RIO - Há produções brasileiras para todos os gostos no
Emmy Internacional
de 2019. Na premiação mundial, que acontece nesta segunda-feira em Nova York, a diversidade da produção nacional é o maior destaque deste ano.
Com nove indicações no total, o Brasil está presente em algumas das principais categorias da premiação, que celebra o melhor da televisão ao redor do mundo, exceto pelos Estados Unidos.
Por seu trabalho na segunda temporada da série da Globo
“Sob pressão”
,
Marjorie Estiano
concorre na categoria de melhor atriz, ao lado de Radhika Apte, em "Lust stories" (Índia), Jenna Coleman em "In the cry" (Reino Unido) e Marina Gera em "Örok tél" (Hungria). Já
Raphael Logam
, astro da série
"Impuros"
, da FOX, disputa o prêmio de melhor ator com Haluk Bilginer em "Sahsiyet" (Turquia), Christopher Eccleston em "Come home" (Reino Unido) e Jannis Niewöhner em "Beat" (Alemanha).
A viagem para a premiação será a primeira visita a Nova York do ator carioca de 33 anos, que em “Impuros” vive o protagonista Evandro, um jovem promissor que acaba entrando para a criminalidade após o assassinato do irmão. A primeira temporada da série está disponível no Globoplay.
— Com a data da premiação se aproximando, é natural que a ansiedade aumente. No dia do evento, inclusive, é aniversário da minha mãe, que é a pessoa mais importante da minha vida. Então, a mistura de sentimentos aumenta mais (risos). Ganhar seria um presentão pra ela. Mas já estou muito feliz com tanta coisa boa — comemora o ator.
A proposta era das mais arriscadas: pegar uma das obras mais louvadas dos quadrinhos e retomar seu universo décadas após o fim da história original. Mas Damon Lindelof conseguiu e fez talvez a melhor série do ano. Ao unir a obsessão com heróis ao conflito racial, "Watchmen" é tão perturbadora quanto urgente.
'Years and years'
Foto: Divulgação
Sem alardes, a parceria da BBC com a HBO nos conquista mais a cada novo episódio e assusta ao mostrar um futuro próximo, catastrófico e totalmente plausível. Ascensão de líderes populistas, desemprego em massa, caos tecnológico, desastres ambientais. Tudo isso está lá, contado do ponto de vista de uma carismática família.
'Succession'
Foto: Graeme Hunter / Graeme Hunter
Se a primeira temporada de "Succession" foi apenas boa, a segunda fez da série de Jesse Armstrong uma das melhores produções no ar. Ao retratar a disputa familiar dentro de um conglomerado de mídia, a série expôs, com humor mordaz, a desconexão do 1% com o resto do mundo, com direito a uma virada eletrizante no final
'Dark'
Foto: Divulgação
Em sua segunda temporada, a série alemã da Netflix aprofundou as qualidades que a fizeram um fenômeno:
tramas intrincadas
, suspense em alta voltagem, ótimas atuações e mais linhas do tempo para desgraçar a sua cabeça. Raras foram as vezes que uma atração usou o conceito de viagem no tempo de forma tão interessante e complexa.
'Chernobyl'
Foto: Divulgação
Roteirista de comédias como "Se bebe não case parte II", o americano
Craig Mazin
criou provavelmente a produção mais instigante do ano com "
Chernobyl
", minissérie dramática da HBO. Sem sotaques caricatos,
Jared Harris
,
Stellan Skarsgård
e
Emily Watson
revivem o drama humano e político por trás do desastre nuclear
ocorrido em 1986 na União Soviética
.
Com a segunda temporada de "Fleabag",
Phoebe Waller-Bridge
consolidou seu lugar como uma das criadoras mais originais da televisão (ela também está por trás de "
Killing Eve
"). Ao fazer do telespectador seu cúmplice, Waller-Bridge compartilha os dramas de uma jovem mulher que não pede desculpas por ser quem é — e nos emociona e diverte no caminho. Ah, e falamos
daquele padre
?
'Derry Girls'
Foto: Divulgação
Anárquica e hilária, "Derry girls" é uma joia escondida na Netflix. Uma semi autobiografia, a sitcom de Lisa McGee aborda os conflitos na Irlanda do Norte dos anos 1990 a partir da visão ingênua de quatro adolescentes esquisitonas — e um rapaz inglês — que estudam juntos num colégio católico para garotas.
'True detective'
Foto: HBO
Após uma segunda temporada decepcionante, foi uma alegria ver "
True detective
" retornar à boa forma em 2019. Boa parte do sucesso é graças a
Mahershala Ali
, que nos brinda com uma atuação magistral como um detetive atormentado por um caso não resolvido em três diferentes fases da sua vida.
'Game of thrones'
Foto: Divulgação
Correram com a trama! O roteiro ficou cheio de buracos! O final não fez sentido! Foi ridícula aquela cena do (incluir cena que você achou ridícula)!... Pois é, não faltaram críticas ao final de "GoT", mas
mesmo quem detestou, não falou sobre outra coisa
. Foi o desfecho de um dos maiores fenômenos da TV, que certamente ainda vai render assunto.
'Olhos que condenam'
Foto: Divulgação
Não é fácil assistir à minissérie de Ava DuVernay para a Netflix. Não pela falta de qualidade — ao contrário, a produção é impecável. Mas sim porque o caso dos cinco meninos negros e latinos, condenados injustamente por um estupro em 1989, evidencia a crueldade do racismo estrutural — e quão pouco avançamos desde então.
"Sex education" é a prova de que dá para falar de sexo para e com adolescentes de forma inteligente — mas incrivelmente divertida. Com franqueza, a série da Netflix mostra que, com todo o acesso à informação da geração Z, a adolescência continua sendo uma experiência tão dolorosa e esquisita quanto era nas comédias dos anos 1980.
'A very english scandal'
Foto: Sophie Mutevelian / Sophie Mutevelian/BBC/Blueprint
Destaque no Globo de Ouro em janeiro, a minissérie da BBC "
A very english scandal
" chegou apenas este ano ao Brasil, via Globoplay. Com direção de Stephen Frears e grandes atuações de Hugh Grant e Ben Whishaw, a história do político que tentou matar seu amante é um irresistível estudo sobre a hipocrisia.
'Veep'
Foto: Justin M. Lubin / AP
Bem que as "atuações" dos políticos na vida real tentaram tirar o brilho de Selina Meyer. Não conseguiram. Estrelada por Julia Louis-Dreyfus, "
Veep
", comédia da HBO sobre uma política sedenta por poder a todo custo, teve um "series finale" brilhante. Resta agora torcer para que surja uma nova sátira à altura dos absurdos da política no século XXI.
'The ABC murders'
Foto: Ben Blackall / Divulgação
Dirigida pelo brasileiro Alex Gabassi,
“The ABC murders”
é mais uma produção de excelência da televisão britânica que chegou ao Brasil pelo Globoplay. Nesta versão para o clássico de Agatha Christie, quem se encarrega de viver o detetive belga Hercule Poirot é John Malkovich. Em mais uma grande interpretação, ele tira Poirot da caricatura e revela um fato surpreendente sobre o passado dele. A minissérie ainda atualiza a trama ao abordar a xenofobia, que segue rondando a Inglaterra do Brexit.
Outras categorias de peso com produções brasileiras são série de drama, com a terceira temporada de "Um contra todos", da FOX; filme para TV ou minissérie, com
"Se eu fechar os olhos agora"
, da TV Globo; melhor programa de horário nobre em língua não-inglesa, com a terceira temporada de
"Magnífica 70"
, da HBO; e melhor programa de comédia, com o especial de Natal “Se beber não ceie”, do Porta dos Fundos.
Intérprete de ninguém menos do que Jesus na paródia,
Fábio Porchat
comemorou a indicação, que pode render a primeira vitória do país na categoria.
— É muito bom concorrer com uma sátira religiosa nesse momento do Brasil em que as pessoas estão dizendo muito “não pode”. A gente vai lá e faz uma das coisas que mais “não pode” no mundo, porque para a gente, no humor, tudo pode — comenta.
Fora da ficção, o Brasil também tem chances com três documentários: produção da O2 em parceria com a HBO,
"Ópera aberta - Os pescadores de pérolas"
, de Fernando Meirelles e Carlos Nader, concorre na categoria de programa de arte, enquanto
"Hack the city"
, da FOX para o Nat Geo, disputa entre séries curtas. Já na categoria de documentários, a aposta é em
"A primeira pedra"
, produzido pelo Canal Futura em parceria com a produtora Couro de Rato.
Disponível na plataforma Futura Play, o filme dirigido por Vladimir Seixas se debruça sobre os recentes casos de linchamento no país. Para o gerente do Canal Futura, José Brito, a escolha mostra que a importância de se investir na agenda dos direitos humanos.
— É um documentário que vai na veia na discussão sobre um tema muito relevante, que é a intolerância. A gente vive numa sociedade em que a intolerância está à frente de qualquer tipo de debate. O “Primeira pedra” mostra que isso pode estar em qualquer lugar se a gente não tomar cuidado para discutir com seriedade o tema.