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Cultura TV

Casa de novela: como os novos estúdios da Globo estão mudando o jeito de se fazer TV

Primeira produção gravada no MG4, 'Amor de mãe' conta com cenários ultrarrealistas; novela estreia dia 25
Caracterizada como Lurdes, uma das protagonistas de 'Amor de mãe', Regina Casé posa na casa de sua personagem, montada dentro do MG4, nos Estúdios Globo Foto: Globo/ João Cotta
Caracterizada como Lurdes, uma das protagonistas de 'Amor de mãe', Regina Casé posa na casa de sua personagem, montada dentro do MG4, nos Estúdios Globo Foto: Globo/ João Cotta

RIO — Para o diretor de produção da TV Globo Ricardo Waddington, o impacto em tecnologia “é gigantesco”. Para o público, a curiosidade é proporcional. No próximo dia 25, entra no ar “Amor de mãe”, a primeira novela gravada no novo complexo de estúdios da emissora conhecido como MG4 . Fruto de um investimento de R$ 200 milhões, a estrutura promete um novo jeito de se fazer TV. Mas o que é isso, afinal? E como a tecnologia vai marcar a nova trama, estrelada pela babá Lurdes (Regina Casé), a dona de restaurante Thelma (Adriana Esteves) e a advogada Vitória (Taís Araújo)?

— Utilizamos câmeras soltas, sem cabo, que permitem uma liberdade criativa que já conquistamos com as séries. E é possível fazer isso dentro de uma rede wireless, para fazer cortes de cena. Também temos os nossos conteúdos disponíveis em uma nuvem privada para pós-produção simultaneamente à gravação, abrindo possibilidades de edição remota. E adotamos câmeras de ultra-alta definição nas novas instalações. O MG4 representa um salto tecnológico no modelo de produção de conteúdo — diz Waddington.

Para o diretor de produção, tudo isso terá impacto na experiência do público, mas é nos cenários que a mudança talvez seja mais fácil de perceber. Com os novos estúdios, eles não precisam mais ser desmontados a cada dia de gravação. Por isso, usam materiais mais sólidos, mais próximos da realidade. Aproximam-se, assim, de casas “de verdade”, que só serão desfeitas ao fim do trabalho.

José Luiz Villamarim, diretor da trama criada por Manuela Dias, ocupou cada estúdio com a casa de uma das protagonistas. Na geografia do Rio, essas residências ficariam tão distantes quanto a vida de suas respectivas moradoras — uma numa comunidade da Zona Oeste, outra num bairro de classe média que viu a construção de um viaduto tirar seus dias de glória, a última em um endereço charmoso, certamente a poucos passos do mar. Na ficção, estão todas a alguns metros de distância.

— Essa novela tem como característica ser realista. Com os cenários fixos, posso usar materiais da cenografia mais pesados, como mármore e pedra, que trazem isso. A novela fica mais realista na realização, o que tem a ver com o conceito dela — explica Villamarim.

Outra mudança que o espectador deve sentir logo de início é que, como todos os cenários estão completos, é possível fazer mais planos sem cortes. Assim, uma cena que vai da cozinha à sala, por exemplo, não precisa mais ser feita em ocasiões diferentes.

— Antes, você tinha que cortar a cena no meio. Agora, você trabalha na ordem cronológica, na emoção da cena. Você tem tudo ali para o ator realizar a melhor interpretação possível — aponta o diretor.

Taís Araujo como Vitória em 'Amor de mãe', próxima novela das 21h. Advogada de poderosos, personagem sonha com a maternidade Foto: Globo/ Victor Pollak
Taís Araujo como Vitória em 'Amor de mãe', próxima novela das 21h. Advogada de poderosos, personagem sonha com a maternidade Foto: Globo/ Victor Pollak

Para Taís Araújo, o impacto na atuação é inevitável:

— Como está tudo montado, a gente tem mais liberdade. Tudo funciona, então fica mais real. Na minha casa, posso estar no meu quarto, vou andando, abro a geladeira, e a casa toda está funcionando — conta ela, enquanto se preparava para gravar uma cena tensa em que Vitória demonstra mais uma vez a frustração em não conseguir ser mãe.

A personagem, que fez fortuna advogando para poderosos, mantém no seu apartamento de luxo o quarto do bebê que perdeu de forma traumática. Mais tarde, sua vida irá se cruzar com a de Lurdes, uma nordestina batalhadora que sonha em recuperar um de seus filhos, e a de Thelma, viúva e mãe superprotetora de Danilo (Chay Suede).

O MG4 deve mudar também a forma de se fazer roteiros de gravação, explica Ricardo Waddington:

— Ter os três novos estúdios nos dá, por exemplo, a flexibilidade de manter todos os cenários montados enquanto o produto estiver sendo gravado e, consequentemente, uma nova maneira de fazer roteiro. No modelo que utilizamos todos estes anos, o plano de gravação de uma novela era feito em função da capacidade de montagem de cenário — destaca ele.

Inaugurado em agosto, o MG4 é resultado de cinco anos de pesquisa e obras, e foi criado para ampliar a capacidade dos Estúdios Globo, que já chegava perto dos 100%. Maior complexo de produção de conteúdo da América Latina, na Zona Oeste do Rio, a estrutura ocupa uma área de 1,73 milhão de metros quadrados, com 13 estúdios, ampliando a oferta de serviços da emissora, que também alimenta a plataforma de streaming Globoplay.