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Com Mahershala Ali,'True detective' busca volta à boa forma na terceira temporada

Trama que estreia no dia 13/1 está mais focada em personagens do que em ação
No elenco Mahershala Ali e Carmen Ejogo. Produção explora a emasculação do homem diante do sucesso da mulher Foto: Warrick Page / Divulgação/HBO
No elenco Mahershala Ali e Carmen Ejogo. Produção explora a emasculação do homem diante do sucesso da mulher Foto: Warrick Page / Divulgação/HBO

LOS ANGELES — Depois de uma estreia impactante e elogiada, em 2014, “True detective” deu uma patinada na segunda temporada, decepcionando público e crítica. Em seu terceiro ano, a série criada por Nic Pizzolatto, — que chega à HBO no dia 13, à meia-noite, com dois episódios na sequência — tenta se esquivar de possíveis erros de escalação com Mahershala Ali, vencedor do Oscar por “Moonlight — Sob a luz do luar” (2016), em seu primeiro papel principal.

— Se formos comparar, sim, esta é mais parecida com a primeira, porque a segunda tinha um elenco principal maior e mais ação — diz Ali. — Esta volta a se concentrar nos dramas dos personagens. Mas é bem diferente da primeira, também.

Pizzolatto precisou de um empurrãozinho para transformar o protagonista Wayne Hays num detetive negro. Mas Ali nega ter precisado convencê-lo, como saiu em algumas reportagens.

— Nic se convenceu sozinho, eu só me vendi — diz o ator. — Eu só compartilhei com ele porque achava que me dar a oportunidade de interpretar o detetive que lidera a investigação seria algo bom para a série, adicionando uma outra camada a personagens já cheios de nuances. E ele acabou concordando.

É fácil entender por quê. A terceira temporada se passa parcialmente numa pequena cidade do Arkansas, em 1980, quando Hays e seu parceiro Roland West (Stephen Dorff) são encarregados de investigar o desaparecimento de duas crianças, Tom e Lucy Purcell, a e lidar com as brigas constantes entre seus pais, separados.

— Se você é um policial negro numa pequena cidade em 1980, vai encontrar problemas ao sair pelas ruas tentando obter informações. O que as pessoas vão priorizar: discriminação e racismo ou a solução do crime? — questiona Ali. — Mas não acho que estejamos fazendo nenhuma pregação. É só uma camada a mais. Porque a nossa aparência afeta muito a nossa realidade, as nossas experiências neste mundo.

Há também partes da trama nos anos 1990, quando o caso é reaberto, e em 2015, quando Hays, sofrendo de perda de memória, tenta relembrar os detalhes numa entrevista para a TV.

Efeitos da guerra

Além do crime em si, que tem requintes tão assustadores quanto os da primeira temporada, os novos episódios de “True detective” focam bastante os personagens, em especial em Hays, um veterano da Guerra do Vietnã.

— Essa foi a guerra em que as pessoas voltaram e não foram acolhidas, o que foi um choque — afirma o ator. — Pensei muito como seria alguém se alistar e depois ser recebido assim. Ele era especialista em sair pela mata sozinho para fazer reconhecimento, o que me diz que ele fica bem só, é observador e tem até dificuldade de se relacionar.

A primeira temporada, dirigida por Cary Fukunaga, foi um sucesso, tendo Matthew McConaughey e Woody Harrelson investigando a misteriosa morte de uma prostituta nos anos 1990, numa pequena cidade na Louisiana, e revisitando o caso 17 anos mais tarde. Foto: Divulgação
A primeira temporada, dirigida por Cary Fukunaga, foi um sucesso, tendo Matthew McConaughey e Woody Harrelson investigando a misteriosa morte de uma prostituta nos anos 1990, numa pequena cidade na Louisiana, e revisitando o caso 17 anos mais tarde. Foto: Divulgação

Hays se interessa pela professora Emilia (Carmen Ejogo), mas hesita em se aproximar. No futuro, ele pesa seus erros no casamento — Emilia escreveu um livro sobre o caso, o que despertou sentimentos pouco nobres no marido.

— Esperava-se das mulheres da época que desistissem de suas ambições pessoais, que criassem uma família — diz Carmen. — Nic explorou muito bem a emasculação de um homem e como fica sua psique quando a mulher está realizando seus sonhos.

A mal recebida segunda temporada foi dirigida por Justin Lin, transferiu a ação para um subúrbio de Los Angeles, dividiu a ação entre três oficiais de departamentos diferentes (Colin Farrell, Rachel McAdams e Taylor Kitsch) e lidou com a corrupção nos dias de hoje. Foto: Lacey Terrell / Divulgação
A mal recebida segunda temporada foi dirigida por Justin Lin, transferiu a ação para um subúrbio de Los Angeles, dividiu a ação entre três oficiais de departamentos diferentes (Colin Farrell, Rachel McAdams e Taylor Kitsch) e lidou com a corrupção nos dias de hoje. Foto: Lacey Terrell / Divulgação

Assim como Hays, seu parceiro Roland West também lutou no Vietnã, mas sua atitude é um pouco diferente.

— Nic escreveu dois papéis incríveis e opostos — diz Dorff. — Eles estão tentando se adaptar à nova vida, sem fazer muito na cidade pequena, até receberem um telefonema com notícias terríveis. Quando algo assim acontece numa cidade pequena, as pessoas querem saber por quê. Precisam ter uma conclusão. Imagine se ela não se concretiza?

Para interpretar Hays e West já no século XXI, os atores passaram, cada um, por quatro a seis horas de maquiagem todos os dias.

— Foi estranho, falei com meu pai no Facetime e ele ficou doido! — diz Dorff.

Para Mahershala Ali, o processo ajudou muito:

— Eu olhava no espelho e não me reconhecia. Atuar funciona bem quando você consegue se despir de sua vaidade.