mais tranquila, num momento mais estável do país, e que, agora, junto com as questões pessoais, também lida com essas questões sociais. É legal poder falar disso, e mais uma responsabilidade — completa Gabriela.
Para Manoela, um exemplo é a sua própria Lica. Ainda presa à adolescência, a menina retorna com três faculdades incompletas e completamente perdida.
— Ela vive numa bolha social, econômica e cultural, e desfruta de seus privilégios sem se tocar. Com o tempo, umas fichas vão cair e outras, não — antecipa.