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'Órfãos da terra': Kaysar revela emoção ao ver realismo de campo de refugiados cenográfico

Para nova novela das 18h, Globo usou equipamentos da ONU em cenas gravadas em Santa Cruz, na Zona Oeste do Rio
O ex-BBB Kaysar é o capanga Fauze em 'Órfãos da terra': refugiado sírio, ele ficou impressionado com realismo de campo montado para a novela Foto: TV Globo/Paulo Belote
O ex-BBB Kaysar é o capanga Fauze em 'Órfãos da terra': refugiado sírio, ele ficou impressionado com realismo de campo montado para a novela Foto: TV Globo/Paulo Belote

O sírio Kaysar Dadour conta que está com dor de cabeça há quatro dias. O motivo é a aparência realista do campo de refugiados montado pela Globo em Santa Cruz, na Zona Oeste do Rio, para servir de cenário à novela “Órfãos da Terra”, que estreia na próxima terça-feira na faixa das 18h.

Ex-participante do Big Brother Brasil, o sírio, que integra o elenco da folhetim, não gosta de contar detalhes sobre a travessia de Aleppo, sua cidade natal, até Curitiba, onde encontrou um primo de seu avô que só vira uma vez na vida até então — com uma passagem pela Ucrânia. Mas ele não esconde o turbilhão de sentimentos que vem com o trabalho numa produção que irá contar histórias de pessoas que, assim como ele, deixaram a Síria por causa do conflito que assola o país desde 2011. Além da namorada, Kaysar conta ter perdido pelo menos vinte amigos por causa da guerra.

— Você quer fechar o passado, e de repente acontece uma coisinha e abre tudo de novo. Eu nunca imaginei isso, chegar no Brasil, fazer uma novela e ter um campo de refugiados, como se fosse tudo real. Achava que nunca mais fosse ver nada disso — comenta ele, que na trama vive Fauze, um dos capangas do vilão da novela, o sheik libanês Aziz, vivido por Herson Capri. — Eu já tive capangas atrás de mim na minha vida, vi o rosto deles. Não é uma lembrança boa. Mas tento pegar isso para construir o personagem.

Um dos motivos de o cenário montado em Santa Cruz parecer tão próximo da realidade para Kaysar é o fato de ele contar com equipamentos que foram de fato usados para receber pessoas em busca de abrigo.

Graças a uma parceria da Globo com o Acnur, alto comissariado da ONU para refugiados, a equipe de cenografia utilizou tendas que anteriormente serviram para receber os venezuelanos que chegavam a Boa Vista, em Roraima (em troca, a emissora forneceu novas unidades habitacionais). O Acnur ainda orientou a equipe da Globo sobre como montar o campo e colaborou com informações diversas sobre o tema.

— Normalmente, o que a gente faz é levantar um campo do nada, como esse daqui. A Globo conseguiu reconstituir um campo tanto nas qualidades quanto nos defeitos — observa Miguel Pachioni, assistente sênior de informação pública do Acnur no Brasil.

Renato Goés nos bastidores das filmagens de 'Órfãos da terra' Foto: TV Globo/Paulo Belote
Renato Goés nos bastidores das filmagens de 'Órfãos da terra' Foto: TV Globo/Paulo Belote

Em “Órfãos da Terra”, Laila (Julia Dalavia) e toda sua família fogem da Síria após terem a casa bombardeada. Embora depois a trama se desloque para São Paulo, onde a família de Laila se estabelece, é num campo de refugiados do Líbano que a vida da mocinha começa a se transformar: lá, ela chama atenção do poderoso sheik Aziz, que quer tomá-la como mais uma de suas esposas, e também se apaixona por Jamil (Renato Góes), um dos funcionários do sheik. Para complicar ainda mais, Jamil é muçulmano, enquanto Laila é católica.

Para Julia, a história de amor no estilo “Romeu e Julieta” da novela também fala de superação.

— Tudo na vida da Laila é difícil, mas acho que ela é como os refugiados com quem eu conversei: todos contam suas histórias sempre com um sorriso no rosto, demonstrando uma superação que é inspiradora — acredita a atriz.

Para Renato, as gravações no campo de refugiados foram um momento importante de imersão em uma outra cultura.

— Para mim, esses dias foram muito bons para observar. Recebemos muitos atores e figurantes sírios e libaneses. Mais do que uma impressão sobre o que é o cenário e a novela, tenho as reações. As pessoas ficam muito impressionadas. E, de certa forma, isso é o mínimo que a gente pode fazer: ser fiel aos detalhes e à cultura deles.

No meio do “deserto” em Santa Cruz, Kaysar era mais um a manter o bom humor em meio à dura rotina de gravações. Ele não escondeu o lado brincalhão, fez piadas e distribuiu caretas. Segundo ele, faltaram apenas “uma rede e água de coco”.

— Sou sírio-brasileiro. Tenho dois tipos de sangue. Aqui, sírio, e aqui, brasileiro — diz Kaysar, que bate em cada braço para mostrar que está bem adaptado à cultura local. — Eu como todo dia arroz e feijão, e adoro. Tomo água de coco, gosto de sambar (ele desfilou pela Grande Rio no carnaval) e adoro funk. Agora não quero mais ir embora daqui. Ninguém me tira.

(Colaborou Leonardo Ribeiro)