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Docussérie de Ingrid Guimarães, 'Viver do riso' investiga a história do humor brasileiro

Estreia do Viva, projeto ouviu 90 comediantes sobre o desafio de fazer rir
Ingrid Guimarães: atriz comanda a série documental 'Viver o riso, no Viva, que retrata a história do humor brasileiro Foto: Guito Moreto / Agência O Globo
Ingrid Guimarães: atriz comanda a série documental 'Viver o riso, no Viva, que retrata a história do humor brasileiro Foto: Guito Moreto / Agência O Globo

RIO - Mãe de Clara, de nove anos, a atriz Ingrid Guimarães conta que perceber que a filha não sabia da importância de Chico Anysio para a televisão brasileira foi um dos motivos que a levou a fazer um documentário sobre o humor nacional. Três anos após a ideia inicial, chega ao Viva no próximo sábado (27), às 19h15, a docussérie “ Viver do riso”. Dividida em dez episódios, a empreitada traça um panorama da comédia feita no país, dos tempos de Grande Otelo e Oscarito a fenômenos recentes como o Porta dos Fundos ou o youtuber Whindersson Nunes.

— Queria fazer algo que minha filha pudesse encontrar em uma pesquisa para um trabalho da faculdade no futuro. A geração dela precisa saber quem foram Paulo Silvino, Agildo Ribeiro e Dercy Gonçalves — conta a atriz de 46 anos, que também viu no projeto uma forma de lidar com a passagem do tempo.

— Comecei a pensar em como eu ia envelhecer sendo comediante. Então passei a refletir sobre como as pessoas que eu admiro envelhecem — explica Ingrid — Muitas vezes, o comediante é confundido com um palhaço triste quando ele envelhece, enquanto o ator dramático vira um ícone.

Inicialmente, a ideia do programa era promover encontros entre mestres da velha guarda do humor com estrelas do momento. Depois, Ingrid e o trio de diretores Tatiana Issa, Raphael Alvarez e Guto Barra (responsáveis também por “Fora do Armário”, da HBO), resolveram dividir as 90 entrevistas em episódios temáticos. Juntou-se a isso a descoberta, durante a entrevista com Fábio Porchat, de que o colega tinha filmado, anos antes, entrevistas com outros comediantes, entre eles, Anysio.

— Tenho uma gratidão eterna pelo Fábio. Temos um programa inteiro sobre o Chico, e só faltava ele falando — explica Ingrid, que também recebe elogios:

— A iniciativa dela é incrível, ainda mais por ser uma mulher comediante, porque é muito mais difícil para elas terem espaço no humor — comenta Fábio.

Não por acaso, o primeiro episódio do programa é justamente dedicado às mulheres na comédia. Apesar de prestar homenagens aos antecessores, Ingrid também não se furta de confrontá-los em relação aos conteúdos machistas que costumavam ser regra.

— Antes, o humor na televisão só tinha espaço para a feia ou a gostosa. Ou então a gente era a empregada doméstica da novela do Manoel Carlos, ou a amiga maluca da mocinha. Quando eu vejo que hoje a Tatá (Werneck) é protagonista de novela, percebo a mudança. Hoje, nós, comediantes, somo protagonistas de filme, fazemos campanhas publicitárias. A piada está com a gente — comemora Ingrid, que também destaca o aumento no número de mulheres nas salas de roteiro.

A tortuosa questão dos limites do humor é outro assunto enfrentado com franqueza durante a série.

— O Gregório (Duvivier) fala na sua entrevista que durante muito tempo o humor bateu nas mesmas pessoas que a polícia batia: negros, gays e pobres — lembra a atriz, ao mesmo tempo em que pondera que está difícil a vida para quem vive de riso no momento atual do país.

— O humor precisa de liberdade, e estamos o tempo todo pisando em ovos. Outro dia, botei no meu Instagram uma charge de um homem jogando Rivotril no ar para acalmar a galera. Quase apaguei: começaram a falar que isso era um absurdo com as pessoas que estão tomando Rivotril...