RIO — A história da americana
Fauna Hodel
parece enredo de melodrama. Nascida em 1951, foi criada como Pat pela mãe adotiva, uma faxineira negra chamada Jimmy Lee, na cidade de Reno, no estado segregacionista de Nevada. Até os 16 anos, acreditava ser “mestiça”. Quando descobriu a verdadeira origem, retornou ao seio de sua família, em Los Angeles, na Califórnia, e passou a integrar uma engrenagem de escândalos e outras formas de abuso psicológico. A trajetória de Fauna inspirou a minissérie em seis episódios “I am the night”, que estreia amanhã (segunda, 22), às 23h45, no canal de TV por assinatura TNT Series.
A proposta era das mais arriscadas: pegar uma das obras mais louvadas dos quadrinhos e retomar seu universo décadas após o fim da história original. Mas Damon Lindelof conseguiu e fez talvez a melhor série do ano. Ao unir a obsessão com heróis ao conflito racial, "Watchmen" é tão perturbadora quanto urgente.
'Years and years'
Foto: Divulgação
Sem alardes, a parceria da BBC com a HBO nos conquista mais a cada novo episódio e assusta ao mostrar um futuro próximo, catastrófico e totalmente plausível. Ascensão de líderes populistas, desemprego em massa, caos tecnológico, desastres ambientais. Tudo isso está lá, contado do ponto de vista de uma carismática família.
'Succession'
Foto: Graeme Hunter / Graeme Hunter
Se a primeira temporada de "Succession" foi apenas boa, a segunda fez da série de Jesse Armstrong uma das melhores produções no ar. Ao retratar a disputa familiar dentro de um conglomerado de mídia, a série expôs, com humor mordaz, a desconexão do 1% com o resto do mundo, com direito a uma virada eletrizante no final
'Dark'
Foto: Divulgação
Em sua segunda temporada, a série alemã da Netflix aprofundou as qualidades que a fizeram um fenômeno:
tramas intrincadas
, suspense em alta voltagem, ótimas atuações e mais linhas do tempo para desgraçar a sua cabeça. Raras foram as vezes que uma atração usou o conceito de viagem no tempo de forma tão interessante e complexa.
'Chernobyl'
Foto: Divulgação
Roteirista de comédias como "Se bebe não case parte II", o americano
Craig Mazin
criou provavelmente a produção mais instigante do ano com "
Chernobyl
", minissérie dramática da HBO. Sem sotaques caricatos,
Jared Harris
,
Stellan Skarsgård
e
Emily Watson
revivem o drama humano e político por trás do desastre nuclear
ocorrido em 1986 na União Soviética
.
Com a segunda temporada de "Fleabag",
Phoebe Waller-Bridge
consolidou seu lugar como uma das criadoras mais originais da televisão (ela também está por trás de "
Killing Eve
"). Ao fazer do telespectador seu cúmplice, Waller-Bridge compartilha os dramas de uma jovem mulher que não pede desculpas por ser quem é — e nos emociona e diverte no caminho. Ah, e falamos
daquele padre
?
'Derry Girls'
Foto: Divulgação
Anárquica e hilária, "Derry girls" é uma joia escondida na Netflix. Uma semi autobiografia, a sitcom de Lisa McGee aborda os conflitos na Irlanda do Norte dos anos 1990 a partir da visão ingênua de quatro adolescentes esquisitonas — e um rapaz inglês — que estudam juntos num colégio católico para garotas.
'True detective'
Foto: HBO
Após uma segunda temporada decepcionante, foi uma alegria ver "
True detective
" retornar à boa forma em 2019. Boa parte do sucesso é graças a
Mahershala Ali
, que nos brinda com uma atuação magistral como um detetive atormentado por um caso não resolvido em três diferentes fases da sua vida.
'Game of thrones'
Foto: Divulgação
Correram com a trama! O roteiro ficou cheio de buracos! O final não fez sentido! Foi ridícula aquela cena do (incluir cena que você achou ridícula)!... Pois é, não faltaram críticas ao final de "GoT", mas
mesmo quem detestou, não falou sobre outra coisa
. Foi o desfecho de um dos maiores fenômenos da TV, que certamente ainda vai render assunto.
'Olhos que condenam'
Foto: Divulgação
Não é fácil assistir à minissérie de Ava DuVernay para a Netflix. Não pela falta de qualidade — ao contrário, a produção é impecável. Mas sim porque o caso dos cinco meninos negros e latinos, condenados injustamente por um estupro em 1989, evidencia a crueldade do racismo estrutural — e quão pouco avançamos desde então.
"Sex education" é a prova de que dá para falar de sexo para e com adolescentes de forma inteligente — mas incrivelmente divertida. Com franqueza, a série da Netflix mostra que, com todo o acesso à informação da geração Z, a adolescência continua sendo uma experiência tão dolorosa e esquisita quanto era nas comédias dos anos 1980.
'A very english scandal'
Foto: Sophie Mutevelian / Sophie Mutevelian/BBC/Blueprint
Destaque no Globo de Ouro em janeiro, a minissérie da BBC "
A very english scandal
" chegou apenas este ano ao Brasil, via Globoplay. Com direção de Stephen Frears e grandes atuações de Hugh Grant e Ben Whishaw, a história do político que tentou matar seu amante é um irresistível estudo sobre a hipocrisia.
'Veep'
Foto: Justin M. Lubin / AP
Bem que as "atuações" dos políticos na vida real tentaram tirar o brilho de Selina Meyer. Não conseguiram. Estrelada por Julia Louis-Dreyfus, "
Veep
", comédia da HBO sobre uma política sedenta por poder a todo custo, teve um "series finale" brilhante. Resta agora torcer para que surja uma nova sátira à altura dos absurdos da política no século XXI.
'The ABC murders'
Foto: Ben Blackall / Divulgação
Dirigida pelo brasileiro Alex Gabassi,
“The ABC murders”
é mais uma produção de excelência da televisão britânica que chegou ao Brasil pelo Globoplay. Nesta versão para o clássico de Agatha Christie, quem se encarrega de viver o detetive belga Hercule Poirot é John Malkovich. Em mais uma grande interpretação, ele tira Poirot da caricatura e revela um fato surpreendente sobre o passado dele. A minissérie ainda atualiza a trama ao abordar a xenofobia, que segue rondando a Inglaterra do Brexit.
Dirigido e supervisionado por
Patty Jenkins
, o programa traz India Eisley no papel de Fauna e Chris Pine no do jornalista Jay Singletary. Na trama, eles se unem para investigar o passado sombrio de George Hodel, interpretado por
Jefferson Mays
, um famigerado ginecologista acusado de incesto pela filha e também o principal suspeito de um famoso crime da crônica policial de Los Angeles: o caso da
Dália Negra
. Em 1947, a prostituta Elizabeth Short foi encontrada em uma vala, com o corpo dividido ao meio e sem uma gota de sangue.
Após o sucesso de
“Mulher Maravilha”
(2017), Patty investiu na história de Fauna porque a conhecera e sentiu o impacto de sua busca pela verdadeira identidade. Além disso, toda a trajetória da mulher que morreu em 2017, aos 66 anos, tinha elementos de crimes reais que costumam atrair o público. A cineasta considera seu filme de estreia, “Monster - Desejo assassino” (2003), sobre a assassina em série Aileen Wuornos
(Charlize Theron)
, sua primeira incursão no gênero:
— O que me atrai no gênero de crimes reais é como essas histórias realmente aconteceram. — diz a cineasta. — É como você enxerga uma cadeia de acontecimentos se passando com pessoas consideradas normais, mas que se desenrolam de modo extraordinário — explica ela, em uma entrevista por telefone.
Veterano de guerra
Pine, conhecido como o jovem capitão Kirk da série de filmes “Star Trek”, assume o papel de Singletary, um ex-veterano de guerra que se torna jornalista e ajuda Fauna a investigar o seu passado. Ele, entre outros elementos e personagens da minissérie, é uma combinação de pessoas que desafiaram o poder de George Hodel, investigaram sua vida e acabaram sofrendo as consequências:
— Ele é um veterano de guerra, alguém que lida com extremos, um cara que chegou no fim da linha e encontra um propósito ao conhecer Fauna. Gosto desse arquétipo — diz o ator, que acaba de filmar com Jenkins sua participação na sequência de “Mulher Maravilha”.
Nos EUA, “I am the night” foi precedido por um podcast contando a saga da família Hodel: “Root of Evil: The true story of the Hodel family and the Black Dahlia” (“Raiz do mal: A verdadeira história da família Hodel e da Dália Negra”, em tradução direta). No programa ancorado pelas filhas de Fauna, Rasha Pecoraro e Yvette Gentile, a história incorpora mais detalhes sombrios sobre o clã, além de se aprofundar no caso da Dália Negra.
— O importante é ter responsabilidade ao contar essas histórias para não resvalar no sensacionalismo ou em um julgamento apressado — diz Jenkins. — Não é por acaso que esses crimes reais ficaram populares. É porque essas histórias, que muitas vezes revelam um lado muito extremo do ser humano, são contadas com mais profundidade.