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'Questões raciais ainda não foram resolvidas’, acredita Mahershala Ali, de 'True detective'

Em seu primeiro papel protagonista, americano diz não ter prêmios como objetivo e afirma querer impactar espectador com personagens
Para Mahershala Ali, familiaridade com esportes o ajudou na profissão competitiva Foto: Warrick Page / Divulgação/HBO
Para Mahershala Ali, familiaridade com esportes o ajudou na profissão competitiva Foto: Warrick Page / Divulgação/HBO

LOS ANGELES — Mahershala Ali fez sucesso em papéis secundários em “House of cards” e “Luke Cage” e ganhou um Oscar por uma participação pequena, mas inesquecível, em “Moonlight — Sob a luz do luar”.

Na terceira temporada de “True detective” , o ator de 44 anos (cujo nome de batismo é Mahershalalhashbaz Gilmore) faz seu primeiro protagonista. Em entrevista ao GLOBO, ele afirma que ainda é vítima de racismo e diz buscar personagens com profundidade.

Você acha que as questões raciais em 1980 eram muito diferentes de agora?

Certamente. Martin Luther King foi assassinado em 1968. Em 1980, fazia apenas 12 anos de sua morte. Na Califórnia, tivemos a implantação do sistema de ação afirmativa em 1980 porque as pessoas não conseguiam empregos ou até mesmo entrar na faculdade. Hoje estamos introduzindo regras para ajudar a diminuir a diferença entre os sexos, por exemplo. Claro que houve melhora, mas não significa que foi resolvido. Enquanto não for sanado, temos de brigar. Algumas semanas atrás, eu estava na Soho House de Londres (clube privado destinado a artistas) com mais quatro pessoas. Pegaram o pedido de todas elas (que eram brancas) e, na minha vez, queriam checar antes meu número de sócio.

O que quer dizer com os personagens que escolhe?

Não sei se tenho um objetivo claro. Mas acho que, ao longo do tempo, todo artista acaba construindo uma narrativa. Para mim, o mais importante neste momento é que o personagem tenha dimensão. Sempre penso no que o personagem tem a dizer. É algo com que vale a pena perder meu tempo e minha energia?

Você empresta empatia e compreensão a seus personagens. Esse é seu segredo para ser reconhecido com prêmios e elogios?

Tento só fazer o meu melhor. Levo meus personagens a sério. Uso todo tipo de técnica para me conectar a eles o máximo possível, mas sinto que são uma oportunidade de oferecer algo ao mundo, mesmo interpretando alguém que pode ser considerado um vilão. Eu tento fazer com que todos sejam humanos e que o público sinta um conflito em relação àquele cara. Se as pessoas se identificam com o trabalho e acham que é digno de um prêmio ou algo assim, não quer dizer que eu tenha isso como objetivo. Quero mesmo é que as pessoas saiam impactadas. Às vezes eu acerto, e às vezes, não.

Agora que tem tantos admiradores, sente muita pressão para acertar?

Não mais do que a pressão que coloco em mim mesmo. Fui criado assim, ou fiquei assim por conta de meu passado nos esportes. Atuar é competitivo. Não na cena, mas para chegar lá, conseguir os papéis. Eu só quero ser grato por poder estar ali e tentar ser um bom integrante na equipe. Mesmo em algo tão sombrio como “True detective”, passamos por bons momentos.