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‘Ter raiva é uma qualidade’, diz Laura Dern, estrela de ‘Enlightened’, de volta ao ar na HBO

Atriz de 45 anos interpreta uma ex-executiva que, depois de um colapso nervoso, quer melhorar o mundo

Laura Dern defende sua personagem na série que ajudou a criar
Foto: Divulgação
Laura Dern defende sua personagem na série que ajudou a criar Foto: Divulgação

LOS ANGELES - Laura Dern não hesita ao defender sua personagem em “Enlightened”, cuja segunda temporada estreia nesta segunda-feira, às 22h30m, na HBO. Para a atriz de 45 anos, Amy Jellicoe não é uma mulher furiosa como aparenta. Pelo contrário: sua raiva tem boas razões. No primeiro ano da série, cocriação de Laura e do também ator Mike White (de “Escola do rock”), a ex-executiva tem um colapso nervoso e, depois de um tempo em tratamento, tenta ter uma vida mais equilibrada, meditar e se conhecer melhor. Nos oito novos episódios da atração, ela agora se empenha em melhorar a vida dos que estão a seu redor: seja a do ex-marido, Levi (Luke Wilson), que finalmente busca ajuda para seus vícios, ou a da população, vítima da poluição provocada pela empresa na qual ela trabalha.

— Amy não é uma pessoa furiosa. No começo da série, ela tem esse colapso nervoso. Mas, na minha opinião, isso acontece porque ela sente tudo, e sente ao mesmo tempo. Todos nós passamos por isso. Basta ligarmos a TV na CNN e vemos que o mundo está se desfazendo, à beira do caos. Vivemos beirando o choro o tempo todo. Nossos entes queridos não conseguem empregos, há desastres horríveis no mundo, guerras... — acredita Laura, premiada com o Globo de Ouro de melhor atriz de série cômica ou musical no ano passado pela atração.

Lidar com tantos sentimentos em cena, diz a atriz, é catártico, de uma certa forma. Filha dos também atores Bruce Dern e Diane Ladd (que, na série, interpreta Helen, mãe da personagem de Laura), ela conta que série a faz se confrontar com sua própria criação.

— Ter raiva é uma qualidade. Fui criada numa família católica, na qual garotas boazinhas não tinham este sentimento; só meninas malvadas e mesquinhas. Muitas mulheres me param nas ruas e dizem “Nossa, eu sou tão Amy!”. A maioria das pessoas vive numa eterna luta — acredita Laura, que diz perceber uma certa diferença no tratamento dado a homens e mulheres em relação a este tipo de atitude. — Vemos muitos homens raivosos nos filmes e na TV, mas esta parece ser uma qualidade pouco atraente em mulheres. Então, para mim isso também é interessante, porque eu mesma sempre enterrei estes meus sentimentos. Quando as gravações terminam, é muito cansativo, mas também muito catártico.

Praticante de meditação transcendental desde os 18 anos, Laura (ex-mulher do músico Ben Harper), assim como sua personagem em “Enlightened”, é do tipo que luta por suas causas. Ativista e declaradamente a favor do presidente americano reeleito, Barack Obama, ela se destacou jovem ainda nos cinemas, em uma parceria que se tornaria, com os anos, uma amizade. Diretor de “Veludo azul”, longa que a atriz estrelou aos 17 anos, David Lynch hoje é mais que um amigo.

— Ele é minha família. O vejo o máximo que posso, e trocamos mensagens de texto pelo celular o tempo todo. David foi uma das grandes influências em minha vida: ele me conheceu muito jovem, e me guiou de forma que eu não tivesse limites ou fronteiras como atriz. É um artista que está em constante criação — elogia.

Trabalhar com diretores como Lynch e Paul Thomas Anderson (em “O mestre”, indicado a três Oscars neste ano) e, ainda, poder encarnar personagens “complicados, que exploram a área cinza entre uma coisa e outra”, agradam à atriz, mãe de dois filhos:

— Minha experiência de vida indica que há sempre uma tristeza em coisas complicadas, mas também algo de bom, que me interessa. Fui criada por dois atores e cresci admirando filmes com personagens cheios de falhas de caráter, como “Rede de intrigas” e “Perdidos na noite”. Agora vemos filmes com superpais, e gente salvando pessoas de prédios pegando fogo! Então eu tenho que interpretar personagens que eu acredite que as pessoas possam se relacionar.

Ela conta que, pela primeira vez, se sente como em uma novela, tal a identificação com o público.

— É uma coisa muito íntima. Não me incomodo e acho curioso. “Enlightened” é uma espécie de antídoto para séries com mulheres duronas, policiais, detetives, advogadas ou médicas, tudo que vemos por aí e, muitas vezes, brilhantemente feito. Ou atrações em que as protagonistas estão prestes a fazer 40 anos e querem encontrar um marido e ter um filho a qualquer custo. Amy é problemática, mas quer ser uma pessoa melhor e usar sua voz para fazer diferença no mundo. E é isso que veremos muito nesta segunda temporada. Será divertido.