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Humberto Carrão: 'Não sei jogar o jogo das celebridades, e nem quero'

Comovente como Sandro na novela ‘Amor de mãe’, ator comemora que ‘Marighella’ finalmente tenha ganhado uma data de estreia no Brasil e diz por que não dá a mínima para quem deixar de segui-lo nas redes sociais
Ator desde a infância, Humberto Carrão vive seu melhor momento em ‘Amor de mãe’ e ainda prepara novos projetos no cinema Foto: Antonio Scorza / Agência O Globo
Ator desde a infância, Humberto Carrão vive seu melhor momento em ‘Amor de mãe’ e ainda prepara novos projetos no cinema Foto: Antonio Scorza / Agência O Globo

RIO - Se Humberto Carrão é tímido ao fotografar, na hora de conversar ele tem muito a dizer. Intérprete de Sandro em “Amor de mãe” , o ator de 28 anos tem emocionado na novela das 21h, em especial nas cenas ao lado de Regina Casé : recentemente, o personagem descobriu que não é filho da doméstica Lurdes, e sim da então patroa dos dois, a advogada Vitória (Taís Araújo) .

— O negócio bateu forte porque era uma tristeza mesmo abandonar aquele núcleo — conta.

Realizado num café em Laranjeiras, o encontro com o GLOBO aconteceu no dia em que o filme “Marighella”, estreia de Wagner Moura na direção, teve sua data de lançamento no Brasil finalmente anunciada , após um longo atraso por entraves na Ancine. No longa, Carrão vive seu xará Humberto, um aliado do protagonista, interpretado  por Seu Jorge. Na entrevista a seguir, ele fala sobre os dois personagens, os planos de dirigir e sua participação como Jesus no próximo desfile da Mangueira.

Como você se preparou para o Sandro?

Passei um dia inteiro em Bangu, em diferentes pavilhões. É muito pouco para compor um personagem ou achar que entendi e posso falar sobre o assunto. Mas eu fui porque eu não queria fazer uma caricatura. A gente costuma ver sempre uns estereótipos de presos, e era uma coisa de que eles reclamavam muito. Falaram para eu não fazer assim ou assado.

O que, por exemplo?

A roupa, o jeito de falar. Existem muitos rituais no presídio. Fico curioso pra saber se estão vendo, o que eles estão achando. Foi importante, para mim, ter ido lá, principalmente pelo trabalho de corpo. Existia, no início, uma ideia de que o personagem tinha que ocupar muito espaço, e eu sempre pensei o contrário. Ele tinha que ser quebrado pelas coisas por que passou.

Ator desde a infância, Humberto Carrão vive seu melhor momento em ‘Amor de mãe’ e ainda prepara novos projetos no cinema Foto: Antonio Scorza / Agência O Globo
Ator desde a infância, Humberto Carrão vive seu melhor momento em ‘Amor de mãe’ e ainda prepara novos projetos no cinema Foto: Antonio Scorza / Agência O Globo

Você fez também um papel no filme ‘Marighella’, de Wagner Moura. Como foi essa experiência?

Meu personagem é um guerrilheiro, um dos mais próximos do Marighella. Fui muito feliz fazendo esse filme e lembro perfeitamente de brincar na hora das filmagens: “olha lá, hein, será que esse filme não vai ser lançado? Será que vai ter problema?” E teve, né. É um absurdo que esse filme tenha atrasado um ano para chegar ao Brasil. Um filme pronto e querendo ser lançado.

Em algum momento você achou que o filme não fosse sair nunca?

A princípio, me pareceu uma loucura essa ideia. Depois teve um silêncio, então começou, sim, a dar um medo. Temos que comemorar que “Marighella” será lançado, mas uma coisa é certa: filmes como este não serão feitos mais. Não assim, com uma produção saudável, com um bom orçamento. A gente vai fazer filme de guerrilha e a produção não vai parar. Mas a asfixia, o corte para falar desse tipo de personagem, isso já aconteceu.

Você vai ser uma das pessoas a desfilar como Jesus na Mangueira. Como será sua participação?

Sou mangueirense desde criança. Quando o Leandro (Vieira, carnavalesco da escola) me chamou achei estranho: “como assim, a ideia não era Jesus preto?”. Ele explicou que são vários tipos de Jesus, e ele queria que o Jesus branco fosse o que expulsa os mercenários do templo. Então é um Jesus com raiva. A raiva é diferente de ódio, porque ela estimula, e ódio diminui. É um Jesus que tem força e decide expulsar quem vende a fé.

Dá para falar de Jesus no carnaval?

Dá pra falar de tudo. No carnaval todos os assuntos podem estar na mesa. É o lugar de embaralhar as hierarquias e os poderes. O carnaval é um instrumento de pensamento, de estabelecer laços, discutir assuntos. Se você acompanha um samba enredo, fica estimulado a saber mais sobre aquele assunto. Acho essa pergunta da Mangueira desse ano muito corajosa, e num momento ideal: “Vem cá, pessoas da fé, políticos que usam da fé como projeto de poder, e se Jesus voltasse como uma criança na Mangueira?” Acho que eles iriam odiar, tenho certeza de que seria inimigo deles.

Você é religioso?

Não sou, acredito em muitas coisas, respeito todas. Crescei numa família kardecista. Frequento Umbanda e Candomblé, na verdade, estudo mais do que frequento. Faço as minhas orações, mas não é uma característica marcante de quem eu sou. Talvez nos momentos difíceis, o que é um pouco egoísta. Mas, nesses momentos, isso aflora.

Você ainda prepara outros projetos para este ano?

Estou escrevendo o roteiro de um longa-metragem com a Ana Maria Gonçalves (autora de ‘Um defeito de cor’) , o segundo que escrevemos juntos. Quero dirigir também. É sobre quatro idosos que são os últimos a receber do Estado reparação pelo que eles sofreram na ditadura. São pessoas que depois de 50 anos recebem uns 60 mil reais e não sabem o que fazer com esse dinheiro. Acho os personagens idosos muito especiais, e eu percebo que muitos dos nossos grandes atores, quando ficam velhos, têm personagens cada vez menores e menos complexos. Quero homenageá-los.

Você teme, com o sucesso da novela, ser rotulado como um galã, uma celebridade?

Não. Acho que eu tenho feito boas escolhas, e nunca é baseado na grana. Não levo nem um pouco uma vida de celebridade. Não jogo o jogo, não sei jogar, e nem quero.

O que, para você, é jogar o jogo de celebridade?

Acho que é a quantidade de alta exposição da sua vida, e principalmente, tudo é seguidor, like . Essa história de jogar o jogo tem a ver, no Brasil dos últimos anos, em se esquivar. Mesmo que eu fosse dentista, me posicionaria em assuntos que eu acho fundamentais. Eu vejo que isso incomoda um bando de gente, é o famoso “deixando de seguir”. Caguei.

Com a exposição, ficou mais mais difícil ter um relacionamento sério? (Desde 2012, ele namora a atriz Chandelly Braz)

Não ficou, não. Eu não pego um trabalho de exposição o tempo todo, não mudo minha vida por isso. Nunca afetou porque ela é muito tranquila. Estamos juntos há quase oito anos.

Não vão casar?

A gente já ficou junto um tempo. Mas, sei lá, acho que em um momento a gente vai!