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'Órfãos da terra': autoras e elenco antecipam detalhes da nova novela das 18h

Trama, que vai abordar drama dos refugiados, tem Herson Capri como um sheik cruel
'Órfãos da terra': Herson Capri e Alice Wegmann como os vilões Aziz e Dalila Foto: Mauricio Fidalgo / TV Globo
'Órfãos da terra': Herson Capri e Alice Wegmann como os vilões Aziz e Dalila Foto: Mauricio Fidalgo / TV Globo

RIO - O corpo de um menino sírio em uma praia na Turquia, que correu o mundo em 2015, foi uma das primeiras imagens a captar a atenção das  autoras Duca Rachid e Thelma Guedes para os dramas humanos decorrentes da crise dos refugiados. Desde então, elas começaram a trabalhar em um folhetim que abordasse a Guerra Civil na Síria. Quatro anos depois, a novela das 18h “Órfãos da terra” está prestes a estrear:  substituta de “Espelho da vida”, a trama entra no ar ainda este semestre.

— Uma outra reportagem que sensibilizou a gente foi de meninas refugiadas que eram vendidas para homens mais velhos, com quem se casavam. Achamos aquilo brutal e encontramos ali uma trama novelesca — conta Thelma.

A partir daí, surgiu a premissa de “Órfãos da terra”. Na história, a mocinha Laila (Julia Dalavia) aceita se casar com o sheik libanês Aziz Abdallah (Herson Capri) na esperança de salvar a vida do irmão  Kháled (Rodrigo Vidal). A moça síria, no entanto, vai se apaixonar por um funcionário de Aziz, Jamil (Renato Góes).

— O Aziz é um vilão muito violento, e acredito que existam homens assim. Ele tem esse lado soturno e ao mesmo tempo destempera, é profundamente autoritário. Ele encontra Laila em um campo de refugiados, onde ia para arrumar empregados que fossem mão-de-obra barata. Ele não precisa assediar as mulheres, porque as compra — diz Herson Capri sobre o personagem, que para ele é o vilão mais poderoso que já fez até hoje.

Ao lado das vilanias de Aziz, estará a sua primogênita, Dalila (Alice Wegmann), filha também de Soraia (Letícia Sabatella).  Prometida a Jamil, ela também tentará separar o casal, ao mesmo tempo em que arquiteta suas artimanhas em um ambiente em que mulheres não costumam ter espaço. Para Alice Wegmann, Dalila é uma moça que, para não ser oprimida, decide oprimir.

— Certamente ela é uma mulher empoderada. Ao mesmo tempo em que tem a tradição, ela também estudou em Londres e tem um lado ocidental. Por isso, ela almeja tanto e opera um jogo de manipulação muito forte com o pai — adianta Alice, que ainda comenta sobre a responsabilidade de viver personagens de outra cultura sem resvalar para o lugar-comum.

— É sempre difícil ficar real, mas a gente tenta o melhor possível. Neste momento de efervescência e de debate sobre assuntos como apropriação cultural, a gente tem que estar com os ouvidos abertos — ressalta a atriz.

A mocinha Laila (Julia Dalavia) com a mãe, Missade (Ana Cecília Costa). As duas virão para o Brasil em busca de um lar seguro Foto: Paulo Belote / TV Globo
A mocinha Laila (Julia Dalavia) com a mãe, Missade (Ana Cecília Costa). As duas virão para o Brasil em busca de um lar seguro Foto: Paulo Belote / TV Globo

Para não cair na caricatura, os atores participaram de uma imersão na cultura árabe que incluiu palestras, aulas de dabke (dança folclórica da Palestina, do Líbano e Síria) e contato direto com refugiados. Durante as gravações em Petrópolis (os interiores do Palácio Quitandinha estão sendo aproveitados como cenário do palácio de Aziz), um consultor libanês orientava os atores sobre como se comportar em cena.

Além disso, a novela tem no elenco um refugiado sírio que já é um rosto conhecido entre os brasileiros: o ex-BBB Kaysar. Ele interpreta Fauze, um dos capangas de Aziz. Refugiados de outros países além da Síria ainda aparecerão em cena quando Laila e sua família chegarem ao Brasil. A protagonista vai frequentar um centro de apoio em São Paulo, onde os participantes irão compartilhar suas histórias de vida.

Enquanto a novela não estreia, o Brasil vive um debate intenso acerca dos refugiados. No começo do mês, o país decidiu deixar o Pacto Global de Migração da ONU, compromisso assinado por 194 países que prevê a colaboração internacional no assunto. As autoras esperam que “Órfãos da terra” ajude a quebrar preconceitos sobre as pessoas impactadas por crises humanitárias.

— Às vezes as pessoas confundem e acham que o refugiado é alguém fugido da terra deles, que é um bandido. São pessoas preparadas, que vem para cá para somar. Muitos são empreendedores. E é importante lembrar, há mais brasileiro saindo do país do que refugiado entrando — destaca Duca.

Ela e Thelma ainda dizem que, por enquanto, o desfecho do folhetim continua completamente aberto — vai depender do desenrolar do próprio conflito da Síria na vida real, que já se encaminha para seu oitavo ano sem final feliz no horizonte.