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Em 'Pais de primeira', Antonio Prata discute paternidade sem tabus e com humor

Nova série da Globo conta com Marisa Orth e Heloisa Périssé no elenco
Antonio Prata assina redação-final para produção de TV pela primeira vez em 'Pais de primeira' Foto: Leo Martins / Agência O Globo
Antonio Prata assina redação-final para produção de TV pela primeira vez em 'Pais de primeira' Foto: Leo Martins / Agência O Globo

RIO - Antonio Prata conta que ele e a mulher, Julia, concluíram que nunca mais seriam felizes depois que Olivia, 5 anos, e Daniel, 3, nasceram. Afinal, quando os filhos estão com eles, é preciso lidar o tempo todo com “pequenas urgências”. E, quando os filhos estão longe, o casal morre de saudade deles.

Foi pensando nessa complexidade de sentimentos que o escritor criou “Pais de primeira”, série que estreia na TV Globo no próximo domingo (25). O primeiro episódio está disponível no Globoplay.

Pela primeira vez, Prata assina a redação-final de uma produção para a TV, junto com Chico Mattoso, Thiago Dottori, Bruna Paixão e Tati Bernardi. Os protagonistas são a workaholic Taís (Renata Gaspar) e o músico Pedro (George Sauma), que se descobrem “grávidos” logo após Pedro pedir demissão do trabalho para ir atrás do sonho de montar uma banda. Antes mesmo da estreia, a série tem segunda temporada garantida.

— Eu e o Chico ( Mattoso ) começamos a pensar em uma série sobre um casal, em 2012, que ia discutir temas contemporâneos. No meio do caminho, nós dois viramos pais. Quando você tem filho, ele passa a ser seu único assunto. Então demos um bebê ao casal — explica Prata, que espera tocar em outros temas além da paternidade na série.

Antonio Prata: escritor passou a refletir sobre paternidade após o nascimento da primeira filha, Olivia Foto: Leo Martins / Agência O Globo
Antonio Prata: escritor passou a refletir sobre paternidade após o nascimento da primeira filha, Olivia Foto: Leo Martins / Agência O Globo

Ele lembra que um filho é “desculpa para falar de tudo”, já que demanda resposta para quase todas as questões atuais. E exemplifica:

— Você é um ecologista a ponto de lavar fralda ou vai aderir ao sistema, usar fraldas descartáveis e dane-se o aquecimento global? Vai dar Barbie ou brinquedo educativo? Furar a orelha ou não? Tudo o que estamos discutindo hoje é encarado quando você está educando uma criança.

Autor de mais de cem crônicas sobre a paternidade, publicadas na “Folha de S.Paulo”, Prata acredita que o amor pelos filhos não é imediato:

— O instinto materno é uma ficção. Quando o bebê nasce, os pais não o amam. É a pessoa mais próxima de você, mas mais desconhecida. Quando olhei para minha filha e pensei que não a amava, achei que eu era um homem mau, que meu coração tinha congelado como o da “Frozen”. Mas, quanto mais coisa chata você faz com esse bebê, mais você se apaixona por ele. A relação é abusiva: ele faz xixi na sua cara, cocô na sua mão, e cada vez que piora sua vida, você o ama mais. E depois começa a ser rejeitado, muito rapidamente. Dia desses falei “eu te amo” para a Olivia, e ela respondeu: “Papai, você fala isso todo dia” — ri.

Outra dinâmica a ser abordada é a relação com os avós. Em “Pais de primeira”, Augusto (Daniel Dantas) e Rosa (Marisa Orth) são avós paternos que não querem desgrudar do neto e chegam a alugar um apartamento próximo, enquanto Sílvia (Heloisa Périssé) e Luis Fernando (Nelson Freitas), os avós maternos, são mais ausentes.

Algumas situações vividas pelos roteiristas serviram de inspiração para a comédia, como quando a personagem de Heloisa Perrisé resolve tatuar na pele “Marina”, o nome da futura neta, sem saber que Taís havia mudado de ideia ao descobrir que a namorada do pai tinha o mesmo nome.

Outra presença é a irmã de Taís, Patrícia (Monique Alfradique), que faz as vezes de mãe “perfeita”, sempre comparando-se com a protagonista. É a deixa para discutir as pressões sociais sobre as mães, mais responsabilizadas pelo comportamento dos filhos do que os pais.

— Só quando tem filho é que você percebe que vai lutar nas trincheiras da maternidade em pé de igualdade — diz Prata. — Quando acordava com o choro da minha filha, pensava: por que não nasci na época do Don Draper ( personagem de “Mad men”, série de TV passada nos anos 1960 ), quando o mundo era horroroso? ( risos ) Sou da primeira geração em que se espera que se divida 50% das tarefas, e isso é ótimo para a comédia.

A diferença entre expectativa e realidade também vai aparecer na série. Prata lembra que a maneira como os pais imaginam que serão dificilmente corresponde ao que eles acabam sendo.

— No projeto ideal, minha filha nunca ia usar iPad. Um ano depois, ela está chorando na ponte aérea e eu só penso “pelo amor de Deus, engole esse iPad e para de chorar”.

Apesar do foco em mostrar o “mundo real” da experiência da paternidade, Prata explica que uma preocupação da equipe foi não perder a ternura. Para isso, os roteiristas criaram um “ternurômetro”, para balancear a doçura com as situações tragicômicas.

— O risco da comédia é queimar o objeto que você toca. Às vezes a comédia tem mesmo que ser cáustica, mas estamos falando de um tema muito amoroso. Ter filho é difícil, você não dorme, dói, às vezes o casal se separa, mas você ama aquele bebê.