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'No Limite' volta num mundo regido por redes sociais e spoilers, e aposta no vigor de ex-BBBs

A partir desta terça-feira, reality pioneiro da Globo terá André Marques à frente de 16 rostos conhecidos, em praia cearense
André Marques entre os 16 ex-'BBBs' que estão no novo 'No Limite' Foto: Divulgação/TV Globo
André Marques entre os 16 ex-'BBBs' que estão no novo 'No Limite' Foto: Divulgação/TV Globo

A famosa xepa, tão temida pelos participantes do “Big Brother Brasil”, é agora um luxo na lembrança dos 16 ex-BBBs que compõem a escalação do novo “No Limite”. O programa volta à grade da TV Globo hoje, 21 anos após sua estreia como um fenômeno de audiência, chegando a marcar 56 pontos no Ibope. Rabada, fígado e moela seriam itens de luxo no acampamento dos grupos Carcará e Calango, instalados numa praia no litoral cearense. A realidade por lá é “caldinho sujo”, lembra a cabeleireira Elaine Melo, vencedora da primeira edição, quando teve que dividir uma cenoura, e apenas ela, com outros seis competidores numa refeição.

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Na quinta vez que o formato de reality de sobrevivência é exibido na Globo — um fenômeno popular que povoa também as grades de canais como History e Discovery — , a direção optou por reunir a força do programa pioneiro com o sucesso acumulado no “BBB”, cuja 21ª edição chegou ao fim na semana passada. Os desafios agora são outros, e na briga pelo prêmio de R$ 500 mil pouco importa o que os participantes fizeram antes na “casa mais vigiada do Brasil”.

— Quando chegaram, eles ainda tinham aquela personalidade de ex-BBB. E foi divertido ver como esse personagem se desfez no primeiro desafio que tiveram que enfrentar — relata a diretora geral, Angélica Campos. — Ali, não importa quem eles eram, quanto seguidores tinham, se foram os “queridinhos” do público ou os “vilões” da edição. Nenhum deles viveu alguma experiência próxima do que estão vivenciando agora.

Diversidade

A seleção dos participantes, em sua maioria, tem como foco a performance deles em desafios de resistência no BBB. O sírio Kaysar, por exemplo, entrou para a história em 2018 como finalista da mais longa prova de todas as edições, com quase 43 horas sem dormir, comer ou ir ao banheiro. Aquela edição do “BBB 18”, aliás, é a mais contemplada em “No Limite”: Gleici (a campeã), Paula Amorim, Mahmoud, Viegas e Jéssica estão de volta. Outros, como Gui Napolitano (“BBB 20”), Angélica (“BBB 15”) e Carol Peixinho (“BBB 19”), também obtiveram boas marcas na resistência.

A seleção contempla ainda critérios de diversidade, No total de oito homens e oito mulheres do elenco, nove dos participantes são brancos. Há um competidor assumidamente gay (Mahmoud) e a primeira e única transexual do “BBB”, Ariadna.

Por mais que debates de temas sensíveis que marcaram as últimas edições do “BBB” talvez não apareçam no programa, que é mais de resistência do que de convivência, é de se esperar que eles voltem a movimentar as redes sociais, por conta da escalação, como explica Pablo Moreno, doutor em Ciências da Comunicação e professor da UFMG.

— Vai ser inevitável, pois são discussões que aparecem em todos os programas. Temos um elenco diverso, com muitos participantes negros que eram os únicos de suas edições do “BBB”, muitas mulheres negras, temos a Ariadna que deve puxar mais uma vez o debate sobre transfobia — acredita. — Vai ser interessante pensar no quanto essas pessoas carregam em si suas bandeiras e como elas serão mostradas em outro contexto, de sobrevivência.

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É importante lembrar que enquanto o “BBB” era ao vivo, diário e com transmissão 24 horas por dia, o “No Limite” é um programa que vai ao ar uma vez por semana, às terças-feiras, e o ciclo do jogo acontece todo em um episódio, com um participante eliminado ao final dele. Esta edição contará ainda com o “No Limite — A eliminação” aos domingos, após o “Fantástico”, no qual o apresentador André Marques, que substitui Zeca Camargo, fará uma entrevista com quem deixou a disputa.

— O “No Limite” conversa com diversos públicos. Tem o pessoal que era fã em 2000, mas também tem toda uma geração que não sabe o que é, muitos nem eram nascidos. Nós queremos conversar com todos eles — adianta o diretor artístico LP Simonetti, à frente do reality desde a primeira edição. — Acredito que as principais características, a competição, a superação e a sobrevivência correndo pelas veias, são atemporais, tanto que o formato é um sucesso há tantos anos.

Divididos em duas tribos, isolados, com comida restrita e nenhum conforto, os participantes encaram duas provas por episódio. A primeira tem como objetivo obter privilégios, como comida e outros suprimentos, que vão desde acesso a fogo até um sonhado saco de dormir. A segunda é de imunidade, que dá a um dos times a garantia de seguir completo naquele episódio. A tribo perdedora vai ao portal, onde, em votação secreta, define quem será o eliminado. Ou seja, não adianta mutirão para votos, mobilização em redes sociais... O vencedor será definido pelo jogo.

Olho de cabra?

O fato de ser um programa gravado — só a final será ao vivo — traz outro desafio para a produção em tempos de realidade hiperconectada: os temidos spoilers, o vazamento de informações como o eliminado da semana ou detalhes da dinâmica. Simonetti diz que eles tomam “todos os cuidados para que os spoilers não aconteçam”, mas “mesmo que algum resultado seja adiantado, como tudo aconteceu só se saberá no programa”. Fato é que nem mesmo o apresentador, que diz viver mais um divisor de águas em sua carreira, sabe direito o que vai encarar em cada gravação. A famosa prova da comida, que já fez participantes provarem iguarias como olho de cabra cru, vermes vivos, gafanhotos e cérebro de bode, tem seu cardápio guardado a sete chaves.

— O Boninho já tinha me avisado que muita coisa seria surpresa para mim também, para eu ter o impacto natural, seja quando é bacana ou bizarro. Isso gera em mim uma reação de espectador — conta André, que promete seguir a linha de durão na relação com os concorrentes. — Sou o juiz das provas, não estou ali para fazer amigo.