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'Sob pressão': em nova temporada, médicos vão salvar vítimas de deslizamento em área dominada por milícia

Para Julio Andrade, série médica da TV Globo leva esperança à população
Julio Andrade (Evandro) e Marjorie Estiano (Carolina) na nova temporada de 'Sob pressão' Foto: Globo/Raquel Cunha
Julio Andrade (Evandro) e Marjorie Estiano (Carolina) na nova temporada de 'Sob pressão' Foto: Globo/Raquel Cunha

Há duas temporadas, “Sob pressão” mostrou como poucas produções a realidade da saúde pública no Brasil. Na próxima quinta-feira, a série retorna para a temporada final em um novo ambiente — mas igualmente desafiador. Após o fechamento do fictício “Macedão”, na Zona Norte do Rio, os médicos Evandro (Julio Andrade) e Carolina (Marjorie Estiano) vão trabalhar em uma instituição religiosa em uma área da cidade controlada por milicianos. Em um dos episódios, dezenas de pacientes chegam à emergência após um deslizamento na região — apesar dos paralelos com a recente tragédia na Muzema, o roteiro foi escrito muito antes dos prédios na Zona Oeste desabarem com a chuva forte que assolou a cidade este mês. Para simular a lama, a coprodução da TV Globo com a Conspiração Filmes usou 120 quilos de argila durante as gravações.

— Às vezes, a gente antecipa algum fato real e, em outras, a gente acaba fazendo alguma coisa que já aconteceu. O Brasil é muito previsível — comenta Julio Andrade. Intérprete de Evandro, que vira diretor do Hospital São Tomé Apóstolo, ele conta que o protagonista terá seus limites testados diante do contato direto com os milicianos. Assim como nas temporadas anteriores, os heróis da trama se deparam com encruzilhadas morais, em que são confrontados entre seguir as regras ou arriscar perder vidas.

— Os valores são sempre questionados na série. E o Evandro pende para o lado do paciente. Ele é muito ético, mas tem hora que manda a ética à merda por isso.

O realismo, de fato, é uma marca da série, que é inspirada no livro “Sob pressão: A rotina de guerra de um médico brasileiro”, do médico Marcio Maranhão, que por quinze anos trabalhou em hospitais municipais e estaduais do Rio.

— Não damos floreios. Se a gente pega um texto que está um pouco literário, mudamos e colocamos na nossa boca do jeito que a gente fala. Isso vai trazendo as pessoas para dentro da tela: elas vão se vendo dentro daqueles personagens — defende.

Encruzilhada. Agora diretor de um hospital religioso, o médico Evandro (Julio Andrade) vai negociar com milicianos Foto: Globo/Raquel Cunha
Encruzilhada. Agora diretor de um hospital religioso, o médico Evandro (Julio Andrade) vai negociar com milicianos Foto: Globo/Raquel Cunha

Além das novidades na trama, a nova temporada de “Sob pressão” ainda conta com a estreia de Júlio na direção: com o incentivo do diretor artístico Andrucha Waddington, ele atuou por trás das lentes em dois episódios.

— Fechei o olho e, quando abri, já tinha dirigido dois episódios. Era como se eu tivesse feito aquilo sempre.

Com dramas que representam visceralmente o descaso das autoridades, a desigualdade e a violência do Rio de Janeiro de 2019, “Sob pressão” poderia ter afugentado quem já vive isso na pele. Mas Julio dá sua explicação para a série ter sido tão bem recebida:

—A busca pelo humano atrai as pessoas. Mostramos situações do cotidiano que a gente acompanha e não pode fazer nada. Por outro lado, temos dois personagens que tentam fazer tudo por essas pessoas. Isso gera esperança. O cara se vê na tela e vê que tem gente lutando por eles, e aí se apaixona.